PARADOXOS DO COTIDIANO
Indicaria com satisfação aos universitários pensantes de hoje, para os demais apenas piedade, os ensaios de Saul Smilansky, professor de Filosofia da Universidade de Haifa, Israel. Que estão sendo aplaudidos, escrevendo o autor para publicações especializadas do mundo. Editado este ano no Brasil pela Tinta Negra Bazar Editorial, o livro 10 Paradoxos Morais é prato cheio para quem aprecia quebra-cabeças intelectuais classificadas como “pequenas lições para grandes problemas”.
Os paradoxos do Smilansky emulam comportamentos condizentes com os desafios enfrentados por uma juventude acadêmica que ainda não percebeu, em sua grande maioria, que o ambiente universitário não mais é a reprodução dos cenários vivenciados nos dois primeiros graus de ensino. Quando atitudes pueris eram tidas e havidas como positivamente correlacionadas com a série escolar vivenciada e a idade cronológica de cada discente, então deslumbrado pelas novidades oferecidas pelos derredores.
Questionamentos explicitados na orelha do livro servem de excelente aperitivo: “Quando acontecimentos ruins acabam por trazer sorte, eles podem realmente ser considerados infortúnios?; Por que a chantagem é tão moralmente desprezível quando ela não é ilegal?; É correto ficar feliz por algo ruim ter acontecido?; Por que a Justiça costuma ser mais severa com os criminosos que merecem penas mais brandas?”. Questionamentos contraditórios que desafiam a racionalidade dos que apenas imaginam cenários dicotômicos (certo/errado, corpo/alma, sim/não, homem/mulher).
Os ensaios de Saul Smilansky são sedutoramente indutores. Sugerem novos pontos de vista para situações contemporâneas, questionando sobre se eles são prejudiciais ou benéficos à atual moral planetária. E vai mais além: assegura o quanto a filosofia pode se tornar prazerosa e esclarecedora numa contemporaneidade repleta de turbulências, às vésperas de uma cada vez mais diferenciada mundialização econômico-financeira.
Os elogios sobre o autor são inúmeros. Apenas duas amostras: “O livro de Smilansky é excelente. Seu texto é claro, ele evita terminologias desnecessárias. Suas ideias são baseadas em exemplos cotidianos. O autor chama atenção para problemas que são constantemente negligenciados”; “Os exemplos de Smilansky são provocadores e ler seu texto é um prazer. Precisamos abrir nossas mentes para os casos que ele descreve, e encontrar novos pontos de vista constitui um tipo de progresso na vida moral”.
Concluída a leitura de 10 Paradoxos Morais, lembrei-me do que disse Albert Schweitzer, ao receber o Prêmio Mundial da Paz, em Oslo, 1952: “O homem tornou-se um super-homem…Mas super-homem com poderes sobre-humanos que não atingiu o nível de razão super-humana…. Impõe-se sacudir nossa consciência ao fato de que nos tornamos tanto mais desumanos quanto mais nos convertemos em super-homens”. E da constatação feita por Erich Fromm: “Somos uma sociedade de pessoas notoriamente infelizes: solitários, ansiosos, deprimidos, destrutivos, dependentes — pessoas que ficam alegres quando matamos o tempo que tão duramente tentamos poupar”. Dois pensares que poderão auxiliar universitários na descoberta de outros horizontes após leitura de Saul Smilansky. Mais ecológicos, mais entrosado com cenários dignificantes, onde a aldeia global é o domicílio deste século.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 24.08.2012
Fernando Antônio Gonçalves