PARA UM XARÁ BISPO, COM CARINHO
Caríssimo Dom Fernando Saburido:
Não o conheço pessoalmente, mas sobre a sua pessoa já recebi, em inúmeras oportunidades, elogios portentosos de Dom Filadelfo Oliveira, nosso bispo anglicano até pouco tempo, atualmente titular na Diocese Anglicana do Rio de Janeiro. Ele, por diversas vezes, sintetizava em poucas palavras a sua pessoa: sincero, sereno, gestor, caráter, ecumênico e helderista.
O bispo Filadelfo, também um bom pastor helderista à sua maneira, quando entre nós repetia frequentemente umas frases do saudoso Dom Hélder Câmara, aquele que ordenou o senhor em tempos não distantes. Uma pequena amostra: “Depois de intensa escuridão, mais radiante é a madrugada”; “A maior e mais grave das imprudências é a própria prudência que se fia em si, se torna calculista e prescinde das loucuras de Deus”; “Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”; “Não te deixes dilacerar entre o ontem e o amanhã. Vive sempre e apenas o hoje de Deus”; “Há pessoas que, independentes de idade, pelo que são, pelo que dizem, pelo que fazem são sempre meio-dia”; “Não bastam que os pobres te conheçam e te saibam o nome; é importante que tu os conheça e lhes saiba a história e lhes saiba o nome”. Certamente o senhor já percebeu qual o livro de cabeceira do bispo Filadelfo Oliveira. As frases por ele citadas foram extraídas de Mil Razões para Viver, uma edição 1978 da Civilização Brasileira.
Abraço-o com toda fraternidade, já confirmando minha presença nas solenidades públicas da sua posse como Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, com meus irmãos cristãos de todas as denominações, com o pessoal do Igreja Nova, os integrantes da Associação Padre Henrique, o meu irmão João Pubben, os amigos padres Edwaldo e Reginaldo e os componentes da ex-Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese, entre os quais me incluo, com todos aqueles que o senhor já conhece há muito tempo, desde quando, entre nós, exercia as funções de Bispo Auxiliar.
Estou convicto que o irmão bispo e xará, em suas ações, andanças e falas, favorecerá reencontros substantivos, que deverão se agigantar ainda mais para o Pai. Suas falas e gestos concretos expressarão o mais puro ideal do Homão da Galiléia, nosso Irmão Libertador, sempre a reconhecer a urgência perenemente restauradora dos princípios basilares.
Sem intenção de julgar quem quer que seja, tenho confiança na sua serenidade pastoral, jamais renegando suas tarefas de ser luz do mundo para todos os que pelejam por vida e vida em abundância.
Saberá o irmão bispo conviver com as mais diferenciadas categorias sociais, percebendo os hipócitas e os fingidos que se travestem do que não podem ser, sempre de braços abertos para os que do Senhor se aproximarem, buscando novos comportamentos e salutares conversões.
Tal e qual um bom médico humanista, o irmão bispo xará buscará restaurar a fé dos desestimulados, promovendo a solidariedade de uns para com os outros, sem jamais exigir carteirinha denominacional dos seus admiradores, prometendo estar sempre presente nos grupos que desejam ardentemente participar.
Como excelente ajuntador especial de mentes e corações, o irmão bispo ficará alerta diante dos egocentrismo que corroem a grandeza d’alma, dilapidando as candeias individuais que deveriam iluminar as veredas planetárias e os descampados das estruturas cósmicas. E de vez em quando repetirá Isaías para todos nós, aquele que denunciava sem contemporizações os que oravam apenas da boca para fora, distanciados do coração, considerando os ensinamentos religiosos apenas rituais ditados por alguns de outras eras.
Continue, meu irmão bispo, cada vez mais socialmente atento, a proclamar o anúncio do Senhor Jesus: o de que não há mais judeu, nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, posto que todos estão sob as bênçãos de um Criador que não tem nem cabelo, nem barba, nem bigode, tampouco traje e rosto, sendo eternamente glorificado sob o inefável codinome Eu Sou O Que Sou.
Que o Senhor Jesus o cubra sempre de múltiplas Graças, irmão bispo xará. Para empreender um caminhar reconstrutor sem nostalgias fóbicas. Sempre aglutinando. Jamais desmerecendo as alegrias que inundam os que, durante mais de duas décadas, desejavam respirar a Luz.