PARA TEMPOS DE MUTAÇÕES


Muitos desconhecem a existência de estudos da base neural da espiritualidade e da emoção religiosa. São denominados Neuroteologia, ou Bioteologia ou Neurociência Espiritual, cuja meta principal é a descobertas dos procedimentos que produzem experiências espirituais ou religiosas, relacionando-as com os padrões de atividade no cérebro de cada ser humano.

A Neuroteologia tenta explicar as experiências que são popularmente chamadas de “espirituais”, religiosas ou místicas, envolvendo várias sensações: união com o Universo, encontro com alguma entidade superior, êxtase, iluminação e estados alterados de consciência.

Segundo estudos científicos, a Neuroteologia poderá reconciliar dentro em breve religião e ciência, desenvolvendo métodos seguros de indução a experimentações espirituais para pessoas que possuem dificuldades em vivenciá-las. Os efeitos causados poderão tornar as pessoas mais felizes, mais saudáveis, através de um ampliado nível concentracional.

Em junho de 2003, por ocasião do centenário do italiano Gustavo Rol, considerado o maior sensitivo do século XX, foi constituída a SENT – Sociedade Européia de NeuroTeologia, o termo “neuroteologia” sendo instituído em abril de 2000, de conformidade com os estudos, vida, experiência e doutrina Do próprio Rol, já eternizado. Que foi definido como médium, mago, advinho e mestre, muito embora ele próprio recusasse ser incluso em qualquer categoria. Dizia ele: “eu sou uma pessoa normal. Não tenho nada a que ver com os médiuns, curadores ou espíritas. … Os meus modestos experimentos fazem parte da ciência. São coisas que no futuro todos os homens poderão realizar”. E disse mais: “Talvez eu possua o dom da intuição profunda e sensitiva, e percebi isso desde quando eu era jovem. Não sou um mago. Não acredito na magia… Tudo aquilo que sou e que faço vem de lá de cima. Todos nós somos uma parte de Deus. E quem me pergunta por que faço certos experimentos respondo: os faço exatamente para confirmar a presença de Deus”.

Com um século XXI em evolução, torna-se imprescindível o desenvolvimento de novas formas de espiritualidade. Que sejam compatíveis com os tempos de mudança, quando “o encontro atual das culturas e das religiões permite a um crescente número de cristãos comprometer-se com a alteridade religiosa”, como bem ressalta texto publicado recente pela Loyola, intitulado Fora da Igreja também há salvação. Da lavra de Richard Bergeron, professor emérito da Faculdade de Teologia da Universidade de Montreal, Canadá, também fundador e presidente do CINR – Centre d’Information sur les Novelles Religions, instituição destinada à análise crítica e ao discernimento diante do pluralismo religioso e espiritual.

No prefácio do livro do Bergeron, leitura inadiável para os que possuem uma consciência dialogal interreligiosa, Fabrice Blée, da Universidade de Ottawa, assim se posiciona claramente: “O ardor do espiritual não conhece fronteiras e se recusa a qualquer compromisso caso sua liberdade e seu poder de libertação sejam entravados de algum modo. A bem da verdade, o espiritual se enraíza mais no maravilhamento do que na convenção, antes na atenção ao outro do que na pertinência erudita a uma comunidade bem definida”. E ainda disse: “O que podemos fazer é dar-nos os meios de orar juntos, de aproximar-nos sempre mais uns dos outros em torno do mistério que nos une, no qual cada um reconhece, além disso, uma espiritualidade do diálogo, uma espiritualidade cristã que faça coincidir sua relação privilegiada com o divino, com a acolhida de uma visão do mundo e de uma experiência religiosa diferente”.

Não basta esperar, o momento é chegado. Como seria maravilhoso um congraçamento dos segmentos divididos que um dia já trabalharam sob uma mesma bandeira, unidos sob a inspiração de um só Espírito, o de Deus Pai! Com menos pactos hipocritamente assinados e mais fraternidade nunca-fingida!

(Jornal do Commercio, Recife, PE, 24.03.2010)
Fernando Antônio Gonçalves