PARA QUE NÃO SE REPITA


Um jovem diplomata polonês, após a invasão da Polônia pelas tropas assassinas nazistas, recebe uma importante missão: a de servir como mensageiro entre o governo polonês no exílio e a resistência interna estabelecida no país invadido, um dos movimentos mais bem articulados da Europa dominada pelo III Reich.

Por sua atuação durante quatro anos o jovem diplomata recebeu o título de “Justo entre as Nações”, concedido pelo Instituto Yad Yashem (Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto), além da cidadania honorária israelense. Com o fim da guerra, emigrou para o Canadá e depois para os Estados Unidos, onde concluiu seu doutorado, tendo sido professor da Universidade de Georgetown por quase quarenta anos.

O nome deste herói é Jan Karski (1914-2000) e ele saiu do esquecimento em outubro de 1981, por ocasião da Conferência Internacional dos Libertadores dos Campos de Concentração, organizado pelo Conselho Americano do Memorial do Holocausto, quando deu testemunho público do extermínio que tinha observado no verão de 1942. Sua conferência possuía como tema “A descoberta da existência do plano da Solução Final”, abordando três grandes questões: a. O que e quando os dirigentes e a opinião ocidentais ficaram sabendo?; b. Como as informações chegaram a eles?; 3. Qual foi a sua reação? Quais foram as provas?

Sua palestra embasava-se em livro de memória por ele escrito em 1944, intitulado Story of Secret State, publicado nos Estados Unidos, numa tiragem de 400 mil exemplares, logo esgotada e imediatamente reeditado na Grã-Bretanha, traduzido para o sueco em 1945, para o norueguês em 1946 e para o francês em 1948. Em outubro de 1981, dezembro, o deputado estadunidense por Nova York Stephen J. Solarz pediu que o texto integral da conferência de Jan Karski constasse da ata da sessão, assim se pronunciando: “Quando a guerra chegou ao fim, entendi que nem os governos, nem os líderes, nem os intelectuais, nem os escritores sabiam o que tinha acontecido com os judeus. Eles se mostraram surpresos. O assassinato de seis milhões de seres inocentes era um segredo. … Neste dia, me tornei judeu, como a família de minha mulher, presente aqui nesta sala. … Sou um judeu cristão. Um católico praticante. E, embora não seja um herege, acredito que a humanidade cometeu um segundo pecado original: cumprindo ordens, por negligência, por ignorância autoimposta, por insensibilidade, por egoísmo ou por hipocrisia, ou, ainda, por frieza calculista. Este pecado assombrará a humanidade até o fim do mundo. Esse pecado me assombra. E quero que seja assim”.

(Publicado em 19.09.2015, no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco)

Fernando Antônio Gonçalves