PARA PAIS E MÃES DE ADOLESCENTES


Com muita frequência, deparo-me com mães e pais de jovens adolescentes incrivelmente distanciados das suas responsabilidades para com os “eus” dos seus filhos. De todas as classes sociais, imaginam que a rua e a escola ensinam, não necessitando ministrar quaisquer diretrizes para com seus rebentos, presas fáceis de sabidões e espertos, muitos deles marginais de bom calibre. Na área da sexualidade, então, o problema beira do ridículo ao inacreditável, o individualismos dos pais estacionado muitos furos acima de uma convivialidade mínima instrutiva por derradeiro.

Consultando profissionais especializados, deles recebi algumas orientações bibliográficas. Duas delas me chamaram a atenção. Uma da cada vez, então.

A primeira, História da Sexualidade, de Peter N. Stearns, SP, Contexto, 286 p., possui uma Introdução do próprio autor aos leitores brasileiros. Que se inicia assim: “Este é um livro sobre a sexualidade no passado e sobre como a sexualidade no passado ajuda a explicar a sexualidade no presente”. … “A sexualidade é um elemento importante da condição humana, e sua história pode e deve ser investigada a partir dessa perspectiva, sem a intenção deliberada de excitar ou ofender” … “O ponto principal e a razão-chave para o estudo da história da sexualidade envolvem saber até que medida as sociedades, incluindo a nossa, ainda estão reagindo à mudança histórica, por meio de comportamentos sexuais e valores contemporâneos, além de debates invariavelmente ferozes”. O livro é composto de três parte: A sexualidade antes da época moderna, A sexualidade no mundo moderno (1750-1950) e A sexualidade na era da globalização. O livro analisa também a influência ocidental na América Latina, proporcionando o surgimento de revistas femininas, novelas de televisão, mudanças no vestuário e os serviços de terapia sexual, alterando comportamentos machistas e favorecendo manifestações feministas dos mais variados calibres, o sexo pré-marital, as manifestações homossexuais, a redução da natalidade e a proliferação dos anticonceptivos.

A segunda publicação complementa bem a primeira. A História da Virgindade, Yvonne Knibiehler, SP, Contexto, 2016, 224 p., analisa alguns posicionamentos contraditórios: numa pós-modernidade, quando se proclama que a virgindade “já era”, por que aumenta a procura de jovens por clínicas médicas para reconstituírem o hímen, incentivada pelo movimento No Sex norte-americano, que revaloriza a virgindade, também na esperança de limitar o número de adolescentes grávidas e frear a propagação da Aids. Até uma famosa personagem do mundo social dos EEUU, conhecida internacionalmente pelos escândalos sociais provocados, declarou que, se novamente contraísse matrimônio, reconstituiria o hímen. Em contraste com um anúncio de jornal, onde uma jovem leiloaria sua virgindade para financiar seus estudos universitários. O livro traz uma Introdução – O que é virgindade? – e cinco outras partes – A virgindade mítica, A glória de Deus e o valor das virgens, O apogeu da virgindade feminina, A dessacralização e O novo contexto, incluindo aqui as tradições no ambiente muçulmano, onde o hímen tem valor como documento de identidade, os irmãos exercendo uma poder fiscalizador muitas vezes violento. O livro narra o que aconteceu com uma jovem imigrante muçulmana em 2002, em Vitry-le-François, vitimadas por queimaduras terríveis infligidas por um idiota sectário local, de nome Djamel, 19 anos, para “dar exemplo”.

As atuais autoridades religiosas, as mais contemporâneas seja ressaltado, lembram frequentemente que o pudor fundado na ignorância não tem nenhum valor moral, como no romance As semivirgens, do romancista Marcel Prévost, que denuncia “as moças ingênuas, confeitadas de devoção arrepiadas de vergonha diante do sexo”.

A cultura rural ainda é recheada de muitas ingenuidades, muito embora as comunicações televisivas tenha reduzido bastante o desconhecimento sobre o assunto sexo. Conta-se que, um idiotinha machista da capital decidiu casar-se com uma jovem do campo por considerar um casamento mais sadio, posto que ela não teria qualquer “vício”. Encontrou uma, casou-se e na noite de núpcias, mostrando seu instrumento à esposa, informou-lhe que “aquilo” se chamava pênis, no que rebatido pela noiva: – Não, amor, isso é um pintinho. Pênis é o de um primo meu, que é deste tamanho!!

Que os senhores pais percebam que o mundo atual se encontra sob a bandeira da dromologia (ciência da velocidade), não mais sendo cabível transmitir aos mais jovens conceitos e expectativas já amplamente superados, favorecendo o predomínio do que transmitido pelas ruas, proporcionando mais preconceitos e informações nada verdadeiras. Caberá a eles algumas tarefas inadiáveis no conviver com seus filhotes. Escolhi seis: 1. Destruir as barreiras das mediocridades educacional e religiosa; 2. Libertar a inteligência; 3. Identificar bem convivialidade e conflitividade; 4. Ter princípios, jamais medos, receios, imitações acríticas; 5. Exercer a criatividade; e 6. Ser consumidor das indispensáveis vitaminas A (Amor) e H (Humor). Para não resvalar para situações “trágicas”, como aconteceu naquela festinha escolar, quando a professora de geografia perguntou à meninada qual era a coisa mais pesada do mundo. Que a Moniquinha respondeu que era “o pinto de papai”, assim justificando: – Outro dia, quase meia noite, eu ouvi maínha dizer para pai: – Essa, nem Jesus levanta…

Reconhecer-se uma metamorfose ambulante, a la Raul Seixas, é função obrigatória de mães e pais que se desejam ver como educadores de filhos.

(Publicado em 28.03.2016, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com/sempreamatutar)
Fernando Antônio Gonçalves