PARA LER, GOSTAR E SE ENTURMAR


Para quem conhece a coleção “A Vida no Mundo Espiritual”, lavra do Chico Xavier e do Espírito André Luiz, seguramente confirmará a reputação dela ser requisito basilar que enseja ler uma interpretação convincente das obras principais da Doutrina Espírita do Allan Kardec e dos textos mais consagrados dos autores que tratam de temas amplamente difundidos, onde se destacam Dragões e Legiões; Segunda Morte; Casamento no Plano Espiritual; Equipamentos e Armas Utilizadas no Plano Espiritual; Ovoides; Inversão Sexual; Animais no Plano Espiritual; Redução do Perispírito; Consequências dos Vícios para o Espírito; Meios de Transporte dos Espíritos; Dinheiro, Propriedade e Documentação no Plano Espiritual; Criações Mentais; Outros Planetas; e muitos outros.

Para ampliar as assimilações “enxergantes” de iniciantes e já reciclados, um livro recente está provocando releituras sucessivas das obras da dupla Chico Xavier/André Luiz: Nas Trilhas de André Luiz: assuntos relevantes, temas curiosos, casos interessantes, Jorge Reis, Ribeirão Preto, SP, Editora Dionisi, 2017, 300 p. Um nascido em Patamuté, sertão baiano, pós-graduado em Auditoria e Administração Financeira, professor universitário e aposentado do Serviço Público Federal, atualmente Diretor da AME – Associação Maternal Espírita, São José dos Campos (SP). Também produtor e apresentador do programa de rádio Vivência Espírita, Rádio Piratininga 750 AM, naquela cidade.

Numa Introdução chamada “NasTrilhas de André Luiz”, o Jorge Reis explica sem lero-lero: “Os Espíritos Superiores deixam claro, também, que a Codificação Kardequiana não traz o ensinamento completo, ou seja, é apenas o começo de uma nova era para a humanidade, pois a ciência ainda teria muito a descobrir e o homem muito a aprimorar no seu conhecimento moral e espiritual.” E deu testemunho: “Entre os maiores divulgadores da Doutrina Espírita podemos citar os brasileiros Bezerra de Menezes, que se configurou como um missionário cuja tarefa seria a de preparar a sociedade brasileira para acolher a semente do Espiritismo; Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo do bem, um espírito destinado a entrar para a história da educação espírita em todo país; Francisco Cândido Xavier, o homem chamado amor que, definitivamente, com ajuda de seus mentores, trouxe o Plano Espiritual para o mundo real.”

No prefácio do livro, o Fábio Alessio Romano Dionisi faz um alerta sobre aqueles que, na Lide Espírita, se imaginam de pleno conhecimento sobre tudo, não mais precisando reestudar determinadas áreas ainda não devidamente assimiladas, fazendo lembrar o notável Stephen Hawking, uma dos maiores gênios da atual safra planetária: “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão de conhecimento.” Em outras palavras: “À medida que ampliamos nossos conhecimentos, adquirimos meios que nos permitem encontrar, nas entrelinhas, ‘sementes’ deixadas para o tempo em que a ciência e o nosso discernimento pudessem germiná-las.”

Outro dia, três quinzenas atrás, uma pesquisa me deixou profundamente impactado: o brasileiro obteve o penúltimo lugar entre os povos que menos apreendem a realidade. Uma gente disleriada, na classificação clássica do notável Jessier Quirino, um tampa nordestino que sabe onde tem o nariz, na crítica necessária aos nossos comunitários abestalhamentos socioculturais.

O saudoso economista Celso Furtado, primeiro superintendente da Sudene, costumava alertar seus subordinados recém chegados da Cepal e outros rincões estrangeiros: “O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Mas será que o triângulo é retângulo?”. Um questionamento aos que, sem uma mínima bagagem humanística, imaginavam equacionar os problemas sociais do Nordeste através de equações econométricas cabeludérrimas, sem atentar dois mil réis para as condições psico-comportamentais de uma gente eivada de superstições, carregando um sem-número de “deus quis” e “se deus quiser”, mesclando tudo com “cumade fulosinha”, “perna cabeluda”, “sexta-feira 13” e outros trejeitos de nula validade.

A Filosofia ainda hoje, cada vez mais ofuscada por tecnologias entusiasmantes e temporárias por derradeiro, necessita ser mais apreendida por todos aqueles que buscam exercitar uma cidadania competente e uma profissionalidade efetiva para não se perder nas encruzilhadas nevoentas e embaraçosas para quem não é possuidor de um discernimento compatíveis para os enfrentamentos dos amanhãs cada vez mais complexos de uma conjuntura turbulenta por derradeiro.

Recordando com amigos os papos com o escritor Nilo Pereira, quando ele era presidente do Conselho Estadual de Cultura, admirando sua densidade humanística, seu estupendo bom humor, religião e política assuntos sempre descartáveis das conversas semanais, tomei conhecimento de um livro pra lá de oportuno para os tempos atuais, quando até parlamentar preso é flagrado, depois de uma folga, com queijos e biscoitos no fundo da cueca, descaradamente, sem qualquer pudor legislativo, a merecer indianamente chicotadas no rabo, umas duzentas.

O livro, Crer e saber: pensar o político, o moral e o religioso, Raymond Boudon, SP, Editora Unesp, 2017, 298 p., é considerado obra testamentária do pensador francês (1934-2013), tido nos ambientes acadêmicos sérios como um dos mais importantes cientistas sociais contemporâneos, conhecido mundialmente pelas suas pesquisas sobre mobilidade social e desigualdade de oportunidades, também pela defesa do individualismo metodológico. Segundo explicita a orelha do livro, “Boudon realiza uma síntese notável dos temas centrais de sua trajetória intelectual, complementada por uma apreciação da sociologia clássica, procurando dar mais sistematicidade às suas análises, aprofundando a relação entre considerações teóricas e estudos sociológicos quantitativos.”

Decididamente, o livro do Boudon é um livro para não abestados, “de nariz arrebitado”, como dizia minha avó e madrinha Zefinha, de Barreiros – PE, uma semianalfabeta de QI pra lá de arretado!!

(Publicado em 04.06.2018 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves