PARA ENTENDER MELHOR A CRISE MUNDIAL


Sem fobias direitosas nem apologias esquerdosas, um professor de História Moderna da Universidade de Oxford, David Priestland, estruturou um texto de muita valia para todos aqueles que buscam compreender uma ideologia de múltiplas vertentes – romântica, radical, modernista … – a depender dos respectivos contextos locais, cujas raízes, segundo ele, se fincaram após a eclosão da Revolução Francesa: o comunismo.

Segundo Priestland, “o comunismo em sua velha fórmula tem sido desacreditado, e não irá retornar como um movimento poderoso. Mas a época atual, em que o capitalismo globalizado está em crise, é ideal para rever também as razões pelas quais falhou. Para compreender as origens do comunismo, precisamos começar com as agitações durante o primeiro desafio prometeico à supremacia de Zeus da era moderna – a Revolução Francesa”.

Na primeira década deste século, dois eventos trouxeram o assunto “comunismo” de volta: a destruição das torres gêmeas, em Nova York, a 11 de setembro de 2001, embora os terroristas islâmicos fossem militantes antimarxistas, e a falência do banco americano Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, com sua crise financeira demonstrando que a era pós-1989 não havia proporcionado estabilidade nem prosperidade sustentáveis e duradouras. Na Alemanha, as vendas de O Capital se multiplicaram sucessivamente, atraindo as críticas feitas por Karl Marx à desigualdade e à instabilidade provocadas pelo capitalismo global sem controle.

O autor também analisa os diversos marxismos e suas vantagens e desvantagens particulares para o comunismo, desde o radical, aquele das massas mobilizadas, até o modernista, combinando planejamento central com o mercado, amortecendo a violência e adotando estratégias mais liberais.

Sob título A Bandeira Vermelha – a História do Comunismo, editora Leya, o livro descreve as quatro fases históricas principais da ideologia: da França para a Alemanha e a Rússia, depois para a China e o Sudeste Asiático, depois da Segunda Guerra Mundial, depois para o “sul” global: América Latina, África, Oriente Médio o sul e o centro da Ásia nas décadas de 1960 e 1970, retornando à Europa para finalizar na perestroika e no seu colapso vertiginoso, a partir da derrubada do Muro de Berlim, 1989. Desnudando os Estados “supostamente dedicados à causa dos pobres e oprimidos”, que acalentavam em muitos milhões, após dois séculos, desde a conquista da Bastilha, uma concepção visionária, onde “os deserdados da terra iriam criar uma sociedade baseada na harmonia e na igualdade”.

No livro do Priestland também são explicitadas ideias, atitudes e comportamentos dos próprios comunistas, também se observando os que por eles foram governados. O texto está desenvolvido em ordem cronológica não estrita, principiando com a Revolução Francesa, pois, segundo o autor, “nela se pode identificar, pela primeira vez, os principais elementos da política comunista”, embora com Marx e Engels tivessem sido estruturadas as convergências entre rebelião, razão e modernidade, sem as amarras jacobinas.

Uma advertência final do autor, para não ser posta no baú dos relaxamentos: “Reagindo com intensidade contra as utopias comunistas, os líderes dogmáticos messiânicos procuraram exportar seu sistema – às vezes pela força – por todo globo. Talvez só agora, pressionados pela crise de 2008, possamos finalmene aprender com a história do comunismo. Somente se fizermos isso poderemos ser poupados de mais um ato sangrento na tragédia de Prometeu”.

Na capa do livro, uma chamada sedutora: “Numa época em que a própria ordem pós-Guerra Fria está em crise e entramos numa nova fase de política global e de incertezas econômicas, A Bandeira Vermelha é uma leitura fundamental”. Excelente oportunidade de se repensar os nossos amanhãs planetários, perpertuando nossos sonhos de uma paz mundial, apesar das conflitividades sempre emergentes.

(Publicada em 23/07/2012, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves