PARA BINOCULIZAR MELHOR
Estou absolutamente convencido de que estudar filosofia em muito desenvolve as habilidades do ser humano, favorecendo-o num caminhar profissional melhor edificado, onde a capacidade de pensar favorece argumentos decisórios capazes de fortalecer empreendimentos existenciais. Entretanto, o ensino de Filosofia traz algumas aporrinhações, quer pelos livros herméticos, quer pelos professores que se sentem, a grande maioria deles, como um ser acima de todos os mortais, desfavorecendo uma cativação didática que muito ampliaria uma enxergância juvenil mais promissora, ampliando o respeito pela disciplina, fortalecendo simpatias múltiplas pelas comunidades escolares.
Atualmente, inúmeros são aqueles que, como eu, carecem de leituras mais consistentes de Filosofia, dado um aprendizado frágil acontecido no colegial, quando as ciência exatas eram mais sedutoras que os “folhosos” livros dos pensadores de todos os tempos.
Nos últimos tempos, entretanto, compêndios de filosofia de agradáveis leituras surgiram nas boas livrarias brasileiras. Um deles, Se Liga na Filosofia, Marcus Weeks, SP, Globo, 2014, proporciona amplos alicerces cognitivos sobre variadas questões filosóficas, onde a prática “implica tentar descobrir, da melhor forma possível, o que é verdadeiro ao usarmos nosso poder de razão – ou do pensamento lógico”. Esclarecendo ainda que “as atividades desenvolvidas ao filosofar são úteis em todas as áreas, desde fazer uma apresentação até negociar um importante acordo empresarial”.
O papel dos estudos filosóficos é proporcionar, através de reflexões consistentes e solidamente embasadas, mudanças em nossas crenças, posto que “quando era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino, deixando para trás as coisas de menino quando adulto me tornei”, segundo lição magistral do apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios (1Cor 13,11), quando ele também ensinou que “cada um deve estar plenamente convicto da sua própria mente” (Rm 14,5).
Muitos ainda não captaram a diferença existente entre filosofia e ciência. Enquanto esta última procura sempre nos esclarecer como as coisas são, a filosofia nos orienta para como as coisas deveriam ser. A filosofia trata de distinguir, da melhor maneira possível, o que é verdadeiro ou falso, através do pensamento lógico. As crenças, adquiridas culturalmente através dos tempos, podem ser alteradas, desde que sejamos capazes de alterar nossos modos de pensar, ajustando-os às exigências de uma contemporaneidade sempre evolucional. Por exemplo, houve época onde possuir escravos era moralmente aceito e as mulheres proibidas de votar, por serem “seres inferiores”.
O livro do Marcus Weeks busca esclarecer algumas questões para jovens secundaristas e universitários, além de pais, mães e profissionais que buscam se inteirar dos desafios de um mundo em processo evolucional contínuo: Como posso aprender filosofia?, Que habilidades a filosofia pode me fornecer?, Que atividades profissionais podem ser exercidas por filósofos?, O que é realidade?, O que é conhecimento?, O que é a mente?, O que é raciocínio?, e O que é certo ou errado?
Como anexos, um Diretório de filósofos, de Anaximandro até Zenão de Eleia, em ordem alfabética, incluindo os contemporâneos vivos Edmund Gettier, John Searle e Peter Singer. E um glossário, onde se pode melhor assimilar noções de verdade de fato, indução, argumento, falseabilidade, contraditório e princípio do dano, entre outros.
Para os que farão o ENEM, vestibulandos, estudiosos para concursos e os que imaginam que os computadores pensam sozinhos, desconhecendo ainda a reflexão de John Searle, autor do experimento mental da “Sala Chinesa”, que desafia a noção de uma inteligência artificial realmente eficiente, a leitura do livro é por demais oportuna. Indispensável por derradeiro.
Para uma apreensão cognitiva mais consistente, uma leitura mais demorada dos capítulos O Que Torna Uma Sociedade Civilizada? e Em Que Tipo de Sociedade Você Gostaria de Viver? proporcionará respostas para algumas inquietações que imperam no mundo atual, quando o pensamento aristotélico é relegado a planos subalternos: “A sabedoria deve ser a razão intuitiva combinada ao conhecimento científico”. Que muito bem fica assimilada quando se depara com a assertiva de Santo Agostinho, Agostinho de Hipona: “Não queiras entender para crer; crer para que possas entender”.
No glossário, o termo pragmatismo tem a seguinte definição: “abordagem filosófica que enfatiza a utilidade do conhecimento – uma teoria ou crença é bem sucedida se puder ser aplicada na prática”. O filósofo William James, para explicar pragmatismo, contava a história de um homem perdido na floresta, cansado e faminto, que encontra uma trilha. Ele pode acreditar que a trilha o levará para fora da floresta ao encontro de comida e abrigo, se segui-la. Ou pode acreditar que isso não ocorrerá e ficar lá parado e com fome. Seja qual for a escolha do homem, ela será verdadeira.
Amigo leitor: no exemplo acima, qual seria sua escolha, se a questão fosse da atual Crise Brasileira, apoplética por incompetência político-estratégica? Ou você está mesmo consciente da reflexão do filósofo Francis Bacon: “Se um homem se satisfizer em começar com dúvidas, ele deverá terminar em certezas”.
(Publicado em 14.09.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com)
Fernando Antônio Gonçalves