PARA AMPLIAR A ENXERGÂNCIA


Vivemos na era das pulhas as mais diferenciadas, econômicas, sociais e religiosas. Que independem de sistemas financeiros, escolaridade e renda, raça e religião, sexo e ideologia. Ilude-se hoje abertamente, utilizando os mais inusitados meios e métodos de enganação, da praça pública à televisão a cabo, passando pela Internet, universidades, púlpitos e organizações não-governamentais, algumas delas descaradamente neo-governamentais. Práticas ilusionistas que vitimam os abestados de sempre, inclusive muitos dos que tentam levar vantagem em tudo. Os enganados são os filhos da pulha, alienados travestidos às vezes de autoridade, distanciados de ambientes criativos e críticos.
Recordo-me de duas sutis observações de Dom Hélder Câmara, pelas quais somos eternamente devedores: “As árvores que jamais perdem o viço, que são perenemente verdes, olham, com uma ponta de inveja, as árvores que se desnudam de folhas e lembram esqueletos” e “Quando a primavera irrompe, só quem foi despojado vibra com o milagre da ressurreição.” O Dom, sempre com uma notável habilidade evangelizadora, buscava alertar aqueles que, imaginando-se supimpas e já eleitos, observavam com pretensas solidariedades os caídos, os desvalidos, os desesperados e os que buscam auxílio.
O inesquecível Chesterton dizia que há homens que fazem com que todos se sintam grandes. E há anões mentais que torcem para que todo mundo se torne um anão como ele, sem capacidade alguma de recuperação. O meu irmão João Silvino da Conceição, helderista de carteirinha e ultimamente decepcionado com algumas manifestações políticas e religiosas, Vassourinhas de carteirinha, vez por outra apresenta seus “mandamentos” para os que buscam suas opiniões. São eles: 1. Nem sempre uma pessoa elegante tem classe. Uma pessoa de classe é aquela que sabe se portar, sejam quais forem os seus trajes; 2. Gostar do que faz, melhorando o desempenho a cada novo dia, o mais-ou-menos devendo ser considerado um veneno mortal; 3. Evitar as bajulações que é coisa de quem nem tem segurança nem competência; 4. Relógio bem discreto é sinal de requinte e muito bom gosto; 5. Ter cuidado ao telefone, inclusive celular, que pode simbolizar baita cafonice, se utilizado inconvenientemente; 6. Falar de intimidade junto a pessoas com quem você trabalha é deselegante, além de muito prejudicial, na grande maioria das vezes; 7. Nunca ter receio de fazer e errar, posto que só se cresce através de erros e acertos; 8. Estar, sem temor, sempre em alerta para as mudanças, com a certeza de serem ridículos todos os ontens que retornam tal e qual; 9. Saber diferenciar o que é importante do que é urgente, sempre bem escolhendo entre as duas classificações; 10. Demonstrar continuamente uma simpatia autêntica, sem afetações; 11. Ser pontual, a marca do respeitador dos compromissos dos outros; 12. Transmitir alegria sem afetações; 13. Estar atentamente preparado para o inesperado; 14. Perceber-se sobrepairando acima das mediocridades do cotidiano, lembrando-se que não se deve jamais atirar pérolas aos porcos, nem cobrir de mimo quem de adagas se utiliza; 15. Perceber-se diariamente filho amado e predileto da Criação, jamais confundindo Salvação com Igreja.
Segundo ainda o João Silvino, “iniciativas tipo feijão-com-arroz, bem articuladas, criativas e consistentemente implementadas, serão bem mais úteis que bolações e rebolações laboratoriais sem pé nem cabeça, que satisfazem apenas os egos e superegos dos ame(r)dalhados”.
Se o notável Einstein já afirmava que “não só devemos tolerar as diferenças entre indivíduos e grupos, como devemos de fato aceitá-las com satisfação e considerá-las enriquecedoras”, que os que sempre fazem bom uso da sua criticidade cidadã saibam enxergar bem o que é ser diferente, erradicando as posturas embromatórias e as procrastinações que apenas retardam reacionariamente a emersão de saudáveis amanhãs.