OS IMPROPÉRIOS DO ARANHA


Nas eleições 2010, quando amplos mandatos políticos serão renovados, Aranha se tornará uma excepcional arma. O Dicionário Brasileiro de Insultos, do Altair Aranha, terá uma dupla finalidade nos debates políticos que já estão à vista: a primeira, estontear o adversário por ele ignorar o significado do termo usado; e também por ele não avaliar a gravidade da acusação, se o impropério for teatralmente brandido.

Por exemplo, imaginemos, num debate, um cidadão dizendo para um parlamentar, dedo em riste e voz de trombada de carro grande: “Vossa Excelência, toda a sociedade já sabe, é um erotófobo!!” O acusado, portador, como a grande maioria, de um limitado vocabular, seguramente procurará aparentar estar por dentro do assunto, respondendo com argumentos os mais desconjuntados possíveis, possibilitando a continuação da sua fala, a revelar um civismo calibre pinto de pequinês.

Outro dia, numa câmara de vereadores nordestina, num estado fronteiriço a Pernambuco, um dos líderes partidários, diante de projeto apresentado por um dos pares, disse que a proposta era digna de um nefelibata. O aparte do autor da iniciativa veio de bate-pronto, sem qualquer vaselina: – Se para Vossa Excelência nefelibata significar elogio, eu agradeço de coração. Se, por acaso, for algo que me esculhambe, nefelibata é a puta que o pariu!!! E a sessão foi interrompida por alguns minutos, para que fosse explicado ao “ofendido” o significado do termo, “aquele que vive no mundo da lua, sem ser capaz de pôr os pés no chão e perceber a realidade”. Tal e qual aquele outro que apresentou um projeto de lei criando o Dia Nacional do Laranja, ignorando que “laranja” é todo simplório metido a sabido, que não percebe que está enriquecendo mundos e fundos de terceiros, ficando ele, no frigir dos ovos, apenas com os fundos de antes, estropiados como de costume.

E o que dizer dos políticos onzenários, aqueles que desejam lucrar com o mandato, além dos vencimentos recebidos? Que classificam de onagros os seus eleitores, os possuidores de cabeças duras, que vivem elegendo quem não presta, lamentando-se em toda mesa de bar, não imaginando serem eles mesmos os responsáveis diretos por cada chupin cabuleté eleito? Que se torna mais um ganhoso às custas de eleitores sempre desgramados, sempre lambisgóias?

No Dicionário Brasileiro de Insultos, uma primorosa pesquisa feita pelo Altair Aranha, que principiou a colecionar desaforos desde adolescente, para deixar nocauteados os colegas de escola mais trombudos, que ficavam com caras-de-tacho, olhos esbugalhados, rabos entre as pernas, abilolados por umas boas semanas, sem ação nem reação.

Nos mais diferenciados rincões brasileiros, pode-se facilmente detectar o analfabeto político descrito pelo Bertolt Brecht, aquele que “não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”. E que disse mais: “o analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

Pedi ao João Silvino da Conceição, meu irmão orientador em coisas da vida, que classificasse alguns políticos brasileiros. E ele me apresentou uma lista bastante abrangente: vulpino (raposa), bola-murcha (sem expressão), vapozeiro (traficante de maconha), polhastro (espertalhão jovem), fâmulo (baba-ovo), especioso (bom invólucro e mal conteúdo) e lagalhé (sem qualquer expressão).

Terminadas as explicações, o João Silvino ainda escolheu os dois insultos que irão proliferar em 2010: o preboste, o xeleléu que faz coisas indevidas, aparecendo para as punições, o chefe sempre se escafedendo; e o lambeta, aquele que adora fazer um fuxico, ainda que num microfone de plenário legislativo.

Que o eleitor brasileiro defenestre nas urnas de 2010 os muculas, os cloacinos, os doidelos, os toquistas, os mafabés e as lambanças de todos eles. Para que possamos aprimorar a nossa Democracia, favorecendo uma Cidadania que dignifique melhor o país no cenário mundial.

Portal da Globo Nordeste, 1/1/2010, Blog BATE & REBATE
Fernando Antônio Gonçalves