ORIENTAÇÕES PARA CIDADANIA
Num encontro de jovens, em Gravatá, um deles me perguntou como poderia ampliar a sua “enxergância”, termo por mim usado durante o papo com eles, intercambistas de malas prontas para um ano em diversas partes do planeta. Um papo iniciado com os parabéns dados a todos eles, por terem a oportunidade de ficar longe de pais e mães por um bom tempo, posto que os pais é que estão mais prejudicando os seus filhotes adolescentes, segundo Içami Tiba, psiquiatra famoso estabelecido em São Paulo, com dezenas de livros publicados sobre o assunto.
Depois do jantar do Portal de Gravatá, local do encontro, para o interessado e mais quem ele tinha convidado, apresentei a criticidade do educador Paulo Freire como fator básico estruturador de toda “enxergância cidadã”, aquele que promove o saber, o conhecer, o conviver e o caminhar por trilhas consistentes, a partir de uma sólida educação básica advinda de vertentes múltiplas: professores, pais, comunidade, mídia, amizades de vários calibres, religião, tropeços, razões, iusões e decepções.
Apresentei algumas referências bibliográficas recentes, desabilolantes por derradeiro, capazes também de proporcionar um acelerado desabestalhamentos em pais, mães, avós e quejandos, num ano eleitoral tão importante quanto o atual, quando canalhas, malufes e outros patifes, travestidos de ovelhas e “eleitos do Senhor”, buscam iludir incautos e abiscoitados que ainda não perceberam a brutal diferença entre “massa” e “povo”, comportando-se sempre como ovelhas castradas, nunca cabritos antenados.
A primeira indicação foi recentemente lançada pela L&PM Editores, de Porto Alegre: Uma Breve História da Filosofia, de Nigel Warburton, professor titular de Filosofia da Open University (Universidade Aberta), desde 1994, antes tendo sido docente da Universidade de Nottinghan. Um texto que apresenta os grandes expoentes do pensamento ocidental sem o “filosofês” típico daqueles que foram gerados em pé numa rede. Em 40 curtos capítulos, Warburton, um dos mais lidos filósofos cntemporâneos, expõe uma trajetória de aproximadamente 2.500 anos, trazendo ainda alguns dados interessantes sobre cada um dos autores. No final de cada texto, o autor faz um link com o filósofo seguinte. Uma leitura descomplicada que favorece “a inspiração para pensar, argumentar, raciocinar e perguntar”.
Uma segunda indicação provoca uma viagem desde a Antiguidade até os dias atuais. De autoria do alemão Helge Hesse, A História do Mundo em 50 Frases, editora Casa da Palavra, Rio de Janeiro, ele descreve os momentos cruciais vivenciados pela humanidade, uma trajetória do mundo de quase dois mil e seiscentos anos. Diz o autor: “Esta viagem não pretende ser nem exaustiva nem equilibrada, o que aliás seria impossível, pelo fato de, entre outras coisas, nem todos os acontecimentos da história universal terem dado lugar a uma frase célebre”. O livro do Hess foi elaborado em ordem cronológica, de Tales de Mileto, considerado um dos primeiros filósofos, a George W. Bush, o mais idiotizado dos presidentes norte-americanos.
Por fim, já quase chegando a madrugada, mostrei a eles a importância de conhecer um pouco mais sobre felicidade, sofrimento, compaixão, altruísmo, paz e propósitos existenciais, buscando caminhos para uma PC – Profissionalidade Cidadã, aquela que intercomplementa sabedoria, conhecimento, criatividade, solidariedade, altruísmo, empatia e espiritualidade independente de religião. E indiquei uma leitura recentemente divulgada no Rio de Janeiro pela editora Objetiva: Conversas com o Dalai Lama, entrevistas convivenciadas por Rajiv Mehrotra, renomado budista indiano, ao longo de mais de 25 anos. Mehrotra, aluno de longa data do Dalai Lama, atualmente é curador da Fundação para a Responsabilidade Universal, organização fundada pelo Dalai Lama após ter recebido o prêmio Nobel da Paz. E deixei para eles, de agora por diante embaixadores do Brasil nos quatro cantos do mundo, uma reflexão do Dalai Lama, que deveria ser estandarte para todos os seres humanos: “Em todos os meus atos, possa eu examinar minha mente, e tão logo as ilusões apareçam, pondo em risco a mim mesmo e aos outros, possa eu enfrentá-las e evitá-las”.
Um esclarecimento a mais para os jovens. Eles, os intercambistas, estão fazendo o mesmo que fazia Aristóteles, em Atenas: indo para o exterior, para de lá voltarem com novos conhecimentos e informações sobre todos os assuntos, ampliando a sua cidadania, favorecendo um baita desabestalhamento existencial.
E o congraçamento, no final, foi um abração coletivo muito arretado de ótimo.
(Publicada em 27.08.2012 no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco
Fernando Antônio Gonçalves