OPINIÕES FRANCAS E DIRETAS
Num bar perto da casa da Trude, mais uma vez avozona apaixonada, um freguês testemunhava considerações sobre a conjuntura brasileira para companheiros de mesa e derredores. Consegui anotar, laptop sempre alerta, algumas das suas considerações:
1. Por que a vereança deixou de ser função de notável relevância, a partir de 1997, quando apenas os vereadores das capitais e dos municípios grandes recebiam remunerações simbólicas?
2. O Conselho Nacional de Justiça deveria reeleger a Ministra Eliane Calmon para o cargo que ela atualmente já exerce, proporcionando-lhe condições amplas de sanear o Judiciário Brasileiro, hoje enlameado pela presença de alguns salafrários que deslustram o nobilíssimo poder. Quem desejar conhecer melhor suas opiniões, a revista Piauí, nº 66, março, traz uma reportagem com ela, sob contagiante título Não Gosto de Firula. Uma mulher arretada, que se declara agnóstica porque lhe falta “coragem” para ser ateia.
3. Espera-se do ministro Mercadante uma gestão pra lá de empreendedora no MEC, fortalecendo os níveis de ensino do país, principalmente o da Educação Fundamental, consolidando eticamente o ENEM com provas nacionais aplicadas estadualmente por equipes dotadas de experiências múltiplas matéria. E também aprimorando os exames dos Doutoramentos, que exigem teses sempre inéditas.
4. Aplausos múltiplos devem ser enviados para aquele casal homossexual que concretizou, através de fecundação “in vitro” a chegada da Maria Teresa. Que as hipocrisias e os farisaísmos dos cretinos de plantão, religiosos ou não, sejam postos sob apupos pelos que, cidadanizados século 21, entendem o que seja ser família de modo mais abrangente, pós-modernamente.
5. A crítica formulada pelo arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, sobre a terceirização da saúde pública brasileira, tema da Campanha da Fraternidade 2012, bem poderia servir de mote para debates esclarecedores nos meios governamentais dos estados brasileros, erradicando falácias e fingimentos que utilizam o ser humano como simples meio para atingir fins eleitorais, também financeiros.
6. Que as críticas emitidas por militares da reserva devem ser entendidas como apenas críticas formulafas por cidadãos que possuem o direito, mesmo que de pijama ou ceroula, de externar opiniões, jamais sendo interpretadas como suicidas articulações anti-democráticas, golpistas por derradeiro. Mesmo porque a hora já não é mais de reviver ontens que não mais são compatíveis com a evolução da nossa História. Criticar é uma coisa, ser bravateiro contra a Autoridade Máxima das Forças Armadas Brasileiras é outra coisa, este a merecer as advertências e punições indispensáveis.
7. A não-compulsoriedade do Imposto Sindical é o caminho mais adequado para o desenvolvimento do sindicalismo brasileiro, alijando dele pelegos e sugadores que apenas buscam usufruir vantagens espúrias, maculando a dignidade do trabalhador.
8. A injeção do equivalente a dois Brasis no sistema financeiro mundial é sinal mais que evidente que uma profunda reformatação econômica planetária não deve ser irresponsavelmente protelada. Sob pena da multiplicação dos “Ocupe Wall Street” pelo mundo afora.
9. A Copa do Mundo 2014 não deverá ter seu fracasso atribuído aos decisores estrangeiros, mas sim a um incompetente planejamento governamental nosso que substituiu a racionalidade meritória por uma rapinagem politiqueira, onde malandros e bandidos buscam abocanhar quinhões públicos que não lhes pertencem.
10. Em todo estado brasileiro, um dirigente da Educação deveria ser muito bem dotado de cultura, liderança e níveis de empreendedorismo ajustados aos desafios de um tempo nacional que velozmente se “achineza”. Saber muito e executar pouco é postura típica daqueles chamados por Gilberto Freyre de “phdeuses”. Enrolocratas, no jargão popular.
11. Se o palhaço Tiririca for eleito governador de São Paulo, nas eleições de outubro próximo, é sinal evidente de que uma baita insatisfação com a Política está grassando na sociedade daquele estado. Seria muito bom se a presidenta Dilma botasse suas saias de molho. Ou externasse suas lágrimas com menos generosidade cênica.
12. Deputados maranhenses recebendo até 18 salários por ano devem ser considerados uma afronta imperdoável às comunidades daquele estado que necessitam, como a brasileira, fortalecer sua cidadania crítica, a começar deste ano, com um baita pontapé no rabo dos vereadores que cinicamente se banqueteiam, pouco se lixando para a dignidade da representação exercida.
13. Quem vocês elegeriam como o Crô da Assembleia Legislativa de seus estados? Tem deputado que não sossega enquanto não estiver pegando no saco do executivo maior. E passa o dia sem sequer lavar as mãos, quando consegue uma pegadinha de leve…
Pelas palmas recebidas, o freguês daquele bar possuía uma consciência distanciada quilômetros dos bostíferos que mal ruminam ideias legisferantes de terceiros, sem perceber que o caminho se faz andando sem ódio e sem medo, como bradava o Marcos Freire, de um PMDB que jamais voltará a ser o que era outrora.
(Publicada em 12/03/2012, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves