OLÍMPICOS, SOLIDÁRIOS E CIDADÃOS


Muitos já ouviram falar no projeto ISMART – Instituto para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos, que estimula jovens de baixa renda que possuem talento e garra. Iniciativa que oferece oportunidades de transformação para jovens, através de programas calcados na valorização da excelência, na ética e na criatividade produtiva.

Recentemente, no Centro de Convenções da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, um jovem de 15 anos de idade iniciou sua apresentação para um auditório repleto, que estranhava a presença no palco de um professor ainda adolescente, que assim se apresentou:

“Bom dia! Meu nome é Osvaldo, tenho 15 anos, sou de Santa Isabel – SP, uma cidadezinha próxima à Guarulhos e, com muito orgulho, sou bolsista ISMART ! Ingressei no ISMART este ano e atualmente estou estudando no colégio Objetivo da Paulista, cursando o 1º ano do ensino médio. Estou aqui para contar um pouco da minha história para vocês.

Quero começar dizendo o quanto meus pais e minha irmã foram e são muito importantes na minha vida. Eles sempre me motivaram e me incentivaram a lutar pelos meus sonhos e a estudar. A união com que eu e meus pais vivemos foi determinante para que hoje eu esteja aqui como bolsista do ISMART. Como também foi determinante a motivação e a indicação feita por um professor. Eu estou aqui pela indicação de um professor.

A minha caminhada para chegar a ser bolsista começou no ano passado, quando eu estava na 8ª série na Escola Estadual Laurentina Lorena Correa da Silva. Meu pai estava precisando legalizar alguns papéis de um terreno e procurou uma arquiteta. Quando estava na sala de trabalho dela, ele viu alguns papéis com vários nomes. Então perguntou o que era aquilo. Ela respondeu que eram pessoas que faziam parte de um grupo de alunos que estudavam matemática no domingo. Esse grupo de pessoas era chamado de OSI (guardem esse nome). Meu pai, na hora, me inscreveu e inscreveu minha irmã. No domingo da mesma semana nós ingressamos na OSI. E descobrimos que a OSI é um curso preparatório para alunos que querem fazer olimpíadas científicas. Foi aí que as oportunidades foram aparecendo.

Foi por meio da indicação do professor e fundador da OSI, que eu e mais três alunos tivemos a grande chance de poder concorrer a uma bolsa do ISMART. Graças a Deus, eu consegui bom resultado na prova e nas outras etapas da seleção. E fui aprovado. Por isso estou aqui hoje. Posso dizer que o apoio dos pais é fundamental para dar segurança e força para que os filhos nunca pensem em desistir, pois eu me senti assim em relação aos meus pais. Mas o professor, e vocês sabem disso melhor do que ninguém é claro, também tem um papel fundamental, que é de identificar o aluno que persiste, que não desiste, que é esforçado e que quer vencer, porque o pequeno aluno de hoje pode ser o grande homem de amanhã. Acredito que para um professor deve ser maravilhoso ver um aluno que ele ajudou, crescendo e evoluindo. Deve ser, não somente, uma grande realização profissional. Mas também uma realização pessoal.

Enfim, hoje estou aqui falando com vocês feliz com o apoio que meus pais e o ISMART têm me dado e também grato ao meu professor que acreditou em mim, me indicou para o ISMART e foi, como meus pais, determinante para que eu hoje estivesse aqui como bolsista do ISMART.

Resumidamente essa é a história de como eu conheci o ISMART e de como eu cheguei até aqui. Quero agradecer pela presença de todos vocês nesse evento e pela atenção de todos, Antes de deixar o palco, quero apresentar a vocês o professor que me indicou para o ISMART. Ele não é só um professor, Ele é também um grande amigo. Ele é o Marco Antônio Lopes Pedroso”.

As palmas eclodiram com entusiasmo, quando Marco Antônio, de apenas 18 anos, subiu ao palco, na condição de professor. Espanto logo eliminado: E falou:

“Bom dia! Vocês devem estar achando que eu sou um pouco novo para ser professor. De fato sou jovem. Meu nome é Marco Antonio Lopes Pedroso. Tenho 18 anos e na realidade não dou aula numa escola, mas num curso preparatório para olimpíadas científicas. Curso este que eu – junto com meu irmão, idealizei, desenvolvi e implementei na minha cidade, Santa Isabel. Começamos o curso em 2008. A princípio só eu e meu irmão, com cerca de 40 alunos. Hoje temos cerca de 150 alunos e professores vindos de São Paulo e do ITA, São José dos Campos, dando aulas como voluntários, doando seu tempo todos os sábados e domingos das 8:30 às 12:30.

Quando resolvi montar o curso, foi para que os alunos conhecessem o mundo das olimpíadas. Pois foi no mundo das olimpíadas que eu encontrei desafios que me estimularam a estudar mais e mais. Com eles vieram resultados e oportunidades para mim.

A OSI – Olímpicos de Santa Isabel – foi crescendo, alcançando resultados e ganhando prestígio na cidade. Temos muito, mas muito orgulho de exibir nosso quadro de medalhas, que em 2009 bateu todos os nossos records, com 9 medalhas de ouro, 22 medalhas de prata, 16 medalhas de bronze e 13 Menções Honrosas.

Igualmente sentimos muito orgulho quando vemos mudança na vida de alguns alunos, que ganharam bolsas de estudos nas escolas particulares da cidade. Foram 2 em 2008, 3 em 2009 e 12 em 2010. Mas feliz mesmo eu fiquei, quando eu soube que tinha alunos meus se tornando bolsistas do ISMART, vindo estudar nas melhores escolas daqui de São Paulo. Na última seleção conseguimos aprovar no Ismart 4 alunos vindos da nossa OSI. Todos estudando em Escolas Privadas de primeira linha em São Paulo. Todos iniciando, ou dando sequência a uma transformação radical na nossa comunidade de Santa Isabel.

É natural que todos nós da OSI sintamos muito orgulho em ver o desempenho dos nossos alunos no ISMART. Porém eu pessoalmente sinto uma alegria especial. Isso por uma razão muito simples. Porque foi a mesma oportunidade que eu tive. Sou bolsista do ISMART desde 2006.

Hoje estão surgindo outros projetos com o mesmo enfoque. Em Cajamar, com outro aluno do ISMART, o Marco Aurélio Toledo, oriundo da Escola Estadual Reinaldo Ribeiro. E no bairro Vila Mariana, em São Paulo, com colegas do colégio Etapa.

Hoje estou cursando o ITA, mas vou trancar a matrícula para fazer minha graduação no Estados Unidos no M.I.T., Masachussets Institute of Technolgy, onde fui recentemente admitido na turma de 2014”

A emoção que senti, lendo o que o jornalista Gilberto Dimenstein expôs no site www.dimenstein.com.br, me fez recordar sinalização notável feita por alguém que muito amei depois do meu saudoso pai, Dom Hélder Câmara, um arcebispo nunca esquecido de Olinda e Recife. Dizia ele, com muita propriedade: “O mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor”. Que uma turma de abnegados de uma pequena cidade da região metropolitana de São Paulo acreditou, estabelecendo como lema de memorável solidariedade cidadã.

(Portal da Globo Nordeste, 15.07.2010, Blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves