NOVO TESTAMENTO JUDAICO


Dadas as minhas estreitas ligações com inúmeros irmãos judeus – o Arão e a Estelinha Parnes, o Saulo e a Rosanna Gorenstein, os quatro compondo o carro-chefe -, a leitura do Novo Testamento Judaico, lançamento 2007 da Editora Vida, ratificou uma certeza minha adquirida desde os tempos de Universidade Católica, quando dos inúmeros papos mantidos com Sérgio Wolkoff, também irmão israelita, hoje consultor financeiro no Rio de Janeiro: a de que o Novo Testamento é um livro de origem judaica. Um livro judaico, escrito por judeus, que tem por público-alvo judeus e não-judeus, onde milhões continuam a depositar confiança irrestrita no Deus de Avraham, Yitz’chak e Ya’akov e no Messias judeu Yeshua, utilizando os nomes semitas dos personagens bíblicos Abraão, Isaque, Jacó e Jesus, tão conhecidos por todos nós, cristãos gentios.
No Novo Testamento Judaico, a figura central é Yeshua, o Messias, “um judeu nascido de judeus em Beit-Lechem, cresceu entre judeus em Natzeret, ministrou aos judeus na Galil, morreu e ressuscitou na capital judia, Yerushalayim, tudo isso em Eretz-Yisra’el, a terra dada por Deus ao povo judeu”. Daí naturalmente se depreendendo que foram os judeus que levaram o evangelho aos não-judeus, através das pregações, viagens e cartas de Sha’ul, um judeu praticante, que dirimiu uma das principais pendengas dos tempos primeiros da nova seita: se um não-judeu poderia se tornar cristão sem se converter ao judaísmo. Tudo muito bem narrado no capítulo 15 de Atos, onde Paulo e Barnabé foram encarregados de levar a questão (sh’eilah) para a assembléia dos notáveis em Jerusalém.
No Novo Testamento Judaico, a Introdução é leitura mais que recomendável para quem deseja melhor assimilar os testamentos sagrados, primeiro e segundo, mutuamente interdependentes, tal e qual uma casa de dois pavimentos, onde o segundo depende estruturalmente do primeiro. Lá está escrito: “o Antigo sem o Novo é como uma casa sem teto”. Ou, como acrescentaria João Silvino da Conceição, “o Novo sem o Antigo seria um segundo pavimento em prédio sem alicerce”. Um Novo Testamento que completaria a Tanakh, as Escrituras hebraicas outorgadas por Deus ao povo judeu.
Alguns pontos chamam a atenção quando da leitura da Introdução feita no Novo Testamento Judaico:
a.O próprio Yeshua disse: “a salvação vem dos judeus” (Jo 4,22)
b. Muito do que se encontra no Novo Testamento é incompreensível se posto sem o contexto judaico. Por exemplo, Yeshua disse, em Mt 6,23, que “se seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas”. Em hebraico, possuir um “ayin r’ah”, “olho mau”, significa ser sovina. O contrário, “ayin tovah”, “olho bom”, equivale a ser generoso. A Bíblia do Peregrino, Paulus 2005, contempla uma tradução mais fidedigna em Mt 6,23: “se teu olhar é mesquinho …”. Jesus incentiva a generosidade, a solidariedade entre povos.
c. Há, na Introdução, um quadro onde se demonstra que Yeshua “cumpriu todas as profecias referentes à sua primeira vinda”.
d. São citadas ainda “três áreas adicionais nas quais o Novo Testamento Judaico pode ajudar em relação ‘tikkun-há olam’ (conserto do mundo): o anti-semitismo cristão, a recusa judaica de receber o evangelho e a separação entre igreja e povo judeu”.
Como existem mais de cinco mil manuscritos antigos (totais e parciais) do Novo Testamento, o Novo Testamento Judaico baseou-se no The Greek New Testament das Sociedades Bíblicas Unidas. Instituição sempre atenta às pesquisas linguísticas mais consistentes.
A leitura do Novo Testamento Judaico, acompanhada da Bíblia Hebraica editada pela editora Sêfer – que ressalta, em Jeremias 31,30, que haveria uma nova aliança, onde seriam perdoadas iniqüidades, os pecados não mais lembrados – nos proporciona esclarecimentos vários, ressaltando questão para intermináveis debates: o Messias deu término à Torah ou Ele é o objetivo dela? Relendo Rm 11,16-26, sempre sonhei com a unidade restaurada.