NOVA TEOLOGIA


Diante das novas perspectivas para a Igreja Romana, com o papa Francisco ensaiando as primeiras alterações na cavilosa e tridentina burocracia vaticana e dando exemplos extraordinários, como o do café da manhã com moradores de rua comemorando seus 77 anos, seria altamente oportuno que a CNBB promovesse, nas diversas regionais, seminários para leigos e clérigos sob o tema O Espírito Santo e a Tradição de Jesus, tema título da obra póstuma do Pe. José Comblin, divulgada pela Nhanduti Editora, 2012, somente agora de leitura por mim iniciada com entusiasmo embasado por esperanças múltiplas num Cristianismo frutificador, jamais anestésico nem alienado. Tampouco voltado para ganhos ilusórios e promessas estapafúrdias, entre mentiras e outras maroteiras que apenas maculam, através de cinismos enxovalhantes, as atividades do Homão da Galileia, um judeu arretado, zelota subversivo que muito amo.

Para se entender mais efetivamente o livro acima, escrito para os jovens contemporâneos “que se afastaram da Igreja porque esta não foi capaz de traduzir a mensagem numa língua compreensível”, o Pe. José Comblin sempre proclamava que “o grande desafio para os cristãos do século XXI é saber o que devem fazer no mundo de hoje. A orientação está num retorno aos Evangelhos e à vida terrestre de Jesus”. E ia mais além: “Nossa época é importante saber o que procede do Espírito Santo e o que procede de decisões humanas”.

Há algum tempo, a monja Mônica Maria Muggler, desde 1991 colaboradora de Comblin nas Escolas de Formação Missionária, dizia que o atual estado do ensino de teologia o vinha incomodando, assunto refletido em inúmeros textos e múltiplas conferências. E quando foi convidado pelo bispo Frei Luiz Flávio Cáppio, da diocese de Barra, comunicou sua decisão no Fórum Panamazônico em Belém do Pará, em agosto de 2009, antes de partir deixando sua imensa biblioteca – mais de sete mil volumes – para a Universidade Católica de Pernambuco, a maioria dos quais seguiram após a sua morte. Sua decisão aconteceu após visita às instalações da Biblioteca da UNICAP, que tem em média 4.000 consultas diárias. Segundo ele, “nem na Europa encontrei uma biblioteca tão organizada e funcional!”

O Pe. José Comblin, acreditava que “não somente os edifícios, as instituições, mas também a teologia aparece como um grande museu”. E redigiu quatro versões, descortinando horizontes muito além dos atuais, “sempre com profunda honestidade intelectual e rara criatividade em termos de proposições”.

O Pe. Comblin eternizou-se em 27 de março de 2011, tendo sido exemplo de discípulo livre, fiel e perseverante, sempre em cumplicidade com o Espírito na transmissão da mensagem do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 04.04.2014