NOTAS SILVÍNICAS
Na emergência do Hospital Santa Joana, onde Dona Lu, minha mãe, 91 anos, está sendo otimamente atendida, deparo-me com o João Silvino da Conceição, meu irmão caminheiro, que debatia com amigos jornalistas os últimos acontecimentos regionais, nacionais e planetários, todos transformados em notas mínimas a serem enviadas para internautas dos mais variados recantos do planeta. Recebendo licença para divulgá-las, ei-las abaixo, a ordem de apresentação não revelando qualquer nível de privilégio ou importância.
1. A resposta dada por Peter Drucker (1909-2005), em 1999, à pergunta “O que você considera ter sido sua contribuição mais importante?”, deveria merecer reflexão dos executivos brasileiros públicos e privados, que estão a necessitar urgente de uma apreendência enxergante sobre os amanhãs do mundo, principalmente depois das catástrofes japonesas. Ei-la: “Ter dirigido o foco dessa disciplina – Administração – para Pessoas e Poder; para Valores, Estrutura e Constituição; e, acima de tudo, para responsabilidades, ou seja, ter direcionado o foco da Disciplina da Administração para a administração como uma verdadeira arte liberal”. A editora Agir acaba de lançar uma edição amplamente revista de Gestão, 770 p., patrocinada pelo Drucker Institute, um grupo de pensadores e especialistas na promoção das ideias fecundantes do considerado pai da moderna administração. Administração não é um conjunto de receitas, mas estratégias criativas, envolvendo competência focal e visão multidisciplinar, na edificação de empreendimentos nunca vocacionados para os ontens já vivenciados.
2. De parabéns o jornalista Fernando de Barros e Silva, quando denuncia a existência de um macarthismo chulé que vem sendo capitaneada por uma direita cultural esquizóide. E vai fundo: “As baixezas contra Chico Buarque em função do Jabuti são o caso recente mais emblemático do modo de agir dessa tropa do ressentimento fantasiada de exército da salvação da moral e dos bons costumes”. As escandalizações estúpidas assacadas contra a cantora Maria Bethânia retratam inserções midiáticas de quem deseja promover o linchamento da artista brasileira, que apenas lançou mão dos incentivos concedidos pela Lei Rouanet, em sua plena vigência. Sem cometer crime algum, nem ilegalidades, diferentemente de muitos congressistas fichas-pra-lá-de-cloacas.
3. A destruição crescente do poderio do alucinado ditador Muammar Gaddafi, hoje considerado “o cachorro louco do Oriente”, até bem pouco tempo atrás cortejado e babado por lideranças ocidentais, inclusive brasileiras, deve resultar numa lição para todos: não se deve tolerar regimes ditatoriais de quem quer que seja, sejam aliados ou não. O famigerado Gaddafi já foi muito acarinhado por causa de interesses vários, hoje sendo defenestrado pelos mesmíssimos interesses.
4. Merece premiação especial a reportagem do jornalista Ayrton Maciel, uma admiração pessoal de muitos anos, no Jornal do Commercio, sobre Corrupção na Educação. Uma reportagem que mostra detalhes de pesquisa realizada pela Controladoria Geral da União, inclusive em 21 municípios pernambucanos, efetivada pelo trabalho final de conclusão do Doutorado em Ciências Políticas pela Universidade Federal de Pernambuco do historiador Clóvis Alberto Vieira de Melo, da Federal de Campina Grande, intitulado Efeitos da Corrupção em Indicadores Sociais. Lamentavelmente, está na região Nordeste o maior percentual de casos de corrupção, que aponta para uma triste realidade: a ausência de impunidade exemplar para marginais que se locupletam de verbas destinadas aos jovens brasileiros dos amanhãs, principalmente quando se constata que a corrupção se torna mais danosa à primeira fase do ensino fundamental. Espera-se que tamanha impunidade seja rapidamente atenuada por uma Justiça de olhos bem atentos nas falcatruas dos marginais que abusam da Educação Brasileira, mais vigilante que nunca à denúncia feita por Peter Eigen, presidência da Transparência Internacional, “um terço da dívida externa de diversos países vai para o bolso de políticos e funcionários públicos corruptos”.
5. Com entusiasmo, recomendo O Terceiro Chimpanzé – a evolução e o futuro do ser humano, Jared Diamond, editora Record, 2010. O autor, ganhador do Prêmio Pulitzer, demonstra como o animal humano, compartilhando 98% dos genes com os chimpanzés, realizou maravilhas, ultrapassando o status de apenas animal. Um texto repleto de ideias provocativas e informações fascinantes para aqueles que buscam ampliar conhecimentos sobre seus caminhares pessoais e empreendedores, conscientes também de seus poderes destrutivos.
(Publicada em 28/03/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves