NOTAS DE UM TRANSCRISTÃO


1. A LEEPP – Livraria Espírita Edições “Pedro e Paulo”, de Uberaba, Minas Gerais, lançou, em agosto do ano passado, um livro que bem poderia servir de amplo embasamento alicerçal para a caminhada terrestre daqueles não possuidores de crenças religiosas, apenas não sendo materialistas: Cristo em nós, Carlos A. Baccelli e Bezerra de Menezes, Uberaba – MG, 2017, 238 p. Um série de recomendações do médico espirita cearense Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900), ex-presidente da Federação Espírita Brasileira, psicografadas por Carlos A, Baccelli.

2. Para quem não teve oportunidade de consultar as páginas da Revista Espírita, de janeiro de 1958 a abril de 1869, editadas sob a coordenação de Allan Kardec, terá oportunidade de ler as principais matérias de cunho doutrinário e as relacionadas com a fenomenologia mediúnica, além de instruções e esclarecimentos dirigidos aos espíritas, através do livro Instruções de Allan Kardec ao Movimento Espírita, Evandro Noleto Bezerra (org), Brasília, FEB, 2014, 253 p. A Revista Espírita, 12 volumes, era uma espécie de tribuna livre, um laboratório experimental, onde o Codificador apreendia a opinião dos seres humanos e a impressão dos Espíritos sobre variados assuntos ainda hipotéticos ou mal compreendidos, somente incorporando-os às obras básicas apenas após passarem pelo critério da concordância e universalidade do ensino das entidades superiores. E a intenção da seleção feita é a de disponibilizar aos companheiros de ideal e trabalhadores das diversas Casas Espíritas, de um modo rápido, o que escreveu Allan Kardec. No livro, o autor explicitou alguns artigos de Obras Póstumas, um deles sintetizando o pensamento de Kardec a respeito da caridade, tal qual entendia Jesus, repassando seus ensinamentos aos pósteros.

3. Uma pesquisa bastante elucidativa busca separar o joio do trigo, diferenciando o que é histórico e o que é apenas construção teológica do personagem mais estudado da História da Humanidade. Lançamento recente, agosto passado, o livro intitula-se O Evangelho Q, José Lázaro Boberg, Capivari-SP, Editora EME, 2018, 320 p. Uma análise desafiadora, instigante sob todos os ângulos, de imensa valia para quem deseja saber quem foi, efetivamente, Jesus d Nazaré, o amado Rabi da Galileia, que amo com todas as forças do coração. Os documentos históricos revelam que a Fonte Q, também conhecida como Documento Q ou apenas Q, sendo Q uma abreviatura da palavra quelle, que em língua alemã significa fonte, uma hipotética fonte usada na redação dos Evangelhos de Lucas e Mateus. Um texto antigo que supostamente continha a logia ou várias palavras e sermões de Jesus. Seu conteúdo abrange 225 versículos encontrados em Mateus e Lucas, podendo ser também definido como o conjunto das sentenças ou de sapiências originais de Jesus, primeiras anotações dos discípulos e apóstolos mais antigos. O erudito bíblico britânico Bernett Hillman Streeter formulou uma visão amplamente aceita do documento “Q”. Ele seria um documento escrito, não uma tradição oral, composto em grego, o seu quase integral aparecendo em Lucas, Mateus ou em ambos, que Lucas preservou mais que Mateus, ambos tendo utilizado o documento “Q” como fontes, embora não tenha sido mencionado por nenhum dos Pais da Igreja. O livro do Lázaro Boberg merece ser lido pelos já iniciados no Cristianismo, favorecendo uma visão ampla da trajetória daquele que mudou a face do mundo religioso de então.

4. Gosto que me enrosco de conversar com crianças perguntadeiras, dessas que desejam saber a razão de tudo e de todas as coisas. Criança “ispilicuti”, como classificava a minha avó Zefinha, ou “o raio da silibrina”, apelido dado em Natal, tempos de Segunda Guerra Mundial, à meninada danada de bisbilhoteira diante das tropas militares das Forças Aliadas desembarcadas em Parnamirim. Outro dia, na Livraria Praça da Casa Forte, também confeitaria, deparei-me com um livro, onde na quarta capa havia uma informação que me deixou ansioso pela sua aquisição: o dramaturgo escocês conhecido pelo pseudônimo de James Bridie descreveu bem-humoradamente as ações de Eva com a serpente como o primeiro grande passo em direção à ciência experimental, posto que Eva teria lançado mão da característica mais humana de todos os tempos: a curiosidade, o fator primacial de toda incipiente criatividade desde as primeiras idades. O nome do livro é Por Quê? O que nos torna curiosos, Mario Livio, Rio de Janeiro, Record, 2018, 252 p. Uma leitura que busca responder sem eruditismos boçalizantes, algumas indagações que perambulam pelos quatro cantos do planeta: As crianças são mais curiosas que os adultos?; A curiosidade é um produto direto da seleção natural?; Por que as questões mais triviais nos deixam extremamente curiosos?; Por que frequentemente nos esforçamos para decifrar os sussurros de uma conversa na mesa ao lado de um restaurante?; e Como a nossa mente escolhe os objetos da nossa curiosidade? O autor do livro, astrofísico internacionalmente aplaudido, explora várias questões intrigantes por meio da investigação das vidas de curiosos notáveis como Leonardo da Vinci, confessando sua insaciável curiosidade, escrevendo um texto irresistível e divertido, cativante por derradeiro, aprisionando todos aqueles que despertem para o assunto.

5. Costumo dividir minhas leituras em algumas categorias: as que fazem permanecer levemente atualizado na profissão, as que proporcionam momentos de lazer, as que são culturalmente indispensáveis, as que contemporiza uma espiritualidade adquirida ao longo da caminhada terrestre e as que relatam vivências e ocorrências com personagens que elegemos como inesquecíveis. Dentre as últimas acima classificadas, uma me prendeu até altas madrugadas por quase uma semana: Chico, Diálogos e Recordações, Carlos Alberto Costa, SP, Editora O Clarim, 2017, 368 p. Segundo a contracapa, “fatos e documentos foram inseridos nessa edição tornando, assim, imperdível a leitura dessa valiosa obra, que chega para contribuir, ainda mais, com a rica História do Movimento Espírita na Pátria do Evangelho.” Uma edição que comemora os 10 anos do lançamento da edição primeira, com o acréscimo de algumas novidades entre Arnaldo Rocha e Francisco Cândido Xavier, carinhosamente chamados de Amigos para Sempre. Os momentos muitos de convivência entre Arnaldo Rocha (1922-2012), com Chico Xavier foram devidamente catalogados por Carlos Alberto Braga Costa, um mineiro nascido em 1966, iniciado no Movimento Espírita em 1987, havendo sua mediunidade aflorado após anos de intensivos estudos, de onde partiu para difundir a Doutrina Espírita pelos quatro cantos do Brasil, cada vez mais atento às palavras de Divaldo Franco: “Não de pode pregar a Doutrina Espírita na sua pureza e transparência inigualáveis, sem referências à fidelidade do médium Francisco Cândido Xavier para com a mesma, assim como à sua extraordinária contribuição oriunda do Mundo Espiritual Superior de que ele se faz dócil e lídimo instrumento.”
São notas que consolidam o amor pelo Homão da Galileia, sempre solidário com os companheiros da Casa dos Humildes, uma instituição espírita da qual sou soldado raso, onde semanalmente aprendo um cadinho mais sobre como promover uma reforma íntima em meus interiores, favorecendo um caminhar na direção da Luz Infinita sempre misericordiosa para com nossos tropeços cotidianos.
POR QUÊ? O QUE NOS TORNA CURIOSOS
Mario Livio, Rio de Janeiro, Record, 2018, 252 p.
E buscaram responder algumas perguntas existentes no livro, esclarecendo as razões pelas quais a curiosidade é o ingrediente principal da criatividade em todos os ramos de vida, além de principal agente motivacional:
– As crianças são mais curiosas que os adultos?
– A curiosidade é um produto direto da seleção natural?
– Por que algumas questões aparentemente triviais nos deixam curiosos?
– Por que nos esforçamos tanto para decifrar os sussurros de uma conversa na mesa ao lado de um restaurante?
– Como a nossa mente escolhe os objetos de nossa curiosidade?
A leitura deste livro irresistível e muito divertido, muito poderá ampliar os hábitos de leitura e pesquisa de jovens e adultos que tremem diante de qualquer obstáculo cognitivo encontrado, acovardando-se e pondo tudo nas mãos do Criador, ampliando ignorâncias e complexos, provocando ingenuidades dos mais diferentes níveis, imaginando-se ainda os últimos da espécie.

(Publicada em 05.11.2018, no Jornal da Besta Fubana e no nosso site www.fernandogoncalves.pro.br
Fernando Antônio Gonçalves