NO PASSARAN!


Sempre tive vontade de perguntar à minha amiga-irmã Leda Rivas, desde os tempos de inglês, na Brasil-EEUU que existia defronte da Faculdade de Direito, sobre uma das figuras mais emblemáticas da Guerra Civil Espanhola: La Pasionaria. De nome de batismo Isidora Dolores Ibárruri Gómez, líder comunista nascida em Gallarta, Biscaia, província do País Basco, Espanha, em 9 de dezembro de 1895. E eternizada em 1989, em Madrid, no mesmo ano da derrubada do Muro de Berlim.

Posteriormente, um outro amigo espanhol querido, violonista dezoito quilates da Orquestra Sinfônica do Recife, me forneceu mais pormenores. Ibárruri casa-se aos 21 anos com Julián Ruiz, com o desaprovo dos pais, que discordavam das ideias socialistas do genro. Logo depois de casada, após nascimento da filha Esther, falecida prematuramente, ela se inicia na militância, filiando-se ao Partido Comunista Espanhol em 15 de abril de 1920. Transformado em Partido Comunista de Espanha, ela o preside a partir de 1960. E em seu primeiro artigo de jornal, 1918, assina La Pasionaria, pseudônimo que a acompanharia por toda sua existência.

Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), ela instiga os republicanos contra as tropas do General Franco, usando um bordão que ficou mundialmente conhecido: “É melhor morrer de pé do que viver de joelhos! Eles não passarão!” Após a vitória de Franco, exilou-se na URSS, retornando a Espanha em 1977, após a morte do general, sendo eleita para o Parlamento, lá permanecendo líder honorária do Partido Comunista até eternizar-se, em 1989.

Mas a minha curiosidade nunca plenamente saciada só foi ser completada no mês passado, quando me deparei com um livro que, seguramente, me forneceu fatos preciosos. De autoria de um nascido em Palma de Maiorca, PhD em História, MBA em Administração e com atividades acadêmicas em Espanha, Portugal, Itália, Inglaterra, Bélgica, Alemanha e Brasil, Josep M. Buades é autor de A Guerra Civil Espanhola – o palco que serviu de ensaio para a Segunda Guerra Mundial, Contexto, 2013. Nele, o autor ressalta porque a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) não tem nada a ver com os modelos tradicionais de disputa militar. O que faz ressaltar uma questão que ainda hoje desafia os mais experientes analistas históricos: quais os fatores que provocaram aquela guerra civil? Para alguns, para realizar uma imprescindível revolução, que faria o país abandonar em definitivo o status de país subdesenvolvido com amplas injustiças sociais. Para outros, um movimento para eliminar ateus, maçons, e marxistas. Entre tais correntes, a maioria dos espanhóis, que buscavam uma terceira via, se angustiava com a corrida do país na direção do abismo. Segundo Buades, “poucas vezes os intelectuais do mundo se mobilizaram tanto por uma causa como fizeram em relação à Guerra Civil Espanhola. Uma aura romântica transformou o conflito em algo esteticamente atraente. Tornou-se, em muitos registros, uma guerra horrivelmente bela”.

A história da Guerra Civil Espanhola, apesar de truculenta, é uma história que deve ser conhecida por aqueles que buscam encontrar uma chama de esperança para os conflitos contemporâneos, apesar dos múltiplos desencantos que atordoam os esganados por esquerdeiros e direitosos, eternos aproveitadores de uma muito ainda precária cidadania brasileira.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 01.06.2013)
Fernando Antônio Gonçalves