MULHERES NO PODER


Votei na presidenta Dilma, em 2010, com um receio danado de vê-la pau mandado do ex-presidente Lula, saído da ribalta com amplíssimo apoio comunitário e com ares de “voltarei logo”. E fiquei com uma baita expectativa: como se comportarão os machistas homens públicos brasileiros, diante de uma mandatária que nunca tinha se enfronhado numa disputa eleitoral, embora dotada de uma coragem de mamar em onça, segundo trajetória pesquisada por Ricardo Batista Amaral no livro A Vida Quer é Coragem, Sextante, 2011. Concluído com citação oportuníssima do escritor Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Ratificando poema de Cecília Meireles: “aprendi com as primaveras a deixar-me cortar / e a voltar sempre inteira”. Uma trajetória que mostra a presidenta na resistência contra a ditadura, consagrada posteriormente na primeira presidenta do Brasil, república que urge adquirir maior respeitabilidade na comunidade planetária, erradicando os banditismos dos que buscam levar vantagens em tudo, incluindo no acesso escancarado aos cofres públicos. Estejam eles de farda, paletó, beca, indumentária religiosa ou macacão, independentemente de classe social, etnia, sobrenome ou preferência sexual.

Aplaudindo notáveis como Angela Merkel, liderança na austeridade financeira indispensável para a recuperação do continente europeu, e Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, na sua luta por uma nova Lei Orgânica da Magistratura, desentocando bandidos corporativistas travestidos de toga que se imaginam sempre impunes e acima da lei, recomendo a leitura de uma entrevista dada por um outro talento feminino, Meryl Streep, às vésperas da conquista de mais um consagrador Oscar cinematográfico, interpretando Margaret Thatcher, a única mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro na história do Reino Unido (1979-1990), um mulher determinada, embora muito distanciada ideologicamente da contemporaneidade política que o mundo está a merecer.

Na entrevista dada à revista Isto É nº 2204, 08/02/2012, a atriz multipremiada, aos 62 anos, classifica a presidenta Dilma Rousseff de corajosa, ela apoiando cada mulher que “consegue bater o pé”. E diz ainda que “ainda existe um certo desconforto quando uma mulher conquista uma posição de liderança no cenário mundial”. E vai um pouco além: “Elas (as mulheres) precisam estar no governo para tentar fazer as mudanças na educação, na saúde, no meio ambiente e em outras áreas às quais a mulher tradicionalmente dá mais importância”.

Na entrevista, a famosa atriz revela que sua mãe costumava declarar a existência de dois palavrões na língua inglesa: gordo e velho. Segundo ela, “o velho é a pessoa menos importante e interessante para a sociedade consumidora. Ninguém quer saber dos velhos”. Fiquei a imaginar como se sente o José Sarney no Senado Federal, devendo se sentir bastante remoçado ao se deparar com aquele senador do Rio Grande do Norte, de idade pra lá de provecta.

Acredito que a pior velhice é a mental. E nos homens, sem qualquer correlação com o bilau e Bial. Pois existem biais que já de há muito envelheceram, tornando-se gagás para garantir seu salário mensal.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 14.03.2012)
Fernando Antônio Gonçalves