MOTE REDENTOR


De Belo Horizonte, recebo carta do sogro, apelidado de Bellini por ser um aplaudido líder da maçonaria mineira, respeitado pelos quatros cantos dos rincões de Carlos Drummond de Andrade, o poeta que encontrou uma pedra no caminho. Com as linhas bem escritas, humoradas e com com gosto de pão de queijo, veio um recorte de revista, da lavra do sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcellos, que bem poderia catapultar o setor canavieiro do país, hoje a carecer de melhores condições sociais para os seus trabalhadores. Os dados enviados pelo sogro, por quem nutro uma admiração incomum, eu os reproduzo abaixo, com minhas próprias tintas, a quem interessar possa.
A parte mais frágil da história mundial delegou ao presidente Lula, através de mais de 52 milhões de votos brasileiros, a tarefa de “amalgamar a redução da exploração do capital com o nacionalismo anticolonial”. De outro modo: “um governo petista a favor do capital produtivo carece de descobrir urgentemente o alcance social da energia vegetal limpa e renovável, cuja abordagem científica surgiu com a escola da biomassa na seqüência do programa Proálcool durante a década de 70, ciente de que sem soberania nacional, não há cidadania social”.
A receita é exige coragem política decisória de muito respaldo popular: programa de autodesenvolvimento com base na biomassa energética dos pequenos proprietários rurais, favorecendo a agricultura familiar, produziria álcool-combustível, cujo subproduto é um bagaço rico em açúcar para o gado estabulado, que por sua vez gera esterco para o adubo orgânico, além da oportunidade de produzir também rapadura, melado e açúcar mascavo.
Voz corrente em Minas: onde se faz cachaça, se produz álcool. E a única maneira de fazer uma reforma agrária geradora de riquezas é por meio da produção de álcool, mediante a socialização popular da biomassa em pequenas propriedades, criadora de mão-de-obra rural, a produzir energia e comida.
Por lá, todos estão torcendo para que o presidente Lula acione sua equipe técnica no sentido de melhor se inteirar do caminho do autodesenvolvimento por intermédio da biomassa, opção estratégica adequada aos trópicos, criando empregos sem capitais internacionais, favorecendo o desenvolvimento de uma tecnologia própria sem royalties e know-hown externos.
A conclusão do Gilberto Vasconcellos é pertinente: “Se porventura o governo Lula der as costas ao programa energético de emancipação popular e nacional dos trópicos, lamentavelmente não se diferenciará do figurino tucano, portanto será condenado pelo tribunal da história através da fórmula petucana”.
Propor não ofende: uma reunião técnica, ainda nos primeiros tempos de governo, entre o físico Luiz Pinguelli Rosa, o geólogo Marcelo Guimarães, exímio conhecedor das florestas tropicais, e o Lúcio Gutierrez, presidente da CUT mineira, para um papo a trois, sem subterfúgios, para análise criteriosa das linhas escritas pelo Gilberto Vasconcellos, um profissional de larga respeitabilidade no cenário nacional, inteirado dos sofrimentos de um povo que deposita integral confiança no presidente Lula, nos seus propósitos de restauração da dignidade pátria, sem sebastianismos nem acachapamentos.
O ideário da não-violência permeia o ideário do presidente, um pernambucano arretadamente nordestino: tentar resolver sempre seus problemas pacificamente; tratar todos os seres vivos e a terra com respeito; tentar ser gentil em todos os pensamentos, palavras e ações; atacar problemas e não as pessoas; trabalhar para fazer as coias mais justas para todos; aceitar que os outros são diferentes mas todos são importantes; ensinar os outros a viver em paz.
A carta do sogro Bellini me fez um bem aloprado. Porque bem traduz os anseios de múltiplos segmentos sociais, numa ciência unânime de que a soberania nacional passa pela dignificação de todos os brasileiros.