MOMENTOS LÚDICOS
Sempre que a oportunidade favorece, tenho me desanuviado com o João Silvino da Conceição, um irmão querido repleto de boas histórias, descompressoras por excelência. Na sua casa-mínima, ele me recebeu sábado passado, como de costume muito bem humorado com a Vida. E entre uma beliscada e outra numa carne de sol desfiada a capricho pela filha do vizinho, uma quase-coroa morena recheada de muita energia “in pectoris”, o Silvino me mostrou um caderno de notas muito diferente dos anteriores. Um caderno de “causos engraçados”, contados pelos amigos do dominó, jogado aos finais de tarde, um pouquinho antes do escurecer total.
Confesso que alguns “fatos” já eram do meu conhecimento, embora outros tantos me deixaram com jeito de menino risão. Entre seus alfarrábios, uma vintena de novas “definições” para termos já bastante conhecidos pela versão antiga: amazonas – indivíduo apaixonado por áreas de baixo meretrício; depauperado – que foi operado de fimose; desdentadas – o mesmo que dez mordidas; desviados – uma dezena de gays; detergente – ato de prender indivíduos suspeitos; documentado – pessoa que tem como hábito passar menta no ânus; esfera – animal selvagem já domesticado; esperto – o mesmo que distante; estouro – bovino que sofreu operação de mudança de sexo; extenso – pessoa muito tranquila; edifício – antônimo de “é fácil”; encurralar – esfolar o ânus; paulatino – órgão genital de indivíduo nascido na América do Sul; perigosa – personagem de José de Alencar em estado de êxtase com Ceci; quilombo – expressão de admiração quando avistamos um traseiro muito bonito; tripulante – especialista em salto triplo; unção – erro de concordância, o certo sendo “um é”.
Depois de umas “guaranás” louríssimas e dezenas de gargalhadas, o Silvino resolveu mostrar umas outras historietas, baseadas todas em fatos pitorescos, anedóticos e reais. Algumas delas merecem transcrição, com as correções gramaticais necessárias:
1. Um nobre e rico aristocrata estava dando uma festa na sua mansão e reparou que um dos convidados se parecia extremamente com ele. Pensando que uma tal semelhança não era possível sem laços de sangue e imaginando uma possível aventura do pai, aproximou-se do convidado e perguntou:
– A sua mãe foi alguma vez empregada desta casa?
– Não, mas o meu pai foi jardineiro aqui, respondeu o antenado visitante.
2. Sabem qual é o cúmulo da globalização recente? Uma princesa inglesa e seu namorado, um playboy egipcio, viajavam em um carro alemão dirigido por um motorista dinamarquês que encheu a cara de whisky escocês. Eles eram perseguidos em alta velocidade por fotógrafos italianos pilotando motocicletas japonesas. O carro bate em um túnel francês e a princesa é atendida por um médico brasileiro. Ela morre e seu corpo é levado para a Inglaterra em um avião americano.
3. Joãozinho e um primo estavam se divertindo na enorme banheira havia mais de uma hora. Aí a Mariazinha entrou no banheiro.
– Posso brincar também? – perguntou, já tirando a roupa.
– Nada disso – berrou Joãozinho. – Você não está vendo que nós estamos brincando de submarino?
– E daí? Por que é que eu não posso brincar de submarino também?
– Porque você não tem periscópio…
4. Menininha chegou em casa, vinda escola.
– Mãe, na escola os professores vivem dizendo “É preciso andar rápido, para frente, sempre para frente!” Me diga uma coisa, mamãe: onde é a frente?
5. Raciocínio corretíssimo de uma pré-vestibulanda do prédio onde moro: “Se o mundo fosse lógico, os homens é que montariam de lado”.
6. Numa festa recente, portentoso anel de diamante acasalava-se num dedo esmaltado a capricho de uma atraente eva, despertando admirações.
– É diamante?, indagou uma senhora, curiosidade titanic.
– Não, amiga, é do meu marido mesmo, respondeu a madame, sorriso todo maroto.
Devorada a carne-de-sol e ampliado o astral, já quase noitinha, despeço-me do João Silvino, crítico feroz do “esculhambation system” que se explicita, no Executivo e Legislativo brasilienses, pelas meias, bolsas e cuecas de celerados, capitaneados por um governador inescrupuloso.
PS. Eternizou-se o empresário José Mindlin. Um exemplo notável de amor aos livros.
(Portal da Revista ALGOMAIS, 01/03/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves