MEDIDAS CAUTELARES


No mundo contemporâneo, um binômio tornou-se indispensável, de extrema valia para o desenvolvimento de profissionais, empresas e comunidades grandes e pequenas. Competência x criatividade, irmãs siamesas, estão se tornando requisitos primordiais, para quem deseja enfrentar, sob a vertente integrada Trabalho-Capital, os desafios proporcionados pelas turbulências conjunturais do mundo contemporâneo, valorizando o pensar antológico do poeta Fernando Pessoa: “Viver não é necessário, o que é necessário é criar”.

Estamos emergindo de um período pouco democrático onde muito pouco se questionou, onde as questões mais estruturadoras foram escanteadas do conhecimento comunitário nacional, quando predominavam interpretações simplistas ou simplórias sobre fatos do cotidiano, negligenciando-se aspectos históricos, políticos e sociais dos ontens pátrios. E onde decisões significativas foram tomadas por minorias ínfimas, frutos de comprometimentos com outros bem poucos, alienígenas, como se o decidido de cima para baixo não violentasse, despersonalizando a nossa identidade cultural. Atrofiada a discussão democrática, estrangulou-se a visão macro-estratégica, disseminando-se um sentimento maniqueísta, resultante de um pensar dualista já ultrapassado, hoje carta fora do baralho, sem eira nem beira.

A profunda crise que vem se abatendo sobre o contexto planetário tem acarretado fortes impactos indutivos no processo de formatação de novas estratégias, públicas e empresariais, afetando o desempenho organizacional do conjunto, que exige, hoje, para a superação dos obstáculos oersistentes, uma formação cultural consistente, polivalente até, para que se possa entender os sistemas de trabalho e os seus interrelacionamentos, a complexidade dos ambientes externos, tudo integrando-se nas engrenagens de um processo de desenvolvimento, ainda hoje muito mais voltado para o financeiro do que para o social.

O instante nacional está a exigir novas posturas profissionais e posicionamentos estratégicos, onde o binômio competência x criatividade deve estar vinculado a um compromisso social edificado num planejamento de longo prazo exequível e politicamente convincente. Servirá tal binômio de pano de fundo para a formatação de cenários futuros que tenham como meta última a sobrevivência de seres humanos e organizações. Apta para enfrentar novas alavancagens desenvolvimentistas pós-crise, que certamente será de um outro padrão, mais social que apenas economicista, posto que a solução dos nossos mais cruciantes problemas não surgirá do acaso, nem advirá de caminhos trilhados por um pessimismo nostálgico, tampouco eivado de derrotismos ingênuos.

À sociedade como um todo, parte empresarial e parte pública, caberá a intensificação da pesquisa, a reflexão crítica propositiva multiplicadora, as propostas de novas metodologias, a compreensão maior dos derredores locais e regionais, a pregação da paciência sem pieguismos cavilosos, sem esmorecimentos e o constante estímulo para o reconhecimento dos erros e acertos de todos nós, reanimando-se os omissos, superando-se os despreparos, envolvendo todos num salutar processo de participação integrada. Paulofreireanamente libertadora.

O poeta Fernando Pessoa soube magistralmente conjugar o binômio competência x criatividade, a envolver um compromisso social bandeira de todos: “Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade”.

O que não tínhamos, há algumas décadas, temos agora em expansão: redes sociais que favorecem quase instantaneamente o conhecimento do que se passa nos quatro cantos do planeta, anunciando, denunciando, compartilhando, conscientizando, guttemberguizando novamente a aldeia global, que necessita ser mais solidária para com os que ainda são privados de liberdade, dignidade, arroz, feijão e participação.

É o que os mais lúcidos pretendem fazer, com a ajuda de todos, o Brasil acima de tudo. Quem com criatividade souber viver, participará de um contexto nacional, fazendo história nova sem sectarismos de espécie alguma. Caso contrário, ficará sempre com o rabo entre as pernas, imaginando-se coitadinho ou bolando soluções messiânicas do tipo “ou vai ou racha”, de desfechos históricos por demais conhecidos dos mais entrados na idade.

(Publicada em 16.04.2012, no Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.hotmail.com)
Fernando Antônio Gonçalves