MEDALHA HÉLDER CÂMARA


Na terça-feira passada, 13 de dezembro, a Câmara Municipal de Olinda outorgou a Medalha Dom Hélder Câmara de Direitos Humanos a quatro homenageados, um deles a minha muito amada Melba Martins, companheira militante de uma caminhada palmilhada de muita obstinação solidária para com os menos favorecidos nos seus direitos essenciais.

A Medalha Dom Hélder Câmara, já na sua décima edição, é iniciativa do vereador olindense Marcelo Santa Cruz (PT-PE), um dos batalhadores mais valorosos dos Direitos Humanos do Brasil, também coordenador adjunto do CENDHEC – Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social, do qual fui fundador e primeiro presidente, juntamente com ex-companheiros da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife, todos defenestrados por um arcebispo metropolitano sucessor do Dom, muito pouco dotado de sensibilidade social e que por aqui aportou, a mando vaticano, imaginando ser a Arquidiocese de Olinda e Recife um antro de subversivos pouco submissos às ordens de Roma.

Além da minha emoção em ver a homenagem prestada à Melba, algumas presenças muito me sensibilizaram: os Gonçalves, as netas Lara e Júlia, o deputado Betinho Gomes, o prefeito Renildo Calheiros, os amigos queridos Almeri Bezerra, Marta Marques, Saulo e Rosanna Gorenstein, Raúl e Amelinha Córdula, Antônio Inocêncio Lima, entre tantos outros que se fizeram presentes, testemunhas oculares da concessão de uma Medalha que honra sobremaneira a Câmara de Vereadores de Olinda, eterno berço libertário da soberania brasileira, cidade eterna e monumento secular, que acolheu, na Igreja da Sé, os restos mortais do Dom da Paz, do Amor e da Justiça Social.

Duas outras iniciativas também profundamente me tocaram, ambas da lavra do vereador Marcelo Santa Cruz, irmão de Fernando Santa Cruz, desaparecido em fevereiro de 1974, num sábado de carnaval, após visitar amigos no Rio de Janeiro, um líder estudantil até hoje considerado “um companheiro de luta, um companheiro de pensamento, um companheiro de análise de vida”, tal como fez Eric Hobsbawun numa carta imaginária encaminhada a Antônio Gramsci, em 23 de março de 2007, inserida no livro Antônio Gramsci Em Contraponto – Diálogos com o Presente, de Giorgio Barata, editora Unesp, 2011.

A primeira, emocionando todos os presentes, principalmente os que conviveram com a voz do Dom: a reprodução sonora de uma pequena reflexão sobre a missão do ser humano nos tempos de agora. A segunda consistiu na distribuição entre os presentes de fotocópias de matéria publicada na revista Teoria e Debate n° 81, março/abril 2009, divulgação bimestral da Fundação Perseu Abramo. Intitulada O Dom do Amor e da Justiça Social, nela o vereador Marcelo Santa Cruz retrata a caminhada episcopal do Dom na Arquidiocese de Olinda, iniciada doze dias após o golpe militar que infelicitou a gente brasileira. Na matéria, o vereador Marcelo Santa Cruz reproduz uma reflexão do Dom, proferida em 1973, em Houston – EEUU, por ocasião do 25° aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Quando se lê e relê essa Declaração, que é uma síntese dos mais altos e mais puros anseios da pessoa humana, verifica-se que todos esses direitos estão longe de se transformar em realidade (…). Ou esta Declaração é desprezada e vista como um papel a mais, entre tantas outras letras mortas; ou vira carne de nossa carne, sangue de nosso sangue, pedaço de nossa alma. Não temos o direito de simplesmente armar discussões amáveis sobre assuntos tão graves, para depois dar tudo em nada”.

A solenidade foi concluída com a fala do prefeito Renildo Calheiros, que arrancou entusiásticos aplausos dos presentes ao anunciar a breve edificação do Memorial Dom Hélder Câmara nas proximidades da Igreja da Sé.

Depois da solenidade, orgulhoso da caminhada da Melba, meu facho de luz cotidiano, mentalmente reproduzi para meus interiores os versos do Dom lidos por ela, ao final da sua fala de agradecimento: “Pouco importa que ao chegar, / Eu nem pareça pássaro… / Pouco importa que ao chegar / Eu venha sem apumo e sem apreço… / O que importa é cumprir a missão… / E cumpri-la até o fim!”

(Publicada em 19/12/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves