MARAVILHAS DA MATEMÁTICA
Entre os lançamentos últimos promovidos pela editora Companhia das Letras, três deles estão tomando minhas horas noturnas de leitura. Livros que mesclam maestria, encantamento temático, incríveis passatempos, história sem erudições pernósticas, situações engraçadas, seriedade analítica e reflexões sobre ontens e anteontens para entender determinadas etapas da evolução humana. Além de oferecerem uma viagem ao mundo maravilhoso da Matemática, recheada de personagens interessantíssimos, a começar pelo linguista francês Pierre Pica, ex-aluno do notável norte-americano Noam Chomsky, um estudioso do idioma dos índios mundurucus, que vivem na Amazônia, cujo aeroporto mais próximo está situado na cidade de Santarém, 750 quilômetros rio Amazonas adentro, a partir do oceano Atlântico.
Intitulado Alex no País dos Números, Companhia das Letras, 2011, o primeiro livro é de Alex Bellos, um nascido em Oxford, graduado em matemática e filosofia, quatro anos de Rio de Janeiro, que resolveu incursionar pelos meandros dos números, confeccionando páginas onde ele narra suas inusitadas andanças para leigos e especialistas no mundo dos números, tudo devendo ser classificado como um entretenimento intelectual de primeiríssima grandeza.
No capítulo 0, intitulado Cabeça para Números, Bellos revela que os números talvez não tenham mais de 10 mil anos de idade, muito embora ancestrais anteriores a essa época já deveriam ter manifestado sensibilidade para quantidades. E os munducurus tinham um contar até cinco, segundo os diversos relatos sobre sua existência, datados de 1768.
O segundo livro, Incríveis Passatempos Matemáticos, é uma edição Zahar, 2010, onde seu autor, Ian Stewart, um dos mais famosos matemáticos contemporâneos, professor emérito da Universidade de Warwick, é um mundialmente conhecido colecionador de curiosidades matemáticas e seu livro explicita uma série de problemas matemáticos, todos trazendo suas soluções ao final, incentivando descobertas e outros raciocínios. No texto, ele cita uma famosa pergunta que Abraham Lincoln fez a um adversário político que defendia ser a escravidão uma forma de proteção: “Quantas patas um cachorro terá se chamarmos seu rabo de pata?”
Os problemas avocados por Warwick despertam inúmeros espantos. Como, por exemplo, o número 153 que é a soma dos cubos dos seus algarismos, informando que 370, 371 e 407 também são possuidores da mesma propriedade. E ele ainda cita algumas reflexões de matemáticos famosos: “A matemática é a rainha das ciências” (Carl Gauss); “A matemática é a ciência que utiliza palavras fáceis para ideias difíceis” (James Newmann)
O terceiro livro é de longe o que mais desvenda segredos e temores, “mostrando com entusiasmo que os números não são coisas chatas e desinteressantes, mas envolvem conexões intrigantes, rivalidades, documentos secretos e até mortes misteriosas”. Ratificando Evan Wexter, entusiasta da ciência, “a matemática, surpreendentemente, pode ser muito mais sedutora que aquela apresentada pela média dos livros didáticos”, no livro O Livro dos Números – Uma História Ilustrada da Matemática, de Peter Bentley, Zahar 2009, há divertimento e muitas explicações, indo desde a criação do zero até ao infinito, propiciando ao leitor inúmeros boxes explicativos, inclusive mostrando como a utlização da criptografia na Segunda Guerra Mundial deu origem à informática moderna. Um excelente presente para aqueles que, vestibulandos de Ciências Físicas e Exatas, buscam aprimorar seus conhecimentos, sempre utilizando os mecanismos lógicos da Matemática.
Confesso ser um apaixonado pelos números. Desde a juventude, quando li, pela vez primeira, A Magia dos Números – a matemática ao alcante de todos, de Paul Karlson, editora Globo. E descobri ser a Matemática a ciência-chave para todos os demais ramos do pensamento e da pesquisa científica. Até hoje alumiando minha ignorância em tudo.
PS. Com a crescente crise da ciranda financeira mundial, nunca será demais alertar que 2 + 2 não é mais 22, mas apenas 4. Que o diga Barack Obama.
(Publicada em 21.07.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves