LULEU E ROSIETA


Para os antenados leitores desta Besta Fubana, sempre cidadã e muito arretada, exemplarmente coordenada pelo papa Berto, de mente, olhos e ouvidos parabólicos, reproduzo o que recebi do autor Fred Monteiro, alagoano 45, casado, três filhos e netos, procurador geral aposentado, músico profissional e folhetista de cordel para papangu se urinar de tanto rir: Luleu e Rosieta, Um Romance à Brasileira, editado na Cordelaria Monteiro, em maio passado, já com algumas edições esgotadas. Sem tirar nem pôr:
1. No Reino do Bananal, / um país meio aloprado, / surgiu um dia um casal / que já estava fadado / a fazer parte da história / se bem que sem muita glória. Corrijam se estou errado.
2. Eu vou contar a vocês / como tudo começou: / ele era o antiburguês / e assim que iniciou / carreira sindicalista / se tornou mero fascista / com tendência a ditador.
3. Falava em qualquer comício / como um sujeito decente / e sem muito sacrifício / enganava toda a gente. / Sua cultura raquítica, / como convém na política, / começava a ganhar frente.
4. Fundou partido operário, / bem vermelho e revoltado, / que lutava por salário do tal proletariado / mas que no fundo almejava / o poder, que só teimava / em ir para o outro lado.
5. Convenceu a classe média / que ele era a salvação / e seria uma tragédia / se perdesse a eleição. / Candidato derrotado, / repetia este seu fado /sem perder a direção.
6. Até que um dia se elege / e aí começa o drama / pois logo tornou-se hereje,/ deitou na fama e na cama, /meteu os pés pelos pés, / distribuiu capilés / e espojou-se na lama.
7. E logo entornou a pipa, / reformou toda a “fachada”,/ arrumou-se com uma “tipa” / que de “besta” não tem nada. / Uma tal de Rosemary / que morde, agrada e não fere / feito bichinha assanhada.
8. Essa dona, com prazer, / conquistou o manda-chuva, / infiltrou-se no poder, / de tamarindo fez uva, / passou a mandar em tudo. / Conquistado o casacudo / lhe dava tapa de luva.
9. Viajou muito à vontade / por dezenas de países / no lugar da titular / e foi criando raízes. / Na cabine do avião, / ela jogava um bolão, / não deixava cicatrizes.
10. E o presidente abobado / fazia todo o seu gosto. / Entregou-lhe o seu reinado, / mostrou-se muito disposto /
a fazer qualquer benesse. / O que a Rose quisesse, / cumpriria sem desgosto.
11. O Cara foi se enredando / com Rosemary, afinal / que um belo dia acordando / leu de pronto no jornal / A tramóia descoberta / a intimidade aberta / foi tombo descomunal.
12. O choque foi tão agudo / que o papagaio falante / se tornou bicho trombudo / e naquele mesmo instante / teve horror a microfone, / desligou o telefone / e na hora ficou mudo.
13. Hoje faz mais de seis meses / que Lula, rei da mentira, / escondeu-se dos fregueses, / camuflou a “pomba-gira”, / não quis mais um holofote, / apagou o seu archote / e multiplicou sua ira.
14. Rosemary, esse mistério / ninguém sabe se está viva / ou em algum ministério / fazendo uma tentativa / de esconder da polícia / toda aquela imundícia / que tramou quando era ativa.
15. O ex-presidente, então, / que já foi um poderoso, / fechou o seu matulão. / Boca-de-siri manhoso, / não fala nada de nada / camuflando a sua “fada”, / se escondendo do seu povo.
16. Então, seu ex-presidente, / escolha agora o caminho. / Assuma o caso pendente / e abrace o seu espinho / porque já cheirou a Rosa, / que um dia foi formosa / e ainda quer seu carinho.
17. E que os dois, abraçados, / paguem pelo desmantelo / junto com os apaniguados. / Que desenrolem o novelo / de toda essa trambicagem./ É esta a minha mensagem / do nosso povo é o apelo !

Para quem ainda desconhece a personagem feminina do romance, trata-se de Rosemary Noronha, Rose nas intimidades, “filiada ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, cuja sede ficava ao lado da presidência do PT, na rua Tabatinguera, no centro de São Paulo. … A jovem Rose, de formas avantajadas, conhecida como ‘a bunduda do sindicato’ era cobiçada pelos petistas. … O primeiro a fisgá-la seria Dirceu, que a contratou como secretária do partido, no início de 1995. Lula logo se aproximou da bela secretária”, segundo relato do jornalista Otávio Cabral, autor da biografia Dirceu: do movimento estudantil a Cuba, da guerrilha à clandestinidade, do PT ao poder, do palácio ao mensalão, editado pela Record, 2013.

E eu agora termino / Rindo que só menino / Do poeta e procurador / Sobre Luleu e Rosieta / De vidas não parecidas / Com Romeu e Julieta.
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Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social.

(Publicada em 08.07.2013, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves