LUIZ BERTO, DE NOVO


Dá gosto ler um livro que deixa a gente com vontade de quero mais, concluída a sua leitura. Do mesmo modo que existem leituras que provocam bocejos, há milhares de páginas escritas por desabestlhadores, destinadas a leituras e releituras, tamanha sua capacidade de encantar olhos, mentes e corações. O Luiz Berto, um palmarense da gota serena, agora morando no Recife, é um desses escritores que se distanciam anos-luz dos escrevinhadores, alguns até de academias famosas, daqui e de outras plagas. Sua nova criação, Memorial do Mundo Novo, editada pela Bagaço do Arnaldo Afonso, um espalhador cultural ouro de lei, tem bons “ancestrais”: O Romance da Besta Fubana e A Prisão de São Benedito. O primeiro foi laureado com o Prêmio Literário Nacional e com o Prêmio Guararapes, da União Brasileira de Escritores/Rio de Janeiro. O segundo, um conjunto de crônicas já na quarta edição, uma recomendação de muito bom calibre.
Desafio os leitores deste matutino querido a dizer qual dos três trabalhos do Luiz Berto é o mais bem escrito. Já me propus diversas vezes a proclamar o preferido, me derretendo todo de indecisões, embora nunca ignorando que O Romance da Besta Fubana é o mais conhecido deles. Uma ficção estupenda, que tem um personagem que sentencia com muita propriedade: “Pode-se perdoar tudo num homem, menos que não bote força pra deixar de ser burro”. Uma lição que deveria estar fincada na primeira página dos cadernos escolares de todo estudante de primeiro grau maior. E nos demais níveis também.
No Memorial do Mundo Novo baliza-se o surgimento do Estado de Pernambuco, desde quando por aqui passou a flotilha do Capitão Vicente Iañez Pinzon, em 20 de fevereiro de 1500, que trazia o bombardeiro espanhol Diogo de Paiva, embrenhado mata adentro, apaixonado de pronto pela “terra dos altos coqueiros, de beleza e soberbo estendal”, e também, talvez até principalmente, pelos corpos das nativas, “de abundantes sessos, braços roliços, ventres macios, colos bronzeados, vastos seios, delgadas cinturas, pretas cabeleiras e uma excitante visão das naturas sem pelos”. Que deixaram o nosso primeiro imigrante de mastro permanentemente alevantado, ele que posteriomente formou, com Jerônimo de Albuquerque e Vasco Fernandes da Cunha, o mais eficaz trio copulador que se tem notícia na história dos ajuntamentos corporais das terras recém descobertas. Multiplicadores populacionais muito aplaudidos pela Santa Madre Igreja, adepta número um do “crescei e multiplicai-vos” bíblico, ainda que nos “frentados” (nunca costados) das nativas das terras recém conquistadas.
Caberá ao leitor do Memorial do Mundo Novo acompanhar a saga heróica do bombardeiro Diogo de Paiva, assassinado às primeras horas de uma manhã do dia 23 de junho de 1996, longe de sua querida Olinda, “cidade que ajudou a soerguer depois da destruição levada a cabo pelos holandeses”. Compreenderá sua passagem pela gestão do Maurício de Nassau, sua atuação na Revolução Pernambucana de 1817, seus encontros com o empreendedor Barão de Mauá e ainda a sua presença no Palácio do Catete, na manhã do trágico 24 de agosto de 1954, quando do tiro getulista no peito, que enviesou a trajetória dos acontecimentos. Um valente pioneiro que muito amou a terra e tudo que nela humanamente brotava, botando até pra correr o destemido capitão Cristóvão Jacques, um francês xexelento de cara feia, que daqui arribou após exemplarmente mangalhado pelo próprio Diogo, depois de colocado de quatro, sem a farda, tudo ao vento, diante dos olhares aprovadores de milhares de nativos, numa emboscada de muita astúcia.
A leitura do Memorial do Mundo Novo, do Luiz Berto, ampliará seguramente a nossa pernambucanidade. Uma leitura que engrandec