LIVROS PARA PRESENTES
Como poderíamos melhorar a classificação brasileira no PISA, aquele teste internacional que avalia o desempenho da estudantada de 15 anos realizado em 65 países? Segundo os resultados últimos divulgados, o Brasil obteve melhoras em leitura, matemática e ciências, mas continua ocupando as derradeiras colocações. Em leitura, o país ficou em 53º. lugar, 57º. em Matemática e 53º. em Ciências, a China ocupando o primeiríssimo lugar nas três categorias, fazendo barba, cabelo e bigode, na gíria popular. Entre nós, a dupla Distrito Federal e Santa Catarina obteve, respectivamente, as duas primeiras colocações nas três áreas avaliadas.
Segundo o pesquisador Célio da Cunha, da Universidade de Brasília, “o Brasil tem um nó que não conseguiu desatar, que são as séries iniciais do fundamental, onde há repetência. Essa faixa precisa de mais atenção, é o alicerce para a boa capacidade de leitura”. Opinião ratificada por Paulo Fontani, coordenador da área de educação da Unesco: “os alunos que têm acesso a livros em casa têm desempenho melhor, o que nem sempre acontece nos lares brasileiros”. Na grande maioria das residências brasileiras de classe média, a inexistência de estantes com livros é constatada com espantosa facilidade. Inúmeros imaginando que a eletrônica substituirá os livros, uma ilusão jumentálica, pelo menos para os próximos 50 anos.
Acredito piamente que uma boa leitura amplia a enxergância crítica, desenvolve a logicidade argumentativa, descortina amanhãs e fortifica uma tesão existencial indutora que amplia aspirações e iniciativas na busca de profissionalidades promissoras.
Apenas para efeito de alerta, comparando-se o desempenho brasileiro com o chileno, os dados são preocupantes. Há dez anos, os dois países partiram de patamares semelhantes. Os últimos resultados apontam os chilenos com uma vantagem de 40 pontos sobre os brasileiros no teste de leitura. Com um agravante: as notas dos jovens chilenos mais pobres cresceu 51 pontos, enquanto a dos brasileiros de mesma condição social melhorou apenas cinco.
Raros os brasileiros que leram o muito polêmico Allan Bloom, um dos mais controvertidos ensaístas norteamericanos. Seu livro O Declínio da Cultura Ocidental tornou-se best-seller, já tendo vendido mais de um milhão de exemplares. Segundo Bloom, “a essência da educação é a experiência da grandeza”. Ele bem ressalta a perfeição da fórmula de Pascal – sabemos muito pouco para sermos dogmático e muito para sermos cético – defendendo a vida téorica dos assaltos próprios de um tempo que despreza a filosofia, que asfixia a estratégia em detrimento de táticas imediatistas, eleitoreiras algumas, nunca políticas, todas oportunistas, até desabridas, como aquelas atitudes que buscam conquistar cinco minutos de fama, que favorecem o agigantamento de estroinices das mais variadas espécies, inclusive dos que teimam em ressaltar conteúdos estupidificantes, asininos até, imbecilizantes todos.
Diz ainda Allan Bloom: “A filosofia, a inimiga das ilusões e das falsas esperanças, nunca é realmente popular, sendo sempre suspeita aos olhos dos que apoiam qualquer dos extremos que estejam no poder”. E a saída por ele apontada deveria ser merecedora de respeitosa atenção: a descoberta das nossas próprias idéias. A partir de leituras estruturantes, dessas que favorecem a “sustança do conhecimento”. Qualquer professor universitário dotado de uma bagagem cultural minimamente contemporânea atesta o declínio do nível cultural dos atuais corpos discentes, com as exceções de sempre cada vez mais mínimas. As bibliotecas do ensino superior brasileiro estão chochas de atualizações periódicas, apesar dos apelos continuados das bibliotecárias, por quem nutro admiração ímpar.
Felizmente, e o entusiasmo está crescendo, os textos elaborados pelos historiadores contemporâneos estão despertando um interesse cada vez maior entre acadêmicos e não-acadêmicos desabestalhados. Como exemplo, cito um lançamento que está bombando nas principais livrarias brasileiras: uma História do Brasil contada sem eruditismos cavilosos nem bajulismos oficiais. Brasil: uma história, eis um presente de Natal porreta, de Eduardo Bueno, também autor da coleção Terra Basilis, esplendidamente editada pela editora Leya. Um livro que saiu das salas de aulas, está ampliando a imaginação de milhares de leitores, fascinando gregos e troianos, por conseguir imbricar o rigor da pesquisa e a delícia de estilo.
Uma segunda indicação, mais acessível ao bolso: Quando Tudo Não é o Bastante, do rabino Harold Kushner, editora Nobel. Em nova edição ansiosamente aguardada. Um texto que foge dos lugares-comuns e das receitas prontas de felicidade humana, segundo palavras do padre Humberto Porto, da Comissão Nacional do Diálogo Católico-Judaico do Brasil. Um texto que retempera ânimos e esperanças, fortalecendo caminheiros de todos os quadrantes.
Por fim, um apelo aos professores, pais e avós dos jovens brasileiros: nesta época de férias, presenteiem seus entes queridos com livros, para que eles possam reconhecer no cenário mundial os gigantes de fanfarria e os anões neuroniais, cidadanizando-se mais. Um procedimento que está se tornando inadiável para uma estratégia nacional de desenvolvimento cientificamente auto-sustentável.
Ampliar nossa cidadania urge depressa. Estamos precisando de brasileiros que percebam a realidade num patamar ainda muito distanciado dos “olimpiquismos” academicistas, dos burocracismos pedantocráticos e dos populismos maneiros dos apenas engabeladores de abestados.
PS. Um 2011 ainda mais cidadão para todos os brasileiros, sem discriminação de etnia, gênero, crença, local de nascimento, sobrenome, renda, grau de instrução e conta corrente!! E viva a WikiLeaks!!!
(Publicada em 27/12/2010, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves