LIVROS E FUTUROS


No próximo ano, o mundo será contemplado com um gigantesco mecanismo de ampliação cultural: uma biblioteca digital de acesso radicalmente gratuito, com milhões de livros à disposição de todos. A opinião é de Robert Darnton, professor de Harvard e diretor da biblioteca daquela universidade: “Vejo um futuro em que haverá a coexistência entre livros impressos e digitais. Quando Gutenberg inventou a impressão por tipos móveis, século 15, foi uma revolução, mas a produção de manuscritos aumenta até o século 18. Ou seja, toda comunicação se torna mais rica e mais complexa”. Segundo ele, criar tal plataforma, sem interesses lucrativos, será a maior oportunidade da sua vida. Com 73 anos, ele verá disponibilizadas as obras anteriores a 1923, já de domínio público, que totalizam 2 milhões de títulos.

Duas dicas o Darnton ofereceu aos brasileiros, quando da sua recente passagem por São Paulo, no Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural: os olhos do mundo empreendedor norte-americano estão se voltando para a América do Sul e Ásia, as novas gerações estudando espanhol e mandarim. E a constatação de que, hoje, as bibliotecas estão mais frequentadas, as consultas se multiplicam, as pesquisas no Google e no Wikipedia se agigantam, e a demanda por orientações com bibliotecários se amplia. Ratificando a necessidade de universidades como a UPE de instituir curso de Biblioteconomia capaz de atender as exigências dos amanhãs que velozmente se aproximam, num Pernambuco que fortemente busca se multiculturalizar além dos equipamentos já existentes. A formação de bibliotecários guiadores pelo ciberespaço favorecerá a criatividade do pernambucano, um povo que necessita compartilhar seus passados altaneiros com os porvires de uma modernidade que catapulta talentos. Minimizando, através de uma política cultural consistente, a distância entre os mais e os menos capacitados.

Dados estatísticos para os nostálgicos e desesperançosos: na China, a produção de livros dobrou nos últimos dez anos, em 2009 o planeta atingindo a fantástica marca de um milhão de novos titulos impressos.

Recomendaria para todos os amantes de livros, um lançamento da Editora Senac, 2012: Livro, Uma História Viva, de Martyn Lyons, tradução primorosa de Luís Carlos Borges. Que ressalta ter sido o livro de capital importância nos diversos momentos históricos da Humanidade: no Renascimento, na Reforma, na Revolução Científica e no Iluminismo. Para não falar nas Revoluções que transformaram ontens e instauraram hojes que serão superados pelos amanhãs, num vir-a-ser evolucionário.

No texto do Lyons, reverencia-se os trabalhadores do livro, reproduzindo questionamento feito por Bertolt Brecht, em “Perguntas de um operário que lê” (1935): “Na noite em que a Muralha da China foi terminada, para onde foram os pedreiros?” No dias de hoje, Brecht certamente perguntaria: “Com os avanços tecnológicos, os livros hoje não poderiam reduzir bastante as alienações, ampliando significaticamente a cidadania libertadora dos trabalhadores?”

Desenvolvimento não é crescimento, eis a questão. E o futuro depende dos desabestalhadores de sempre, cidadãos de um mundo sempre inconcluso, onde tudo nunca será o bastante, como nos ensinou o famoso rabino Harold Kishner.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 27.06.2012
Fernando Antônio Gonçalves