LIDERANÇA NOTÁVEL


Há biografias que engrandecem a cidadania mundial, enobrecendo a raça humana. Uma delas, por mim lida num final de semana esticado, foi Lincoln, de Doris Kearns Goodwin, escritora Prêmio Pulitzer de História, cujo livro baseou o filme de Steven Spielberg. Segundo o The New York Times Book Review, “um estudo elegante e preciso, que descreve de maneira brilhante como Lincoln forjou um time que preservou a nação e libertou os Estados Unidos da escravidão.” Segundo opinião quase unânime da crítica literária, “o mais rico e detalhado relato sobre a Guerra Civil americana.”

Não resta dúvida que a historiadora escreveu uma portentosa biografia de um dos mais emblemáticos presidentes norte-americanos. Um relato que proporciona uma visão esclarecedora da Guerra Civil americana e seus principais personagens. A autora retrata ainda homens extraordinários que foram rivais de Lincoln por ocasião da indicação do Partido Republicano, em 1860.

Uma abundância de documentos deixada pelos concorrentes que se transformaram em colaboradores, ratificam a genialidade política de Lincoln – diários, cartas, declarações a terceiros, missivas familiares, além de um sem-número de outras declarações -, além de mostrar como o maior líder americano de todos os tempos lidou com terríveis provações na sua infância, com a morte dos seus filhos e com uma Guerra Civil que exterminou a escravidão em todo território nacional.

A biografia de Lincoln ainda emociona. Por exemplo, quando, em 1876, o orador Frederick Douglass, um ex-escravo, discursou na inauguração de um monumento a Lincoln em Washington, D.C.: “nesta ocasião, necessidade de falar longamente e de forma crítica a respeito desse grande e bom homem e de sua elevada missão no mundo. Isso já foi feito à exaustão. (…) Todo o campo de fatos e fantasias já foi colhido, recolhido e armazenado. Qualquer um pode dizer coisas verdadeiras sobre Abraham Lincoln, mas ninguém pode dizer nada de novo a respeito dele.” Um discurso feito apenas 11 anos após o assassinato de Lincoln, quando não se podia dispor de um distanciamento histórico suficiente para avaliar bem a fascinação causada por uma liderança simples, sagaz e transparente, inquebrantável e determinada.

Quase duzentos anos depois, com a descoberta de novos documentos, foi possível desenvolver uma compreensão mais detalhada sobre o 16º presidente americano.

A historiadora Doris Kearns Goodwin levou dez anos para escrever Lincoln, um talento de liderança que jamais desencorajou seus auxiliares durante os períodos mais desalentadores, nunca se deixando quedar-se por provocações de pouca monta.

Seu assassinato foi semente que fecundou o solo americano, ratificando o que escreveu aos 23 anos: “Seja ou não verdade, posso dizer por mim mesmo que não tenho outra ambição tão forte quanto a de ser realmente estimado por meus próximos, tornando-me digno da sua estima”. Decididamente, um bravo!!

PS. Agir como Lincoln, não é para qualquer um. Ou para qualquer uma.

(Publicado em 17.01.2015, no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco
Fernando Antônio Gonçalves