LIÇÕES SOBRE O HOJE E O LOGO MAIS


Outro dia comentei neste site do JBF cada vez mais arretado de ótimo sobre um crescente colapso da Democracia Liberal nos quatro cantos do mundo, uma análise fantástica do sociólogo espanhol Manuel Castells, no livro Ruptura, da editora Zahar, recentemente lançado no Brasil. E faz mais de uma semana que estou enfronhado com uma leitura que complementa magistralmente o acima citado: 21 lições para o século 21, Yuval Noah Harari, São Paulo, Companhia das Letras, 1918, 442 p. Autor consagrado de Sapiens e de Homo Deus, dois sucessos mundiais, o primeiro analisando o nosso passado e o segundo buscando vislumbrar os nossos amanhãs longíquos, Harari agora busca destrinchar as questões políticas, tecnológicas, sociais e existenciais que atordoam nossa contemporaneidade, onde uma pergunta inquieta um bocado de milhões de famílias: o que devemos ensinar a nossos filhos? Num mundo de 7 bilhões de seres humanos, com preocupações muito mais agudas que o aquecimento global ou a crise da democracia liberal, uma preocupação que atordoa os mais responsáveis.

Neste seu livro último, Noha Harari analisa as grandes forças que formam as atuais sociedades mundiais, as que influenciarão o futuro do planeta como um todo. Sem pretender ser uma narrativa histórica, o livro apenas traz uma coleção de lições que não possuem respostas simples, mas que seguramente ajudarão milhões a participar de alguns assuntos do nosso tempo atual. Através de indagações públicas o autor despertam a imaginação analítica, sendo ele um dos atuais talentos planetários, residente em Jerusalém, PhD em História por Oxford, atualmente professor da Universidade Hebraica: Qual é o sentido da ascensão de Donald Trump? O que podemos fazer ante a epidemia de fake news? Por que a democracia liberal está em crise? Deus está de volta? Haverá uma nova guerra mundial? Qual civilização dominará o mundo – o Ocidente, a China, o Islã? A Europa deveria manter portas abertas aos imigrantes? O nacionalismo pode resolver os problemas de desigualdade e mudança climática? O que se faz quanto ao terrorismo?

Está comprovado que o terrorismo é tanto um problema de política global quanto um mecanismo psicológico interno, posto que o terror manipula a imagina privada de milhões de indivíduos. Principalmente numa conjuntura onde cientistas e governos estão aprendendo a hackear o cérebro humano, afetando condutas individuais e sociedades inteiras. E tal globalização afeta vieses políticos e religiosos, preconceitos raciais e de gênero, tornando-nos cúmplices involuntários da mais ampla opressão institucional.

O livro do Harari tem início com o atual impasse político e tecnológico, onde no final do século XX as grandes batalhas ideológicas entre fascismo, comunismo e liberalismo tinham como consequência a vitoriosa caminhada mundial da democracia política, dos direitos humanos e do capitalismo de livre mercado. Hoje, com o fascismo e o comunismo em total colapso e um emperramento do liberalismo, emerge uma inquietante indagação: para onde caminhamos, quando a fusão sempre crescente da tecnologia da informação e da biotecnologia poderá redundar em bilhões de seres humanos fora do mercado de trabalho, contaminando a efetividade da liberdade e da igualdade de todos?

Através do exame exaustivo dos múltiplos desafios, Harari busca encontrar respostas para as possibilidades emergidas, tateando respostas pós-verdade, tentando encontrar o que sabemos e o que não sabemos sobre Deus, sobre política e sobre religião, num tempo que não pode ser prolongado em demasia sob a ameaça crescente das armas da destruição de massa e o aprimoramento de novas tecnologias disruptivas.

O livro é composto de cinco partes interligadas: 1. O Desafio Tecnológico, 2. O Desafio Político, 3. Desespero e Esperança, 4. Verdade e 5. Resiliência. Em cada uma, um “parágrafo inicial para reflexões”. A título de aperitivo, apresentamos eles: 1. “O gênero humano está perdendo a fé na narrativa liberal que dominou a política global em décadas recentes, justamente quando a fusão da biotecnologia com a tecnologia da informação nos coloca diante das maiores mudanças com que o gênero humano já se deparou”; 2. “A fusão da tecnologia da informação com a biotecnologia ameaça os valores modernos centrais de liberdade e igualdade. Toda solução para o desafio tecnológico deve envolver cooperação global. Porém o nacionalismo, a religião e a cultura dividem o gênero humano em campos hostis e fazem com que seja muito difícil cooperar no nível global.”; 3. “Embora os desafios não tenham precedentes, e as discordâncias sejam intensas, o gênero humano pode se mostrar à altura do momento se mantivermos nossos temores sob controle e formos um pouco mais humildes quanto a nossas opiniões.”; 4. “Se você se sente impotente e confuso diante da situação global, está no caminho certo. Processos globais são complicados demais para que uma única pessoa os compreenda. Como então saber a verdade sobre o mundo, e não ser vítima de propaganda e desinformação?”; 5. “Como viver numa era de perplexidade, quando as narrativas antigas se desmoronam e não surgiu nenhuma nova para substituí-las?”

O livro do Yuval Noah Harari, lido meditativamente, e relido rabiscadamente de fio a pavio, seguramente nos possibilitará um asseio bastante salutar do nosso interior, favorecendo a separação do Deus Mesmo dos deuses que nos foram impostos ao longo da História da Humanidade. Assim sendo, permanentemente em processo continuamente crescente de enxergância, todo ser humano, capacitado para contemplar as belezas da Vida fora das cavernas impostas pelas complexas mesquinharias conjunturais, poderá, com firme convicção, solidarizar-se integralmente com seus contemporâneos, chamando-os indiscriminada e deshipocritamente de irmãos, todos oriundos de uma Energia única, de Luz Infinda.
POR QUÊ? O QUE NOS TORNA CURIOSOS
Mario Livio, Rio de Janeiro, Record, 2018, 252 p.
E buscaram responder algumas perguntas existentes no livro, esclarecendo as razões pelas quais a curiosidade é o ingrediente principal da criatividade em todos os ramos de vida, além de principal agente motivacional:
– As crianças são mais curiosas que os adultos?
– A curiosidade é um produto direto da seleção natural?
– Por que algumas questões aparentemente triviais nos deixam curiosos?
– Por que nos esforçamos tanto para decifrar os sussurros de uma conversa na mesa ao lado de um restaurante?
– Como a nossa mente escolhe os objetos de nossa curiosidade?
A leitura deste livro irresistível e muito divertido, muito poderá ampliar os hábitos de leitura e pesquisa de jovens e adultos que tremem diante de qualquer obstáculo cognitivo encontrado, acovardando-se e pondo tudo nas mãos do Criador, ampliando ignorâncias e complexos, provocando ingenuidades dos mais diferentes níveis, imaginando-se ainda os últimos da espécie.

(Publicada em 24.09.2018, no Jornal da Besta Fubana e no nosso site www.fernandogoncalves.pro.br
Fernando Antônio Gonçalves