LEÕES, FALCÕES E MARIMBONDOS


Os três animais do título, ultimamente manchetes nos principais noticiários, necessitam ser melhor observados pela gente brasileira, que habitualmente se ludibria com papos e sorrisos abraçadores, desapercebida ficando das ferrações futuras. No futebol, nos acordos internacionais, no Congresso Nacional e em alguns estados da federação, nem todos possuem a sabedoria tático-operacional revelada pelo Mário Quintana: “se um dragão terrível, soltando lavaredas pelas narinas, estiver correndo atrás de você, basta olhar para ele, fazer aquele gesto que se faz para chamar um gatinho e dizer Joli, Joli, Joli… O dragão lhe seguirá por toda parte como um cachorrinho…”. E poucos ainda percebem que os coisas-ruins são facilmente destronados por uma argumentação coletiva convincente, recheada de muito bom charme estratégico.
Nos umbrais de uma nova etapa civilizatória planetária, era que se prenuncia mundialmente reestruturadora, não se pode desapegar-se de alguns balizamentos. O primeiro deles, creio que o mais importante de todos, é o que nos revela que “nada é tão perfeito que não possa ser melhorado”. Uma melhoria a requerer muita dedicação, apreensões das lições passadas, gigantescas motivações, crescente perseverança e uma sabedoria de como derrubar os bichos perigosos, desaparafusando seus pontos tidos como fortes, reduzindo-os à menor das significâncias. Reconhecendo que essa idiotice de blindagem é conversa pra boi dormir, dada a sabedoria popular que bem sabe diferenciar zumbido de inseto e pum de gente.
Estão chegados os tempos letais para os tecnocratas que não souberem diferenciar criticidade de bajulice, ou que avaliam suas estabilidades através de amizades de colégio ou vizinhança. Serão temporadas árduas para os desatentos que ainda não assimilaram que a informação planetarizou-se, tornando-se conhecimento quando bem acessada, historicamente organizada e politicamente interpretada, sem os sectarismos tresloucados ou os adesismos de mão sempre naquilo dos superiores.
Em nossa região, outrora um reles curral eleitoral, crescentemente se amplia a consciência ética, cultivando-se um senso crítico através de um pensar mais autônomo, capaz de melhor compreender as incógnitas e os paradoxos de uma conjuntura advinda de múltiplos ontens. Onde os leões, os falcões e os marimbondos imaginavam-se imbatíveis, “imorríveis” e politicamente eternizados em seus mundinhos oligárquicos, recheados de prepotências e arroubos de nula serventia.
O segundo balizamento é quase uma decorrência natural do primeiro: “a Qualidade de Vida é um processo que contagia positivamente”. Uma qualidade que somente se danificará se vitimada por obsolescências decisórias predadoras, que ainda persistem em sobreviver regionalmente para ingenuamente atender os serpentários ainda não devidamente extintos.
Todo jovem político que ambiciona bem administrar cidadãos através de uma visão de futuro mobilizadora, deve bem compreender que errar nunca foi crime, muito embora seja abominável permanecer no mesmo engodo por muitos meses. A desmerecer algumas diretrizes estabelecidas pelo Miyamoto Mushashi, em 1584, ainda válidas para todos os futuros: “Conheça o caminho de todas as profissões; Desenvolva o julgamento intuitivo e a compreensão de tudo; Não faça nada que de nada sirva; Preste atenção até ao que não tem importância; O caminho está no aprimoramento continuado”.
Para melhor combater leões, falcões e marimbondos, não há necessidade de se tornar domador. Basta tão somente ser generoso com seus tropeços, corajoso nas suas convicções e fiel a seus princípios, assimilados de pais e avós. Sempre desconfiando dos detentores de imperiais certezas, em tempo algum embarcando na canoa furada dos que afirmam que se deve fazer apenas o que o coração mandar.
Torço por um Pernambuco pujantemente desenvolvido, por um Nordeste mais integrado no cenário nacional e por um Brasil de olhares atentos para seu crescente desabrochar como Nação Soberana. Sem acabrunhamentos, nem parlamentos desmoralizados. Conservando-se livre, leve e solto, bússola para todos os latinoamericanos, sem os conchavos acordados entre os metidos a “sabidos”, sejam eles leões, falcões ou marimbondos.