LEITURA PARA INTELIGENTES
Li o artigo O Arquiteto da Mentira, do economista Waldo Luís Viana, também analista das conjunturas brasileiras. Ele afirma sem temor: “A mentira, sem dúvida, possui uma estética, um ritual. A palavra “estética” vem do grego e significa ‘eu sinto’. Por conseguinte, a estética da mentira, o seu sentido, tem como propósito afetar diretamente nossa sensibilidade e nos convidar a não resistir…Um cultor da mentira como estética era Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, que aconselhava: ‘uma mentira, repetida mil vezes, acaba se tornando verdade’, no que relembrava Voltaire, que, no século XVIII afirmava: ‘caluniai, caluniai, alguma coisa fica.’ Contra essa estética viciosa, insurgiu-se, por sua vez, Sir Bertrand Russell, quando assinalou: ‘uma mentira, repetida por 50 milhões de pessoas, continua sendo uma mentira.’ No Brasil, temos hoje um povo que só deseja acreditar, sem reservas, em Lula.” E que ainda não percebeu que “o governo Lula não passa de um governo Fernando Henrique com cesta básica”, posto que “nunca antes na história deste país” as elites de fartaram tanto no quesito lucratividade, beneficiando-se das lulísticas políticas governamentais, eminente lá-e-lô, uma alisadinha na poderosa área financeira e um discurso de paizão para os lascados, que poderiam tornar-se bem menos lascados se o agir social fosse mais consequente, corajoso e solidário.
A explicação é fornecida pelo próprio economista Viana: “A mentira repetida à farta torna-se verdade, basta ser dilatada por gigantesca máquina de convencimento com recursos internos e externos. Para alcançar tal intento, Lula, contudo, precisa de um dócil adversário, que faça exatamente o que ele deseja. A provocação do governo está montada em torno de José Serra, o candidato mais fácil de derrotar, caso prevaleça a estética de falsa polarização. Facilmente o candidato será confundido com o passado nebuloso dos tempos de Fernando Henrique, com crises, privatizações e apagões, deixando-se para perto do pleito as tradicionais mentiras de que o povo irá perder o bolsa-família, os direitos trabalhistas, garantidos desde Vargas, e as conquistas de inclusão pelas quais tanto lutou o governo Lula. É talvez por isso que o governador de São Paulo exiba tanta indecisão em se fazer candidato: avalia os horizontes para não ser simplesmente usado, porque é muito difícil enfrentar a gigantesca máquina de propaganda e de mentiras do governo federal!”
Um livro balizaria brasileiros antenados: Nunca antes na história deste país – As frases mais engraçadas e polêmicas do presidente Lula. Seu autor, Marcelo Tas, é o apresentador do programa humorístico semanal CQC – Custe o Que Custar, também fundador da Olhar Eletrônico, produtora pioneira na renovação da linguagem televisiva.
O livro é dividido em capítulos lulísticos – o advogado, o animal politico, o comediante stand-up, o economista, o filósofo, o marqueteiro, o metamorfose ambulante, o ser humano, o técnico de futebol e o turista. Tudo bem ilustrado pelo Ricardo Gimenes, que já percorreu mundos e fundos, trabalhando com excelência.
Escolhi três facetas luláticas; a do eonomista, a do filósofo e a do turista. Ei-las em ordem correspondente: “Meu avô João Grande era tão avarento que dava tiro nos meus irmãos que roubavam melancia dele”; “Muitas pessoas, se tivessem controle emocional e consciência que seu corpo é mais leve do que a água, certamente não morreriam afogadas”; “Se pudesse, eu viajava com uma picanha pendurada no pescoço”.
Uma lição séria, dita pelo presidente, está no livro do Marcelo Tas: “Eu não brinco com democracia, porque toda vez que se brinca com democracia a gente quebra a cara. Quando um dirigente político se acha imprescindível … está começando a nascer um pequeno ditadorzinho dentro dele”.
E a oposição só faz a gente ficar apiedado com as suas construções bolorentas. Sem martelo, prego e serra …
Jornal do Commercio, 06.01.2010