JESUS E JOANA D’ARC


Conversando com o meu irmão João Silvino da Conceição, além dos comentários sobre a degradação viária que anda vitimando o Recife, agora chamada Capital das Pontes, Rios e Buracos, um assunto por ele levantado foi uma biografia de Joana D’Arc, de autoria de Daniel Spoto, um PhD em Teologia pela Universidade Fordham. A biografia de Joana D’Arc foi publicada este ano no Brasil pela Planeta do Brasil, numa tradução sem muita inspiração estilística de Rafael Leal.
Segundo João Silvino, quem já conhece a caminhada do Homão da Galiléia através dos evangelhos sinópticos e toma conhecimento da trajetória existencial da grande guerreira que foi Joana D’Arc, não deixará passar alguns sinais convergenciais das duas vidas, tomados apenas sob ângulos históricos dos acontecimentos que os envolveram.
Impressiona nos dois relatos a pusilanimidade abjeta dos letrados – religiosos, juizes, conselheiros e portadores de função decisória – diante do dinheiro, do poder estrangeiro e dos privilégios. Responsáveis pela arregimentação de falsos testemunhos e pelas violentas coações físicas e morais exercidas sem um mínimo de defesa. Até um novo julgamento foi instaurado para cada caso, as imolações já acontecidas, absolutórios ambos, como remições dos descalabros cometidos e das ignomínias praticadas contra duas personalidades que agiam radicalmente sob ditames inspiradores divinos.
O Silvino ainda alertou para algumas “evidências” acontecidas nos dois caminhares. O sentimento de “convocação” acontecido ainda em idade infanto-juvenil, a de Jesus narrada no Templo, perguntas e respostas com os mestres de então, segundo Lucas, a de Joana acontecido por volta dos treze anos; o ambiente de dominação por potências estrangeiras nos dois contextos familiares; a punição por morte, uma por crucifixão, a outra na fogueira; a instrução primária dos dois, oriundos do meio rural; as respostas inteligentemente estonteantes oferecidas aos adversários; os relacionamentos com o Alto, indeléveis, não diagnosticados até hoje com efetividade pelas Ciências Humanas; as consequências históricas revolucionárias por eles provocadas, favorecendo a evolução comunitárias; o sofrimento causado em suas respectivas mães; as acusações partidas dos cínicos e céticos – bebarrão, comilão, prostituta, descumpridores das normas eclesiásticas, etc – que muito contribuíram nas suas condenações; a covardia e a omissão de seguidores e a solidariedade manifesta até pelos das hostes inimigas.
No seu entusiasmo, o João Silvino mostra um diálogo elaborado por George Bernard Shaw, na peça teatral Santa Joana, escrita em 1923. Um dialogo “acontecido” entre Joana e um dos seus inquisidores, a explicação dela tendo uma extraordinária semelhança com algumas explicitadas pelo Homão da Galiléia, nosso Irmão Libertador. Ei-la: Diz Joana: – Ouço vozes me dizendo o que fazer. Elas vêm de Deus. O inquisidor rebate: – Elas vêm da sua imaginação. Esclarecimento fulminante de Joana D”Arc: – É claro. É assim que as mensagens de Deus vêm até nós.
Na biografia escrita por Donald Spoto, aplaudido teologo, algumas características de Joana marcam e abalam os leitores mais cabríticos, que a correlacionam com o Senhor Jesus. Selecionamos algumas :
“Joana fala claramente para a vida política do século XXI”;
“Joana lutou contra a inadequação do discurso humano para expressar o que não pode ser expressado totalmente, mas que precisa sê-lo, de alguma forma”;
“Interpretação é uma palavra que afasta muitas pessoas, como se significasse falsificação, criação ou exagero”;
“Joana não era sofisticada em termos de religiosidade ou de linguajar religioso, tampouco seguia um programa estabelecido pela Igreja de modo geral ou por alguma comunidade religiosa em particular”.
Tem ainda plena razão o biógrafo Spoto: “Joana D’Arc pode ser um poderoso símbolo contemporâneo do poder transformador da fé”.