JESUS E AS MULHERES


Parabéns à teóloga Ivone Gebara pelo ensaio Teologia Feminista – Uma Expressão da Contracultura na Religião, revista Filosofia Ciência & Vida n° 17, editora Escala. Nele, a autora ressalta que “o feminismo tem sido rejeitado pela maioria das Igrejas. Elas não abrem mão do poder patriarcal de Deus e do masculino sobre o sagrado”. E vai mais além, a PhD pela Universidade de Louvain, há décadas enraizada em terras nordestinas: “Creio que as teologias feministas continuarão a ser produzidas e a se difundir em pequena escala. Em meio às novas gerações encontramos algumas mulheres e alguns homens que não se sentem à vontade nas concepções teológicas tradicionais. Seu mal-estar continua fonte de contestação no interior das igrejas e um convite para repensar nossas crenças. Hoje, mais do que no passado, as crenças religiosas manifestam seu caráter político. O feminismo teológico aparece então como uma política plural de compreensão do ser humano e particularmente das mulheres”. Vale a pena ler o ensaio da teóloga Gebara, que “participou da elaboração e implantação da Teologia da Libertação, no Brasil, ao lado do bispo Dom Hélder Câmara, …”
Quem desejar erradicar seus arroubos machistas, também não pode descartar a leitura de uma filósofa-socióloga francesa, que há anos consagra-se ao estudo dos mitos existentes na história das civilizações, mormente aqueles que ostentam desprezo pelo feminino. Como o relatado no Gênesis, quando o autor inspirado disse que Deus declarou que não seria bom que o homem ficasse só, necessitando de alguém que o ajudasse como se fosse a sua outra metade (Gn 2,18), tirando esse alguém do próprio corpo de Adão (Gn 2,22).
O livro da francesa chama-se Jesus e as Mulheres, edição Vozes. A autora, Françoise Gange, a partir de uma análise dos escritos encontrados em Nag Hammadi, Egito, em 1945, excluídos do Cânon, como heréticos, no século IV, revela como o termo prostituta atribuído à Maria de Magdala pelos Padres da Igreja foi fruto de uma forte antipatia por uma mulher dotada de estupendo nível de discernimento intelectual, “que dialogava de modo privilegiado com Jesus nas reuniões da comunidade”. Segundo Françoise, “num texto intitulado Pistis Sophia, vê-se Jesus, tocado pela compreensão perfeita de Maria de Magdala e pela profundidade do seu pensamento, chamá-la de ‘a bem-aventurada em sua elocução.’” Declaração que redundou num pedido de Pedro ao Nazareno: a exclusão de Magdala do grupo, posto que “as mulheres não são dignas da vida”.
O texto de Françoise Gange é um convite a um revigoramento do feminino no século XXI. Se o Nazareno veio renovar a Aliança entre Deus e a humanidade, a presença feminina já deveria não mais estar satãnizada desde os primórios do cristianismo? E o desempenho de Maria de Magdala, proprietária do castelo de Magdalon, além de outro em Betânia, área próxima de Jerusalém, onde várias vezes Jesus descansou “acompanhado dos Doze”, não deveria ser aplaudido?