IBM E O HOLOCAUSTO
Um documento histórico, fruto de exaustivas pesquisas, me chega às mãos enviado por um amigo irmão gaúcho, que sempre diz, e eu concordo com ele plenamente, que as posturas capitalistas não possuem um mínimo de conteúdo ético, desde que as iniciativas delas resultem em excepcional lucratividade. Mesmo que afete milhões de seres humanos, independente de fatores geográficos, raças, religiões ou etnias.
Ignorado por mais de 50 anos, editado em 2001 pela editora Campus, IBM e o Holocausto, de Edwin Black, filho de sobreviventes poloneses, hoje residente em Washington, já teve 120 edições premiadas em 14 idiomas e 65 países, mais de um milhão de livros impressos. Consagrado como Melhor Livro do Ano de 2003, IBM e o Holocausto tem induzido análises mais aprofundadas e honestas acerca dos relacionamentos entre outras empresas americanas e o Terceiro Reich, incluindo assessorias na implementação da Solução Final nazista.
Alguns testemunhos explicitados nas páginas iniciais da edição brasileira dão mostras da importância da leitura do livro na atual conjuntura internacional, quando tecnologias mais avançadas estão sendo postas à disposição de grupos extremistas nas diversas partes do mundo. Eis uma amostra:
“IBM e o Holocausto mostra-nos como sabíamos pouco a respeito de aspectos do Holocausto sobre os quais supúnhamos saber tudo – e até onde seres humanos, mesmo ao lado dos Aliados, podiam chegar em busca do lucro.” (Shlomo Aronson, da Universidade Hebraica de Jerusalém)
“A história é ao mesmo tempo fascinante e assustadora e suscita questões sobre o lucro das empresas, às expensas de considerações morais no processo decisório. Espera-se que este livro sirva de lembrete às empresas americanas de que é preciso manter constante vigilância quanto ao apoio direto ou indireto a ditadores ou a regimes totalitários.” (Greg Bradsher, Especialista em Ativos da Era doHolocausto)
“A IBM e suas subsidiárias, conscientemente prestaram contribuição substancial para a consecução da meta inconcebível de Hitler de destruir o povo judeu. A assistência para a execução de registros perfeitos durante a guerra, como na Holanda ocupada, ou para realizações de sucessivos recenseamentos, produziu efeitos de longo alcance. Por tanto, o livro de Black não só expõe o lado desconhecido e chocante de como se perpetrou a destruição dos judeus, como também mostra a cooperação econômica mais do que questionável de uma empresa multinacional que, em todos os lugares, é uma empresa respeitada.” (Erik Somers, historiador)
“A IBM fornecia a tecnologia que possibilitou muitos dos piores excessos do Terceiro Reich. Numerosos judeus, vítimas do Holocausto, devem seu destino aos cartões perfurados e às máquinas de tabulação que a empresa de bom grado oferecia ao regime nazista.” (John Klier, professor de História Judaica Moderna, University College London).
“Este relato horripilante, que se desenrola como uma história de mistério, elevou o gabarito das expectativas quanto ao futuro das pesquisas nesse campo. A IBM será assombrada por este livro, enquanto perdurar sua presença no cenário empresarial. IBM e o Holocausto documenta um estudo de casos sobre a irresponsabilidade social das empresas e sobre a busca implacável do lucro, sem levar em conta as consequências humanas. Edwin Black nos dá motivos para indagar se os mais hediondos criminosos de guerra algum dia chegaram a ser julgados.” (Robert Urekew, professor de Ética Empresarial, University of Louisville).
“Os pilares do Holocausto e erigiram sobre a engenhosidade americana na cruzada pelo Dólar Todo-Poderoso. O sangue de meus avós, tias, tios e primos está nesse dinheiro.” (Esther Finder, Generation After).
“A IBM de fato contribuiu para o sucesso da máquina de guerra nazista e açulou a aniquilação sistemática dos judeus europeus e de outras vítimas. Eses temas relevantes deveriam ter sido abordados durante o julgamento dos crimes de guerra.” (Werner E. Michel, coronel do Exército Americano)
“IBM e o Holocausto é uma história que deve ser lida para ser compreender como Hitler e os nazistas conseguiram implementar a Solução Final para exterminar os judeus da Europa. Fomos convencidos de que ‘ninguém sabia’, mas Edwin Black prova, de forma conclusiva , que muitos sabiam e que a IBM foi o instrumento que possibilitou que Hitler fosse bem-sucedido na identificação de aproximadamente dez milhões de judeus na Europa e no genocídio de seis milhões.” (Abraham Foxman, diretor nacional da Anti-defamation League).
“Este livro é um chamado para nossa geração, prevenindo-nos dos perigos que surgem quando a tecnologia é colocada acima da ética e quando a ética de corporações multinacionais, esquecidas das consequências humanas e morais,é medida por baixo.” (Rabino David Saperstein, Religious Action Center of Reform Judaism).
Propositadamente citamos as avaliações acima com a finalidade de ampliar a consciência mundial sobre posturas capitalistas sem as devidas considerações éticas. Na Alemanha nazista, somente após o término das tabulações cruzadas e recursos organizacionais, Hitler e seus assassinos iniciaram a segregação em massa e o confisco de bens do povo judeu, utilizando o sistema Hollerith da IBM, assombrando o mundo europeu pela velocidade e precisão na identificação das vítimas do Holocausto. Tudo capitaneado por uma mente brilhante, embora sem escrúpulos, a do fundador da IBM, Thomas Watson, colaborador dos nazistas por amor ao lucro. Ou por convicção ideológica associada à sede de poder.
As 584 páginas do livro de Edwin Black não devem ser lidas sofregamente. Devem ser lidas e devidamente degustadas, embora dolorosamente, para que outros fatos deploráveis não mais de repitam, favorecendo um desenvolvimento tecnológico embasado num vigorosa ética organizacional.
Decididamente, faltaram alguns executivos de empresas no Tribunal de Nuremberg!!
(Divulgado em 27.06.2016, no www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves