HISTÓRIAS CURIOSAS DE GUERRA


Gosto que me enrosco de ler História, principalmente as de guerra. Bem escritas, nada bajulativas e com senso crítico, elas fortalecem o meu discernimento analítico, favorecendo uma melhor compreensão de determinadas conjunturas políticas, favorecendo compreensões mais acuradas sobre alienações as mais diferenciadas, principalmente as dos mais escolarizados. Vez por outra reservo um final de semana prolongado e releio acontecimentos que enalteceram ou enlamearam a dignidade humana, favorecendo autoritarismos e implantando tiranias cruéis, dos dois lados.

Entretanto, há textos narrativos que não me entristecem, muito pelo contrário. O último deles foi recebido na quinzena passada. Trata-se de Histórias Curiosas da Segunda Guerra Mundial, de Jesús Hernández, São Paulo, Madras, 2014. O autor, nascido em Barcelona, 1966, é historiador e jornalista, traduzido em mais de uma dezena de idiomas, também autor de Breve História da Segunda Guerra Mundial, Mistérios da Segunda Guerra Mundial, Operações Secretas da Segunda Guerra Mundial e Tudo que Você Deve Saber Sobre a Primeira Guerra Mundial, todos publicados pela Madras em língua portuguesa. Além de muitas outras ainda não traduzidas para a língua de Camões, inclusive uma coleção de anedotas sobre História Militar e outras tantas sobre a Segunda Guerra Mundial propriamente dita.

Para tira-gosto inicial, algumas perguntas: Você sabia que Hitler era apaixonado por Nefertiti?, que Roosevelt usou o carro blindado de Al Capone?, que os nazistas usavam falcões contra os pombos-correio?, que algumas ratazanas decidiram a Batalha de Stalingrado?, e que um bombardeiro se chocou contra o Empire State Building? Explicitemos outras curiosidades:

1. Poucos sabem que houve um segundo ataque a Pearl Harbour, acontecido em 5 de março de 1942, embora com objetivos modestos. Conta-se que dois hidroaviões Kawanishi H8k2 dirigiram-se a Pearl Harbour para lançar um pequeno carregamento de bombas. Mas devido a má visibilidade, acabaram lançando os petardos muito longe da base, sem causar qualquer espécie de dano.

2. E Charlie, um papagaio que se tornou imortal? Em 2004, um matutino britânico noticiou que um suposto papagaio de Churchill, chamado Charlie, continuava vivo. A ave se encontrava sob os cuidados de uma clínica veterinária a sudeste da Inglaterra. O referido animal era especializado em reproduzir insultos obscenos dirigidos a Hitler durante a Segunda Grande Guerra. A existência de Charlie foi posta em dúvida pela própria filha de Churchill, Mary Soames, que afirmou categoricamente ser indigna a ideia de seu pai perdendo tempo para ensinar palavrões a um papagaio.

3.Um falsificador holandês, Han van Meegereen (1889-1947), que cultivava reproduzir mestres clássicos holandês, vendeu a Goering, por intermédio de um banqueiro, um quadro de Vermeer (1632-1675). Mas em 20 de maio de 1945 foi preso pelas autoridades holandesas, acusado de ter vendido um quadro autêntico do pintor famoso, sendo liberado em 12 de julho quando declarou ser da sua autoria o quadro vendido ao burocrata nazista. Todos os especialistas consultados tinham fornecido laudos técnicos confirmando a autenticidade do quadro. Para provar, van Meegeren resolveu pintar outro quadro do artista – Jesus entre os sábios – diante de uma atenta plateia de policiais holandeses, não concluindo sua tarefa para não revelar os seus “segredos”, depois descobertos. O falsificador comprava quadros da época, raspava a pintura e utilizava fenolformaldeído para endurecer a pintura, dando aparência de vários séculos. O falso quadro vendido a Goering encontra-se hoje guardado no sótão da Galeria de Arte Holandesa.

4. O marechal Montgomery, durante a campanha do norte da África, concedia um minuto aos que assistiam suas reuniões, para que tossissem à vontade, para que ninguém, iniciadas suas explanações, sentissem necessidade de descongestionar a garganta. Muitos saíam da sala para não levar bronca do famoso militar, futuro visconde de El Alamein.

5. Um dos veículos mais aplaudidos da Segunda Guerra Mundial, de fama conservada até os tempos atuais, foi o Jipe, originário de 1939, quando o Exército americano submeteu à licitação um veículo que deveria cumprir vários requisitos, capaz de carregar 270 quilos, ter formato retangular e um mínimo de três assentos. Três empresas apresentaram propostas – a Bantam, a Ford e a Willys-Overland – a primeira tendo sido a vencedoras, embora, por problemas financeiros, seu contrato tenha sido adjudicado à Willys, que criou o modelo definitivo, a primeira unidade saindo da linha de montagem em dezembro de 1941. Após a Guerra, a Willys-Overland patenteou o nome Jipe, iniciando sua produção para uso civil até o presente momento.

Para concluir, mais duas curiosidades históricas que muita gente desconhece. 1ª. A marca do refrigerante Fanta foi criada pela divisão alemã da Coca-Cola, em 1943, ao não mais dispor do xarope concentrado que chegava dos Estados Unidos. Antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, eram vendidas, na Alemanha, cerca de cinco milhões de garrafas anuais de Coca-Cola, produzidas nas 43 fábricas instaladas no país. Uma marca que ainda não desfrutava do prestígio simbólico do american way of life, os alemães desconhecendo a origem da sua fabricação. A Fanta foi estreada com sucesso em 1943, vendendo três milhões de caixas naquele primeiro ano; 2ª. O popular hambúrguer americano se viu obrigado a mudar de nome nos EEUU, por causa da Guerra. Passou a ser chamado Liberty Steaks, eliminando a referência com a cidade alemã de Hamburgo.

Histórias curiosas que ampliam, pitorescamente, os trágicos acontecimentos bélicos de uma guerra (1939-1945) que vitimou milhões de soldados, embora contendo seus lados lúdicos.

(Publicada em 03.11.2014, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves