HISTÓRIA DESPERTADORA


Um caminheiro amigo de longa data, desde os tempos do então Ginásio São Luiz, Ponte d’Uchoa, ainda sem ensino médio, tempos de muita saudade do irmão marista Carlos Martinez, cobrão em Matemática e Latim, me consulta sobre o que deve fazer para “despertar” um neto para as Ciências Exatas. Ele, engenheiro de bom calibre técnico e um filho também engenheiro estavam tendo uma trabalheira dos inferno com um adolescente que se arrepiava todo quando números eram apresentados diante dos seus olhos. O garotão gostava de ler muito, tinha um consistente universo vocabular, um inglês de bom calibre, às vésperas de ingressar no Ensino Médio de uma escola particular de conceito acima da média, não era viciado em nada, já tendo se iniciado nos entrelaçamentos amorosos com uma muito precoce vizinha peraltinha, os finalmente não resultando em nada barrigudal.

Primeiramente, disse ao meu amigo que o ensino da Matemática, da Física, da Química e da Biologia estava muito claudicante em todos os estados brasileiros, os mais preparados sem qualquer apego para com as Licenciaturas, dadas suas inapetências para o ensino dos primeiros graus do ensino, hoje sem muitos incentivos, inclusive salariais, outras áreas se tornando bem mais sedutoras e de remunerações mais condignas. Em função disso, seria indispensável incentivar o garoto para leituras “descomplicadas” das quatro disciplinas acima, principalmente da Matemática, a base para uma profissionalidade compatível com os desafios dos tempos contemporâneos.

Depois de um café com leite e uns brioches feitos pela Melba, minha inspiração diária, indiquei para o amigo um livro que deveria ser dado sem muita lenga-lenga apologética, como se por acaso lhe tivesse chegado às mãos. E me propus até a fazer uma dedicatória para o neto dele, manifestando desejo de conhecê-lo nas atividades por ele desenvolvidas nuns joquinhos eletrônicos.

Confesso que o resultado foi muito além das expectativas. O livro, A História da Matemática, de Anne Rooney, M.Books do Brasil, 2012, chegou as mãos do adolescente com a seguinte dedicatória minha: “Para XYZ, de um amigo do seu avô, que deseja conhecer suas habilidades em jogos eletrônicos para não passar por jumento diante de um neto de 12 anos, também bom de cálculo”. Livro entregue, primeiro encontro agendado na casa do avô, eis o adolescente me ensinando alguns joguinhos eletrônicos, inclusive o FreeCell, tendo me oferecido a lhe orientar no Sudoku, uma invenção japonesa que ampliava raciocínios e favorecia a elaboração de estratégias múltiplas. Perguntei se ele conhecia a diferença entre números perfeitos e números amigáveis, endo recebido uma resposta negativa. E lhe disse que o assunto estava no livro que lhe tinha enviado, dado seus bons conhecimentos de jogos eletrônicos, a mim testemunhado pelo seu avô.

Foi a conta. O rapazinho está enfronhado no livro da Anne Rooney, que também é PhD em literatura medieval Inglesa e Francesa nas Universidades deCambridge e York, tendo sido indicada, em 2004, para o prêmio Science Prize. Que se especializou em escrever sobre diversos temas, inclusive ciências e tecnologia, sem muito “matematiquês” dos chatos de galocha.

Que tal se os colégios fizessem Grupos Magia dos Números, para fortalecer, através de iniciativas lúdicas, jamais pernósticas, a ampliação dos conhecimentos sobre uma disciplina que me foi despertada por um irmão marista, que me presenteou com um livro de Malba Tahan denominado O Homem que Calculava, até hoje em meu poder.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 22.03.2013)
Fernando Antônio Gonçalves