HIPÓTESE PARA DEBATES
Um trabalho de bom calibre técnico: Desigualdades Regionais no Brasil – Natureza, Causas, Origens e Soluções, editora Campus, 2011. O autor é pernambucano, Alexandre Rands Barros, professor adjunto do Departamento de Economia da UFPE, PhD em Economia pela Universidade de Illinois, Estados Unidos.
Na orelha do livro: “o livro traz uma hipótese para explicar o atraso relativo do Nordeste em relação ao Centro-Sul brasileiro. … O autor explica como essas diferenças se perpetuam no tempo e não diminuem apenas a atuação das forças de mercado ou políticas de suporte a empresas, como se pensava no passado. … Apresenta a hipótese de forma simples, sem recorrer ao tecnicismo exagerado que às vezes ocupa os escritos dos economistas modernos. Ao mesmo tempo, não perde o rigor de análise e recorre a apêndices mais técnicos quand necessário, de forma que a argumentação possa ser convincente também para aqueles treinados nas técnicas da economia moderna”.
As conclusões obtidas pelo Alexandre Rands, que buscou “derrubar vários mitos sobre as políticas e o desenvolvimento do Nordeste” merecem ser amplamente debatidas por estudiosos e analistas econômicos. Uma delas: “Quando se eliminam as diferenças em capital humano, seja por anos médios de estudo ou por qualidade da educação e as diferenças nas taxas de atividade das populações, além, é claro, da diferença no custo de vida, as desigualdades regionai desaparecem”. Uma outra: a de uma visão obviamente ingênua, “a ideia que permeia a maioria das visões do problema parte do princípio de que, quando os portugueses chegaram ao Brasil, provavelmente não havia desigualdade regional. Ou seja, as diversas tribos indígenas que aqui viviam tinham padrões de vida semelhantes em toda a extensão do território atual”.
O autor chama a atenção para o que ele denominou de hipóteses incompletas. E identifica cinco delas: 1. Hipótese baseada nas diferenças de capital humano; 2. Hipótese baseada nas diferenças climáticas e de solo; 3. Hipótese baseada nas diferenças em capital social; 4. Hipótese baseada no papel das amenidades; 5. Hipótese baseada em diferenças nas instituições.
Defende Alexandre Rands: “a política mais eficiente de desenvolvimento regional do Nordeste envolve a eliminação das disparidades na qualidade da educação em relação à das regiões mais desenvolvidas do país”. E aponta dois componentes: “a elevação dos gastos com educação por aluno” e “a mudança da filosofia dominante em nossa educação, ampliando o incentivo à competição e ao esforço individual”.
Fato que necessita ser explorado: o da era pós-industrial ter libertado energias escondidas, aumentando lazeres e liberdades, enormes abismos se abrindo entre os que possuem quase tudo e os que não possuem quase nada. Ações levianas e devassas cometidas, cada um desejando puxar os ganhos para suas sacolinhas. A evolução tecnológica ampliou desesperos, gerando indiferenças, quase já eliminando do cotidiano o vocábulo solidariedade.
Um livro que estimula o debate. Nunca os debatedores se olvidando da famosa advertência do economista Celso Furtado: “O quadrado da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos. Mas será que o triângulo é retângulo?”.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 07.09.2011)
Fernando Antônio Gonçalves