HÁ QUASE DEZ ANOS


Em de setembro de 2001, o World Trade Center desabou, assombrando o mundo, gerando desencontradas promessas, ameaças, esperanças e súplicas. E acusações recíprocas, atos de heroísmo, ações de um presidente demente, estupefações dos mais variados calibres, além do reconhecimento de que a nação do norte possuía pouca efetividade nos seus serviços de segurança.

Recentemente, reflexões sobre terror e terrorismo chegaram ao público brasileiro, por ocasião do lançamento de Violência ou Diálogo?, organizado por Sverre Varvin e Vamik D. Volkan, com prefácio do jornalista Marcelo Coelho. Que declara: “este livro é pródigo em descrições a respeito do que todos nós somos, talvez, capazes de fazer em situações de desamparo. Diante do fato concreto, irreparável, do atentado ao World Trade Center, é natural que alguns esquemas explicativos sejam invocados in extremis”.

No prefácio faz-se distinção entre o ódio furioso dos árabes situados no Ocidente e o ódio frio demonstrado certa feita pela Madeleine Albright, governo Bill Clinton, quando respondeu a uma pergunta da CBS sobre se o preço a se pagar era o da morte de meio milhão de crianças. Uma resposta que deve ter enfurecido o mundo árabe, dada uma arrogância inoportuna: – Acredito que é uma escolha muito difícil, mas o preço? Achamos que esse é o preço a se pagar. O que, na reflexão do Coelho, explicita “um caso de desumanização sem dúvida mais próximo de nós mesmos que as hediondas intenções de um Bin Laden”.

O livro foi proposta da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), que estruturou um GT sobre Terror e Terrorismo, logo após o atentado. Algumas questões foram postas à mesa: Em que a psicanálise pode contribuir para uma tentativa de compreender atos agressivos coletivos?; Como se mesclam psicologias individuais e psicologias de grupos religiosos, étnicos e ideológicos?; Podem psicanalistas ir além das suas funções específicas, examinando realidades políticas e sociais?; Há compartilhamento, quando das agressões coletivas, entre processos psicológicos e processos religiosos e político-ideológicos?; Como transmitir para os especialistas e o grande público, numa linguagem acessível, as descobertas mais significativas?

O livro está composto de três segmentos: um pano de fundo sobre terrorismo, levando-se em conta os papéis da religião, a questão de gênero, os processos político-sociais e a globalização. Um segundo oferece perspectivas psicanalíticas sobre variados conceitos: vitimização, desumanização e representações mentais. O último trazendo ensaios de um israelense e de um árabe, examinando o que ocorre com os que cometem “violências aparentemente desumanas”.

Segundo um estudioso, “pobreza e analfabetismo são em si indesejáveis, mas não causas originárias do terrorismo, uma vez que grande parte dos terroristas é de classe média ou de origem privilegiada, com boa educação, e as pessoas que os apoiam têm provavelmente mais instruções do que seus concidadãos”.

É hora de refazejamentos mundializantes.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 20.04.2011)
Fernando Antônio Gonçalves