GUIAS TURÍSTICOS CÓSMICOS


Do seu mundo universitário paulista, a Sissa me envia um livro que me deixou curioso por um testemunho dado, na contracapa, pelo muito aplaudido físico brasileiro Marcelo Gleiser: “Um passeio honesto, eletrizante e divertido pela história cósmica, que traz não apenas informações mais atuais, mas também os quebra-cabeças e as maravilhas da nossa busca científica pelos significados do universo”. E que ainda traz um testemunho do Publishers Weekly: “Esta é a publicação sobre cosmologia mais informativa, original e compreensível desde o lançamento de Cosmos, de Carl Sagan, há mais de 30 anos”.

Bingo!! Falar de Carl Sagan (1934-1996), professor de astronomia e ciências espaciais da Cornell University, autor de um livro cativante chamado Variedades da Experiência Científica – uma Visão Pessoal da Busca por Deus, SP, Companhia das Letras, 2008, onde o autor demonstrava, como nos seus demais textos publicados – um deles chamado O Mundo Dominado pelos Demônios, SP, Companhia das Letras, 2012, 6ª. reimpressão -, uma preocupação com o vírus do analfabetismo científico. Que atualmente favorece a ampliação dos fundamentalismos religiosos nos quatro cantos do mundo. Daí o acerto da Sissa em me enviar o presente que ela ofereceu como “leitura de férias juninas, com todo carinho”. Um presente ouro de lei, repleto de muita estima amorosa.

O livro Origens: catorze bilhões de anos de evolução cósmica, SP, Planeta do Brasil, 2015, é de autoria de dois talentosos pesquisadores, Neil deGrasse Tyson e Donald Goldsmith. O primeiro é mundialmente conhecido pela excelência das suas pesquisas e pela sua atuação como divulgador da ciência, sendo diretor de um dos principais planetários do mundo, o Hayden, em Nova York. O segundo é astrônomo, PhD pela Universidade da Califórnia em Berkeley, também com vários livros de sucesso publicados.

No livro Origens, Tyson e Goldsmith nos conduzem pelos mundos das fantásticas galáxias das estruturas cósmicas, também pelo quase infinitesimalmente microscópico começo da vida. Inspirado na série de televisão de mesmo nome, os autores se lançam num notável empreendimento, o de mostrar como “nossa verdadeira origem não é apenas humana ou terrestre, mas cósmica”.

Servindo como aperitivo, um prefácio e uma Introdução chamada A Maior História já Contada trazem informações basilares: 1. Tem surgido, florescendo sempre, uma nova síntese do conhecimento científico, posto que, nos últimos anos, as respostas sobre nossas origens cósmicas não têm vindo unicamente do domínio da astrofísica; 2. Os astrofísicos têm reconhecido que áreas emergentes como a astroquímica, a astrobiologia e a astrofísica de partículas podem tirar proveito da infusão colaboradora de outras ciências, favorecendo uma resposta cada vez mais segura à pergunta “De onde viemos?”, incrementando intuições nunca dantes explicitadas; 3. Os seres humanos ampliam sua fascinação pelas suas origens por razões lógicas e emocionais; 4. Vivemos num grão de areia cósmica, que orbita uma estrela medíocre nas longínquas periferias de um tipo comum de galáxia, entre cem bilhões de outras; 5. Diferentes culturas, ao longo da nossa história, têm produzido mitos da criação, explicando nossas origens, como resultado de forças cósmicas que formam nosso destino, que muito nos ajudam a evitar os sempre depressivos sentimentos de insignificância; 6. Os filósofos gregos insistiram que possuímos a capacidade de perceber o modo como a natureza opera, bem como as verdades fundamentais que regem o mundo; 7. Toda ciência necessita de um ceticismo organizado, de uma dúvida contínua e metodológica; 8. Para quase todos os cientistas, pratica um ato nobre aquele que corrige erros de colegas, comprovando que a ciência não foi criada para ser uma sociedade de admiração mútua; 9. Diante de toda evolução científica, as pessoas têm reagido de quatro maneiras: umas adotam o método científico como uma maneira de melhor compreender o universo; outras ignoram a ciência, julgando-a desinteressante; outro grupo procura desacreditar os resultados científicos que enraivecem ou incomodam; e outros aceitam a abordagem científica, mantendo ao mesmo tempo uma crença em entidades sobrenaturais; 10. Há uns 14 bilhões de anos, no início do tempo, todo espaço, toda matéria e toda a energia do universo cabiam dentro da cabeça de um alfinete.

Muitos desconhecem ainda que, há uns 65 milhões de anos, um asteroide de 10 trilhões de toneladas atingiu o que agora é a Península de Yucatán, eliminando 70% da flora e da fauna do solo da Terra, inclusive todos os dinossauros que dominavam aquela época.

E inúmeros universitários di Ciências Humanas ainda hesitam em admitir que o universo teve um início e que continua a evoluir, sem desejarem assumir uma verdade mais que verdadeira: não estamos simplesmente no universo, somo parte dele!!.

Uma leitura encantadora, o livro Origens. Desabestalhante por derradeiro, em muito ampliando as enxergâncias daqueles que buscam associar Ciência e Fé. Seus autores, verdadeiros guias turísticos cósmicos, têm consciência plena de que “cada novo caminho do conhecer anuncia uma nova janela sobre o universo – um novo modo detector a ser adicionado à nossa crescente lista de sentidos não biológicos”.

A Sissa fez um gol de placa, desejando ter a companhia de alguém intelectualmente mais apetrechado, universal por derradeiro. Diante dos seus incentivos, procurarei sair dos meus índices cósmicos analfabéticos, ainda que continuando cristão por derradeiro!

(Publicado em 27.07.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com)
Fernando Antônio Gonçalves