GEBARA E A TEOLOGIA URBANA
Se eu pudesse, enviaria ao arcebispo Saburido, às vésperas da chegada do bispo auxiliar, aguardado com múltiplas esperanças, o recentemente publicado Teologia Urbana: ensaios sobre ética, gênero, meio ambiente e a condição humana, da teóloga Ivone Gebara, SP, Fonte Editorial, 2014. Uma seleção de crônicas organizada por Zwinglio M. Dias, extraída da revista ecumênica Tempo & Presença.
Ivone Gebara é uma freira católica, nascida em São Paulo em 1944, de ascendência sírio-libanesa, integrante da ordem das Irmãs de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho, onde ingressou aos vinte e dois anos, após a conclusão da graduação em Filosofia. Lecionou durante quase 17 anos, ao lado de Dom Hélder Câmara, no Instituto Teológico do Recife, criado pelo arcebispo em 1968, fechado em 1989, por decisão do Vaticano, ao se aproveitar da aposentadoria do Dom. Vive desde 1973 no Nordeste, residindo em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. Em 1990 foi processada pelo Vaticano por criticar a doutrina moral da Igreja, sendo condenada a dois anos de silêncio forçado, período que aproveitou para obter seu segundo doutorado, em Ciências da Religião, pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica, onde produziu o livro Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal.
Seu livro Teologia Urbana: ensaios sobre ética, gênero, meio ambiente e a condição humana se compõe de sete partes: Sobre a Condição Humana, Sobre o Fazer Teológico, Questões de Gênero, Sobre a (In)Tolerância, Sobre Ética e Religiosidade, Sobre a Dimensão da Pobreza e Sobre Questões Ambientais. E num dos ensaios, intitulado O Que Há de Novo?, fruto de um bate-papo com amigos e ex-alunos, acontecido há alguns anos, Gebara respondeu uma das perguntas – O que há de novo companheira? – da seguinte maneira: “Não sei. Penso que não há nada de novo sob o sol a não ser os novos dias que nascem e morrem e a reprodução da maldade do coração humano. Que mau humor!! Que pessimismo!! Posso até reconhecer meu estado atual … Mas, que dizer de novo do humano, homem/mulher que nasce hoje e fenece amanhã… Tenho vontade de chorar, de gritar e até de ficar com mais raiva que o profeta Amós (cap. 5) – ‘Eu odeio e desprezo as vossas festas, não gosto de suas reuniões, não me agradam as vossas oferendas’ … ‘Afastem de mim o ruído de vossos cantos e o som de vossas harpas’ … ‘Ficai com os deuses que vocês fabricaram e com os símbolos que carregais em seu nome’. Estou quase farta dessa tragicomédia sem saída à vista!”.
O livro da Gebara nos ajuda a cantar mais resolutamente: “apesar de vocês, amanhã há de ser um novo dia…”. De um Chico que deve inspirar Francisco.
(Publicado em 29.12.2014, no site do Jornal da Besta Fubana –
www.luizberto.com
Fernando Antônio Gonçalves