FUNHANHAR


A pré-candidata à Presidência da República, Senhora Dilma Rousseff, declarou ante-ontem a um jornal paulista: “Quando a gente assumiu o governo em 2003, o Brasil estava em uma situação periclitante, um treme-treme. Estava funhanhado. Estava mesmo. Tremelicando, tremelicando”.

O alerta me foi dado por uma amiga querida, a Edne, que me enviou eletronicamente o trecho acima, indagando se eu conhecia o significado do verbo funhanhar.

Cheguei à conclusão que tal verbo não existe nos dicionários brasileiros mais consagrados, muito embora no Dicionário Informal da Internet é, vez por outra, citado o verbo afunhanhar, significando caber, empurrar dentro, trepar, transar, fazer sexo. Já para tremelicar, o Dicionário Houaiss revela seu significado: tremer em consequência de frio, susto ou medo; tiritar, estremecer. Sinônimos: tremelear (mostrar-se hesitante, titubear, hesitar , mostrar-se vacilante ao falar; exprimir-se de maneira hesitante; gaguejar; revelar perplexidade.

Telefonei para o amigo-irmão José Arnaldo, educador de mancheia, encarecendo a ele o sentido semântico de um verbo que principiava a me deixar perplexo, posto que palavrão não deveria ser, desde que o termo foi pronunciado por uma ex-ministra que teria principiado uma pós-graduação numa universidade consagrada, a de Campinas, São Paulo.

Por e-mail, ele me disse que já tinha ouvido certa feita um popular dizer para um companheiro de escolaridade equivalente: – Ô meu, você anda funhanhando muito, nos últimos dias? E que teria recebido como resposta: – Brother, eu funhanhei, funhanhei, funhanhei mas não consegui terminar. Tive de tirar um pouco de dentro para poder dar uma descansada. E que ouviu, certa feita, uma jovem em trajes de banho, desses que explicita quase tudo, inclusive o tamanho do funhanhado, declarando para uma companheira de banho de mar que “hoje eu não estou afunhanhando nada nem tremelicando….hoje eu estou…prostrada, abolida, acaçapada, alhanada, apagada, arrasada, bombardeada, esfacelada, abatumada, desanimada, macambúzia e sorumbática! E com uma dor de cabeça insuportável também”.

Tenho quase certeza que a ex-ministra Dilma Rousseff tinha consciência plena do que estava falando, conhecedora da reflexão notável do mestre pernambucano Paulo Freire, “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. E também não deve ter esquecido o Mário Quintana, poetaço gaúcho, que um dia escreveu que “Quando duas pessoas fazem amor / Não estão apenas fazendo amor / Estão dando corda ao relógio do mundo”. Em outras palavras, dando corda ao relógio do mundo, enquanto estão funhanhando bem muito.

A ex-ministra tem todo o direito de se expressar como bem quer e entende. Ainda não se encontra entronizada nos direitos e deveres do PCB – Primeiro Cargo Brasileiro. Mark Twain alertava que “daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte suas amarras. Afaste-se do porto seguro. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra”. E eu acrescentaria, afoitamente, ao que disse o Mark Twain: – E quando tiver descoberto, não tenha receio de fanhanhar com quem quer que seja, divertindo-se com todas as coisas boas, como se fosse a primeira vez.

Se eu tivesse oportunidade, enviaria à ex-ministra Dilma Rousseff, algumas recomendações que utilizo em atividades gerenciais, possibilitando-lhe uma defesa segura contra os fanhanhamentos de uma campanha política, onde também estarão atuando vampiros de olheiras e santinhas de meio ambiente, entre dezenas de outros candidatos que apenas concorrem para funhanhar os horários políticos gratuitos da televisão. Seriam eles:
1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser boa;
2. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
3. A força mais destrutiva do mundo é a da fofoca.
4. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.
5. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.
6. Nunca tenha medo de tentar algo novo.

No mais, é recordar sem pestanejar a advertência de Bertolt Brecht: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”.

A maior de todas as invenções humanas é o processo criativo, a capacidade de criarmos novas realidades. Que a Madame Dilmá, como dirão os franceses, nunca menospreze a lição filosofal: “Se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela”. Sempre funhanhando bem muito.

(Portal da Globo Nordeste, 10.06.2010, Blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves