FÓRUM DIÁLOGOS


As lideranças religiosas integrantes do Fórum Diálogos – Fórum da Diversidade Religiosa em Pernambuco, juntamente com outras entidades organizadoras, promoveram no dia 26 de março próximo passado, na Universidade Católica de Pernambuco, o Seminário Ensino Religioso em Pernambuco, com o objetivo de discutir e contribuir para a efetivação da legislação educacional para o ensino religioso em Pernambuco, principalmente a partir da Resolução CEE-PE N° 05, de 9 de maio de 2006, que “dispõe sobre a oferta de ensino religioso nas escolas públicas do Sistema de Ensino do Estado de Pernambuco, regulamenta os procedimentos para a definição dos conteúdos e as normas para habilitação e admissão dos professores e dá outras providências”.

Na abertura do evento, a convite do meu amigo Gilbraz Aragão, teci algumas considerações sobre o tema principal do seminário, iniciando minha fala contando dois pequenos fatos. O primeiro aconteceu recentemente em Londres, numa escola de mensalidade gorda, onde o médico inglês Ronald Gibson, dissertando sobre conflitos de gerações começou sua exposição citando quatro frases: 1-” A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.”; 2- ” Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nossos país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.”; 3- “O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.”; 4- “Esta juventude esta estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como antigamente… A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.” Diante dos aplausos entusiásticos dos presentes, o Dr. Ronald Gibson revelou as origens das frases: a primeira é de Sócrates (470-399 A.C); a segunda é de Hesíodo(720a.C. ); a terceira é de um sacerdote do ano 2000 A.C.; e a quarta estava escrita em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilônia e tem mais de 4000 anos de existência. A “pegadinha” surpreendeu toda a assembleia, que percebeu a longevidade dos conflitos existentes no mundo.

O segundo fato foi testemunhado por Joseph Campbell (1904-1987), uma das maiores autoridades no campo da mitologia do século XX, notável contador de histórias. Estava ele no Japão, num congresso internacional sobre religião, quando ouviu um diálogo entre um delegado norte-americano, filósofo social em Nova Iorque, e um monge xintoísta. O norte-americano disse: – Assisti já um bom número de suas cerimônias e vimos alguns dos seus santuários. Mas não chego a perceber a sua ideologia. Não chego a perceber a sua teologia. O japonês fez uma pausa, mergulhando em profundo pensamento, e então balançou lentamente a cabeça e disse: – Penso que não temos ideologia. Não temos teologia. Nós dançamos.

Sendo um trans-ecumênico, linha helderista, considero radicalmente significativas todas as religiões, acreditando que nenhum delas é mais importante que as demais. Lamentavelmente, não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos mais interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Estamos aprendendo tecnologias, estamos acumulando informações. Mas não estamos transmitindo sabedoria de vida, diante da forte tendência por especializações. O generalista é um termo depreciativo no mundo acadêmico.

Um novo mundo surgiu sob o signo da dromologia (ciência da velocidade). E o tempo é global, um tempo único. Mundialização veloz. Cenário de parto civilizatório. E razão plena tem Helen Keller, uma das minhas maiores admirações terrestres: “A ciência pode ter encontrado a cura para a maioria dos males, no entanto ainda não encontrou o remédio para o pior de todos – a apatia dos seres humanos”. E essa apatia se amplia celeremente fomentada por alguns complicadores profissionais: ausência de uma fascinação pelo futuro; arrogância e autoritarismo, com proselitismo de quinta categoria, imbecilizante; cultura de fingimento difundida pelas redes sociais; azedume geriátrico, afastando os mais talentosos dos mais idosos sempre saudosos.

Concluí minha breve exposição, reproduzindo o pensar de um poeta-padre, Daniel Lima, que partiu recentemente para eternidade, deixando uma saudade imensa entre amigos e admiradores: “Antes, vivia na certeza, / como uma águia aprisionada na gaiola. / A dúvida me libertou / deixando-me voar no espaço livre, / não mais certo de nada / senão da importância do voo.” E mais: “A esperança é o horizonte. / O desespero é o muro. / E a vida é o horizonte além do muro. / Eu vivo de horizontes. / Não chego, mas caminho./ Não encontro, mas busco. / Ainda não sou, vou sendo”.

Estou plenamente convencido da efetividade de cinco balizamentos existenciais: as oportunidades se encontram, no mais das vezes, no meio das dificuldades; sozinho, não se chega a lugar algum, assim proclamando Esopo: “Quem se acha o tal termina valendo menos que o esperado”; jamais alimente porcos com pérolas; o que se tira da Vida é o que se coloca na Vida; e saber sempre que o sucesso é maior quanto se sabe enxergar.

Que o Fórum Diálogos sempre produza bons frutos, sem os ademanes acadêmicos e os chiliques fundamentalistas que atravancam todo progresso analítico das crenças religiosas, todas elas agradáveis à Criação, nenhuma delas sendo superior às demais.

(Publicada em 31.03.2014, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves