FONTES DE IGNORÂNCIAS


Lendo o livro último do filósofo Olavo de Carvalho, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, recentemente lançado pela Record, deparei-me com uma crônica de título acima, onde ele faz uma constatação calamitosa: “Não há nada mais difícil do que fazer alguém tomar consciência da sua inconsciência progressiva.”

O Carvalho explicita que o termo “cultura” é erroneamente utilizado por quase todo mundo como “artes e espetáculos”, quando nele estão sintetizadas três funções básicas: dar um bocado de dinheiro aos que as produzem, divertir o povão e servir de caixa de ressonância para a propaganda política. E lembra ainda que foi num Festival de Paraty que uma escritora irlandesa, Edna O’Brien, avisou aos brasileiros que Chico Buarque de Holanda não fazia parte da literatura, embora nos cursos superiores daqui sejam produzidas teses sobre Chico, e também Caetano, ignorados ficando por completo, inclusive pelos docentes, talentos literários brasileiros como Rosário Fusco, Osman Lins e José Geraldo Vieira. Atordoando-se os cursos de letras quando se pede análise sobre um poema de T.S.Eliot ou um estudo comparativo entre Claudel e Valéry. E sentencia Carvalho sem dó nem piedade: “A alta cultura simplesmente desapareceu no Brasil – desapareceu tão completamente que já ninguém dá pela sua falta”.

Ressaltando que não conhece ninguém que não tenha opiniões sobre política norte-americana além de artigos de jornais, comentários televisivos e entrevistas de rádio, Olavo de Carvalho ressalta como a elite brasileira é sistematicamente enganada diagnosticando as situações, tomando desastrosas decisões estratégicas, tornando-as mais dependentes, sem autonomia soberana política, envolvendo-se nos subterrrâneos das espionagens desprimorosas, muitas delas produzidas pelos próprios maiorais do lado de cá em benefício dos lados imperialistas.

No artigo, um exemplo de desinformação graúda: quem tenha lido as investigações feitas por Jerome Corsi, Brad O’Leary e Webster Griffin Tarpley, antiobamistas declarados, sobre a vida pregressa de Barack Obama, sabia que ele usaria, eleito, “o prestígio da própria nação americana para dar respaldo ao antiamericanismo radical dentro e fora dos EUA; que no Oriente Médio, isso significaria sonegar apoio a Israel e aceitar pacificamente o Irã como potência nuclear; na América Latina, elevar Hugo Chávez, as Farc e o Foro de São Paulo ao estatuto de árbitros supremos da política continental”. O resultado foi que ninguém leu nada sobre os assuntos, ficando impregnada na mente do público brasileiro uma visão de Barack Obama como um moderado progressista, um novo Kennedy ou Martin Luther King, imagem engabeladora por derradeiro.

Para o Brasil bobão, Obama é o Cara do lado de lá. Para mim, ele é um enganador dos caras do lado de cá.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 04.10.2013
Fernando Antônio Gonçalves