FILOSOFIA COM HUMOR


Já disse mais de uma vez, para gregos e troianos, que mantenho um pé atrás diante dos que não possuem senso de humor, puritanosos e moralistas que se imaginam superiores a todos os demais mortais. Tenho uma alergia gota serena dos que se imaginam sócios de Deus, principalmente dos que se acham sósias do Absoluto.
Quando o assunto é Filosofia, então, a imagem que me vem à cabeça é a de um sujeito sisudo, cabelos desgrenhados, unhas pouco polidas, olheiras de viciado em leituras esotéricas, dessas que levam uns trinta minutos para juntar duas frases.
Nos meus tempos de Colégio Marista, as aulas de Filosofia eram ministradas pelo padre Arnaldo, de excepcionais virtudes, pensador dos ótimos, fingido ar de brabeza em coração de criança muito amada. Mas o livro recomendado, Regis Jolivet, não era atraente nem para os que iriam fazer Engenharia, tampouco os que se destinavam à Medicina. Pouco sedutor, inclusive, para os que se submeteriam ao vestibular de Direito, ainda que de leitura obrigatória, por conta dos silogismos e argumentos outros que deveriam ser apreendidos para a prática forense de então.
Hoje, o ensinar Filosofia tornou-se bem menos traumatizante, muito embora alguns docentes, por postura pra lá de nostálgica, persistam em ensimesmar-se como galo sabido e único perante seus derredores acadêmicos, como se travestidos estivessem de Epicuro, Epicteto e outros filosofauros, companheiros dos peripatéticos.
Estudar Filosofia, pelo menos suas estruturas básicas, é um dever para todos aqueles que desejam possuir uma profissionalidade consolidada num pensar desabobalhante. Os compêndios tornaram-se didáticamente saborosos, seus autores mais capacitados para um expor sedutor dos assuntos específicos.
Outro dia, recebi um Compêndio de Epistemologia – John Greco e Ernest Osa, Loyola, 2008 -, contendo dezessete ensaios sobre tópicos centrais da epistemologia, escritos propositadamente para não-especialistas e o público instruído. Seus autores possuem erudição e acessibilidade. Um volume de mais de setecentas páginas, de excelente desenvolvimento expositivo. Junto com ele, veio um outro livro de Filosofia, duzentas e poucas páginas, escrito por dois diplomados por Harvard, que desejavam comprovar que as diversas partes da Filosofia – Metafísica, Lógica, Epistemologia, Ética, Filosofia da Religião, Existencialismo, Filosofia da Linguagem, Filosofia Social e Política, Relatividade e Metafilosofia – poderiam ser ensinadas utilizando-se o humor como indispensável condimento didático. Intitulado Platão e um ornitorrinco entram num bar …- filosofia explicada com senso de humor, o livro foi escrito por Thomas Cathcart & Daniel Klein, editado pela Objetiva, 2008. E todo o texto é dedicado a Groucho Marx, carinhosamente chamado pela dupla de avô filosófico, que um dia resumiu da seguinte maneira a ideologia básica: “Estes são meus princípios. Se você não gostar deles, tenho outros”.
Apenas como tira-gosto, ressalto três historinhas extraídas do livro de Cathcart e Klein. A primeira é sobre Lógica. “Vendedor: – Madame, este aspirador de pó vai reduzir seu trabalho à metade. Cliente; – Ótimo! Me dê dois.” A segunda é da área de Epistemologia: “Uma mulher comunica à polícia que seu marido desapareceu. Pedem uma descrição e ela diz: – Ele mede 1,85m, musculoso, com cabelos fartos e encaracolado. A amiga diz: – O que é isso que você está dizendo? Seu marido mede 1,60m, é careca e tem barriga imensa. A mulher: – E quem vai querer esse de volta?”. A terceira se relaciona com a relatividade do tempo: “Um caracol foi assaltado por duas tartarugas. Quando a polícia perguntou o que aconteceu, ele disse: – Não sei, foi tudo tão rápido!!”.
As demais historinhas, eu as deixo para o leitor deste Portal, quando saborear o livro. Um trabalho que desabestalha, facilitando a compreensão do mundo, deixando todos com uma irressistível vontade de quero-mais.