FENÔMENOS MÓRBIDOS
Alguns fatos recentes: na França, terroristas assassinam cartunistas famosos e mais algumas pessoas; No Brasil, um sujeito sacode o carro violentamente contra outro num estacionamento de um shopping, por causa de uma vaga não preenchida; outro mata 39 pessoas, declarando-se ter uma impulsividade vinda do além; namorados drogados matam os pais dormindo; adolescente inquieto é assassinado por madrasta com a cumplicidade do companheiro e de uma amiga; assassinatos, nos EEUU, de crianças de menos de 12 anos, 57% deles praticados pelos próprios pais ou padrastos; sequestro de crianças; decapitação animalesca de prisioneiros. Fatos identificados como “fenômenos mórbidos” por Antônio Gramsci, pensador marxista italiano, expulso do PCI porque era independente demais.
Uma das razões das tragédias acima citadas deve-se apenas a uma causa: o aumento de inépcia emocional, desespero e inquietação na família, nas comunidades e demais ambientes sociais do mundo, favorecendo a ampliação dos casos de depressão, de suicídios, de adolescentes que vão armados para a escola, de drogados e hedonismos individualistas radicalmente incivilizados, espelhados numa competitividade sem qualquer postura ética. Inclusive os fundamentalismos religiosos, como se Deus fosse um ser implacável e vingativo, a incutir ideologias mórbidas em todas as denominações religiosas.
Uma questão sobrepaira sobre as angústias do cotidiano: como podemos levar Inteligência às nossas emoções, civilidade às nossas ruas e envolvimento cidadão à nossa vida comunitária? Como libertar as mentes dos trogloditismos individualistas, que apenas imaginam-se ganhar sempre, pouco se importando com os desequilíbrios emocionais provocados pela “ofelimidade” (desejo de ter) dos que nunca usufruíram?
Conto, vez por outras, uma historinha que muito dignifica a raça humana, muito embora sua repetição se encontre cada vez mais rarefeita. Ei-la, para os que nunca a leram:
Chamado de Fleming, era um pobre fazendeiro escocês, de recursos financeiros espremidos, a feira semanal resultando num esforço danado para ajuntar uns trocados. Um dia, quando trabalhava para ganhar a vida e o sustento dos seus, o estropiado escocês escutou um desesperado pedido de socorro, vindo de um pântano situado nas proximidades dos seus hectares.
Largando de pronto suas ferramentas de lavorar, Fleming correu até o local do pedido de SOS. Lá chegando, testemunhou um menino atolado até a cintura, envolvido por uma lama negra movediça, atemorizado, tentando se safar da morte que o rondava. Por meio de uma corda, Fleming livrou o garoto de um terrível final vida.
No dia seguinte, uma carruagem de luxo, puxada por seis portentosos cavalos árabes, chega à precária habitação do fazendeiro. Aberta a porta pelo cocheiro, eis que fidalgo elegantemente vestido desce, se apresentando como o pai do garoto resgatado.
– Eu quero recompensá-lo pela sua bravura solidária, disse o nobre. Você salvou a vida do meu filho mais velho, o herdeiro maior dos meus bens.
– Não, eu não posso aceitar qualquer pagamento pelo que fiz, respondeu o mais que nobilíssimo fazendeiro, recusando a oferta.
Naquele momento, um dos filhos mais novos do fazendeiro chegou à porta do casebre, chamando a atenção do nobre visitante.
– É seu filho? perguntou o fidalgo.
O “sim” do fazendeiro foi pronunciado alto e bom som, orgulhosamente, com a certeza de ter sido contemplado com a mega-sena do Criador.
– Permita-me, então, meu amigo, que eu lhe faça uma proposta concreta. Deixe-me levar seu garoto para lhe oferecer uma educação de boa qualidade. Se o jovem possuir o seu caráter, ele se tornará um profissional de muito bom conceito, tornando-se um homem admirado, do qual você terá muito orgulho.
Consentimento dado, tempos depois eis que o filho do fazendeiro Fleming laureou-se no St. Mary’s Hospital Medical School de Londres, tornando-se mais tarde conhecido no mundo como Sir Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, a salvação de milhões de pessoas.
Anos depois, eis que outro filho do nobre adoece gravemente, vitimado por uma braba pneumonia. O quadro clínico, bastante sombrio, prenunciava um desagradável desenlace. Felizmente, para alegria imorredoura do ricaço, uma terapia à base de penicilina livrou o jovem da moléstia. A penicilina descoberta pelo cientista Alexander Fleming, o filho do fazendeiro escocês pobre.
O nome do nobre? Sir Randolph Churchill. O nome do filho dele? Sir Winston Churchill, um dos maiores fenômenos políticos de todos os tempos.
Alguém disse, certa feita, que a gente colhe o que a gente planta. Quem planta mesquinheza, colhe mesquinheza. E os que semeiam grandezas, colhem generosidades múltiplas.
Tenho uma forte admiração pelos que sabem sobrepujar os narcisismos selvagens dos incapazes. E os que possuem criatividade mínima, posto que portadores de nula enxergância. Que desconhecem que é a jornada, jamais a chegada, que importa, devendo-se nela embarcar todos aqueles que, sabendo fazer a hora, nunca esperam acontecer.
O propósito da vida é sobreviver para conquistar, evitar tensões desnecessárias, saber perder para ganhar posteriormente, sacudindo a poeira e dando a volta por cima, para desesperança daqueles que, de alma pequena, jamais chegarão à Pasárgada do pernambucaníssimo Manuel Bandeira, para quem “Em Pasárgada tem tudo / É outra civilização / Tem um processo seguro / De impedir a concepção / Tem telefone automático / Tem alcaloide à vontade / Tem prostitutas bonitas / para gente namorar.
PS. VIVA CHARLIE HEBDO !!!
“A indignação, a revolta, o luto e as lágrimas se impõem.
Mas que não se perca o sorriso.
Tristes são os assassinos.
Nosso é o sorriso da liberdade, da esperança e da razão”.(Editorial FSP, 08.01.2015)
Diante da barbárie terrorista acontecida em Paris, Eu também sou Charlie, vou avisando desde já pra sempre!!!
(Publicado em 12.01.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com
Fernando Antônio Gonçalves