FATOS NADA SURPREENDENTES
Outro dia, numa livraria bem frequentada do Recife, donde sou cliente há mais de vinte anos, deparei-me com o Bituca, colega meu do Ginásio São Luís, hoje Marista, ele um ano mais adiantado, atualmente formado em Direito e vidrado em leituras plurirreligiosas, pesquisador das múltiplas crenças existentes no passado e as ainda sobreviventes nos quatro cantos do planeta.
Examinava ele um exemplar do romance espírita O Agênere, de Ângelo Inácio (psicografado por Robson Pinheiro), Contagem MG, Casa dos Espíritos, 2015, 380 p., merecedor de múltiplos elogios de leitores espíritas e não-espíritas.
Acompanhado de um auxiliar de seu escritório, Bituca definia para ele o que era um agênere: “uma aparição em que o desencarnado se revestia da forma mais precisa, das aparências de um corpo sólido, a ponto de causar completa ilusão ao observador, que supõe ter diante de si um ser corpóreo.” E detalhava mais, mostrando um texto de autoria de Tereza Cristina D’Alessandro, de março de 2005, extraído de consulta feita por ele no Google: “Esse fato ocorre devido à natureza e propriedades do perispírito que possibilitam ao Espírito, por intermédio de seu pensamento e vontade, provocar modificações nesse corpo espiritual a ponto de torná-lo visível. Há uma condensação (os Espíritos usam essa palavra a título de comparação apenas) tal, que o perispírito, por meio das moléculas que o constituem, adquire as características de um corpo sólido, capaz de produzir impressão ao tato, deixar vestígios de sua presença, tornar-se tangível, conservando as possibilidades de retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível. Para que um Espírito condense seu perispírito, tornando-se um agênere, são necessárias, além da sua vontade, uma combinação de fluidos afins peculiares aos encarnados, permissão, além de outras condições cuja mecânica se desconhece. Nesses casos, a tangibilidade pode chegar a tal ponto que é possível ao observador tocar, palpar, sentir a resistência da matéria, o que não impede que o agênere desapareça com a rapidez de um relâmpago, através da desagregação das moléculas fluídicas. Os seres que se apresentam nessas condições não nascem e nem morrem como os homens; daí o nome: agênere – do grego: a privativo, e géine, géinomai, gerado: não gerado, ou seja, que não foi gerado. Podendo ser vistos, não se sabe de onde vieram, nem para onde vão. Não podem ser presos, agredidos, visto que não possuem um corpo carnal. Desapareceriam, tão logo percebessem a intenção diferente ou que os quisessem tocar, caso não o queiram permitir. Os agêneres, embora possam ser confundidos com os encarnados, possuem algo de insólito, diferente. O olhar não possui a nitidez do olhar humano e, mesmo que possam conversar, a linguagem é breve, sentenciosa, sem a flexibilidade da linguagem humana. Não permanecem por muito tempo entre os encarnados, não podendo se tornar comensais de uma casa, nem figurar como membros de uma família.”
E pediu a cada um de nós que consultasse a Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos – 1859, fevereiro, p. 49, editada pela EDICEEL, que traz o seguinte exemplo: “Uma pobre mulher estava na igreja de Saint-Roque em Paris, e pedia a Deus vir em ajuda de sua aflição. Em sua saída da igreja, na rua Saint-Honoré, ela encontrou um senhor que a abordou dizendo-lhe: – Minha brava mulher, estaríeis contente por encontrar trabalho? – Ah! Meu bom senhor, disse ela, pedia a Deus que me fosse achá-lo, porque sou bem infeliz. – Pois bem! Ide em tal rua, em tal número; chamareis a senhora T…; ela vo-lo dará. – Ali continuou seu caminho. A pobre mulher se encontrou, sem tardar, no endereço indicado – Tenho, com efeito, trabalho a fazer, disse a dama em questão, mas como ainda não chamei ninguém, como ocorre que vindes me procurar? A pobre mulher, percebendo um retrato pendurado na parede, disse: – Senhora, foi esse senhor ali, que me enviou. – Esse senhor! Repetiu a dama espantada, mas isso não é possível; é o retrato de meu filho, que morreu há três anos. – Não sei como isso ocorre, mas vos asseguro que foi esse senhor, que acabo de encontrar saindo da igreja onde fui pedir a Deus para me assistir; ele me abordou, e foi muito bem ele quem me enviou aqui.”
Na Revista em apreço, sendo o Espírito São Luiz consultado, ele ministrou as seguintes orientações: “Não basta a vontade do Espírito; é também necessário permissão para ocorrer o fenômeno; existem, muitas vezes na Terra, Espíritos revestidos dessa aparência; podem pertencer à categoria de Espíritos elevados ou inferiores; têm as paixões dos Espíritos, conforme sua inferioridade; se inferiores buscam prazeres inferiores; se superiores visam fins elevados; não podem procriar; não temos meios de identificá-los, a não ser pelo seu desaparecimento inesperado; não têm necessidade de alimentação e não poderiam fazê-la; pois seu corpo não é real.”
E o próprio Bituca relembrou o que está contido no Evangelho de Lucas 24,13-33, quando o Senhor, após caminhar com dois discípulos a caminho de um povoado chamado Emaus, desapareceu quando, convidado para cear, após abençoar o pão que estava à mesa.
Marcamos um novo bate-papo para quando o romance espírita acima citado for lido pelos três, quando debateremos outros agêneres que perambulam nos quatro cantos de um planeta que anda meio conturbado, influenciado por poder, dinheiro, dominação e conquistas, sem atentar para as forças dos espíritos do mal que estão a necessitar de um bom combate, para libertação de uma tragédia mundial há muito tempo já anunciada.
(Publicado em 10.07.2017 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br.)