ESQUERDA SEM MUTRETAS
Docente de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor titular muito respeitado, Reinaldo Gonçalves, infelizmente não-parente meu, deve ser classificado como um pesquisador de esquerda sem as babações e pegajosas falsidades dos que as cometem quando se trata de propagandear os dois mandatos do ex-presidente Lula da Silva. Como economista e renomado analista econômico, Reinaldo Gonçalves não se deixou cooptar pelas boquinhas oferecidas pelo governo, tampouco se envolvendo nos jantares fastuosos proporcionados pelos apaniguados do poder.
Em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, o jornalista Clóvis Rossi ressalta como Gonçalves cumpriu seu papel de intelectual comprometido com a realidade dos fatos. E explicitou algumas conclusões após estudos exaustivos efetivados por ele sobre dados quantitativos coletados no IBGE e no Fundo Monetário Internacional. Que desmontam várias propagandas oficialmente pagas, espalhadas pelas mídias nacional e estrangeira, visando fortalecer a imagem do Lula, um autoclassificado salvador da pátria, protetor dos mais fracos financeiramente e também benfeitor dos altíssimos manipuladores dos fundos capitalistas tupiquinins e de além fronteiras, hoje palestrante muito bem remunerado por instituições refinadas. Apresentado como um gestor lá-e-lô como nunca houve antes na história do Brasil.
As conclusões do Reinaldo Gonçalves são bastante verazes, não totalmente favoráveis à imagem divulgada do outrora carente nordestino filho do Brasil. Quatro são os pontos principais averiguados pelo economista da UFRJ, realçados pelo Clóvis Rossi em seu artigo na Folha de São Paulo: 1. Os 4% de crescimento médio do governo Lula colocam-no apenas em 19° lugar no campeonato nacional de progresso econômico, entre os 29 presidentes desde a proclamação da República; 2. Quando começou o governo Lula, o Brasil representava 2,9% do PIB mundial. Quando terminou o governo Lula, o Brasil representava 2,9% do PIB mundial. Portanto, estagnou na competição global. E ficou longe dos 3,91% de 1980; 3. Em matéria de variação comparativa do PIB, no período 2003/2010, o Brasil fica em humilhante 96º lugar, entre 181 países. Está no meio da tabela e abaixo até da média mundial de crescimento, que foi, no período, de 4,4%; 4. Em matéria de renda per capita, a do Brasil evoluiu de US$ 7.547 para US$ 10.894, entre 2003 e 2010. Mas sua posição no ranking mundial só piorou. Estávamos em 66º lugar e caímos para 71º.
O jornalista Clóvis Rossi conclui o seu artigo com uma nota picante: “Só para cutucar o cotovelo dos argentinofóbicos, a renda per capita da Argentina é cerca de 50% maior que a do Brasil, com seus US$ 15.064. E ela melhorou, do 61º lugar para o 51°”. E sem qualquer babaovismo proclama com sua independência jornalística: “Não quer dizer com toda a numeralha que o governo Lula foi um desastre. Ao contrário. Mas tampouco foi o milagre que a sua propaganda apregoa. Simples assim”.
No raiar deste século, mandei um recado carinhoso para a minha então pequenina neta Mariana, única à época no pedaço. Reproduzo-o, por achar que ele tem tudo a ver com as andanças do ex-presidente: “Seja generosa com seus tropeços, corajosa nas suas convicções e fiel a seus princípios. Desconfie sempre das imperiais certezas e jamais embarque na canoa dos que afirmam que se deve fazer apenas o que o coração mandar. E nunca se esqueça do que disse o Marquês de Maricá: ‘A mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranqüilidade, sendo a passividade sua filha predileta’. Na construção das suas utopias, evite cometer três falhas gritantes: a de desejar possuir uma visão que forneça um quadro perfeito do futuro; a pressuposição de que o hoje lhe presenteará com um mapa abrangente do amanhã; e a de que é dispensável garra incomum e férrea vontade para compreender as incógnitas e os paradoxos dos tempos futuros”.
Como o ex-presidente Lula não aprecia muito passar uma vista d’olhos pelas páginas de livros, jornais e revistas, certamente ele nunca leu as recomendações do Marquês de Maricá, Mariano José Pereira de Fonseca (1773-1848), político carioca, escritor e filósofo, que foi Ministro da Fazenda, tendo antes se consagrado Doutor em Matemática, aos vinte anos, na Universidade de Coimbra. Das suas tiradas, duas caberiam como uma luva na pretendida trajetória conferencística do ex-presidente: “Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir”; “Se as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam os mais instruídos”.
Advertências talvez desnecessárias, dadas as novas funções do ex-presidente, que mais uma vez surpreende seus aplaudidores em sua vocação de analista, tida como gota serena de ótima. Que antevê até 2012 e 2014. E também quem será o substituto do presidente Barak Obama.
(Publicada em 14/03/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves