ESQUERDA SEM FUTURO


As forças progressistas deste Brasilzão deveriam ler o livreto-bofetada Por Uma Esquerda Sem Futuro, de T.J.Clark, crítico inglês, lançado pela editora 34.

Depois de 2008, quando da crise do capitalismo mundial, a esquerda nulificou sua criatividade. Inclusive a brasileira, intelectualizada e metida a salvadora do mundo, quando não contempladora do próprio umbigo e salafrária, sempre a emular uma direita facistoide, travestida de séria.

O livro é voltado para o mundo europeu, buscando ver suas forças progressistas abdicar das noções messiânicas de futuro, gerando, no presente, estruturais ideias restauradoras, nunca assistencialistas, cativadoras e exequíveis, sem jamais desconhecer as consequências terríveis dos totalitarismos XX, evitando cretinas infantilizações debiloides numa era de um capitalismo de consumo ainda de muito fôlego alienatório.

Uma crise da modernidade catapulta a nulidade atual da esquerda, tema estudado pelo autor, gerando nele um inquietante questionamento: “será que ainda temos à mão os materiais com os quais se constitui uma sociedade digna do nome?” Uma questão que poderia ser complementada: será que já conhecemos os materiais de uma sociedade pós-moderna, capazes de favorecer uma cidadanização mundial que assegure direitos e deveres para todos os rincões demográficos, erradicando ganas que ampliam as mais-valias que se explicitam diante de uma minoria extasiada pelas mídias as mais anestésicas?

A esquerda está despreparada para enfrentar a situação de crise, incapacitada para apresentar um programa alternativo de política econômica que contemple de forma efetiva as alternativas para uma superação a longo prazo.

E o autor conclui: “O que tenho para dizer, por fim, é que não haverá um futuro sem guerras, pobreza, pânico malthusiano, tiranias, crueldade, classes, horas improdutivas e todos os males que constituem a natural herança da carne, pois não haverá futuro nenhum; só um presente em que a esquerda (sempre acuada e marginalizada, sempre – e com orgulho – uma coisa do passado) se esforça para reunir o ‘material para uma sociedade’ que Nietzsche pensava ter desaparecido da terra. E isso é uma receita de ação política, não de quietismo – de uma esquerda capaz de encarar o mundo”.

O ex-presidente Lula disse, outro dia, que os jovens não devem “ficar putos” com a política, mas ingressar nela. À parte a expressão bastante “erudita” para uma liderança que anseia voltar, o melhor mesmo é apreender a lição de Edgar Morin: “Os incessantes desenvolvimentos tecnocientíficos permitem entrever possibilidades transformadoras prodigiosas, tanto na natureza biológica do ser humano, como nas do mundo animal e vegetal, na natureza das próprias técnicas, na natureza do conhecimento; essas transformações afetariam a própria natureza do indivíduo, da sociedade, da espécie”.

Cidadanização libertadora, sim!! Sem as embromações dos boçais tecnocratas que fingem ser especialistas educacionais.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 10.08.2013
Fernando Antônio Gonçalves