ESPERANÇA NAS INCERTEZAS


Estou convencido que o século 21 será classificado, na História da Humanidade, como o século das encruzilhadas nunca alternativas. Cem anos onde as opulências gritantes terão novos endereços, a crescente exclusão social será cada vez mais explicitada por manifestações de violências desvairadas, o ar cada vez mais poluído. Retratos de desesperos extravasados pelos contrastes emulados pelos noticiários televisivos e internéticos, que noticiam estratégias perversas, algumas até religiosas, além de incontáveis engabelações políticas e infindas experiências científicas sem as devidas precauções éticas. Para não se falar das assassinas incursões militares das potências dominantes e os também criminosos atos terroristas, duas faces de uma mesma moeda chamada destruição. Tudo a gerar inseguranças, individualismos de sobrevivência, niilismos e aversões irreprimíveis às convivialidades mínimamente sadias. Que confirmam denúncia célebre de Martin Heidegger, a de que “o mundo já nada pode oferecer ao homem esmagado pela angústia”. E que parece contaminar cada vez mais intensamente as faixas etárias próximas da juvenilidade, que já assimilaram o estabelecido por Alberto Einstein: “As pessoas que, como nós, acreditam na física, sabem que a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão espantosamente persistente”.
Apegando-se às tecnologias, desprovidas todas, porque não poderiam ser diferentes, de qualquer calor humano, o mercantilismo contemporâneo ainda não apreendeu a lição de Paulo apóstolo, na Carta aos Romanos: “Transformem-se pela renovação da suas mentes”. E não sabendo separar essência de circunstância, se vê lambuzado de temores, não levando na devida conta os conceitos vivos que devem ser enaltecidos.
Uma estratégia salutar para ampliar esperanças num mundo aparentemente sem saída é a da prática de boas leituras. As que não trazem receitas infalíveis. Nem apelam para os emocionalismos que embotam energias engatinhantes, desmoronando inseguros sensos críticos e nulificam as binoculizações preliminares dos que ensaiam seus primeiros passos. Leituras que iluminem interiores, despertem sonhos, alimentem trajetos diferenciados dos cotidianos enferrujados pelo sempre igual.
O mais recente lido do Harold Kushner lançado no Brasil, Quem precisa de Deus? A busca de um caminho de esperança em meio às incertezas do novo milênio, Editora Arx, destina-se àqueles que desejam respostas para suas perplexidades século 21. Para melhor contemplar derredores, ternurando mais amizades, famílias e colegas, sem nada pretender de retornos vantajosos. Jamais encarando as religiões como inimigas da honestidade, do progresso e da ciência.
As indagações do Kushner são cutucativas: acreditar em Deus faz diferença?; com que olhos estamos vendo o mundo?; por que está fragilizado o fogo sagrado?; por que algumas coisas são tidas como erradas?; o que está acontecendo com os que estão morrendo de solidão?; as pessoas modernas sabem orar?; e por que é tão difícil encontrar Deus? Questionamentos que auxiliam os enfrentamentos dos vazios espirituais de cada um, embora não sensibilizem, inúmeras vezes, os que se encontram inebriados pelo poder e pelo sucesso, imaginando-se indestronáveis. Sócios de Deus. Ou até sósias.
Como adepto do pluralismo religioso, acredito que a leitura do Kushner proporcionará a mesma alegria alcançada quando da leitura de Quando Tudo Não é o Bastante, também de sua autoria. Um livro que, um dia, alterou os meus passos existenciais. Um presente recebido de Filipe Carlos Albuquerque, advogado gota serena de bom.
PS. Ciência e Fé, eu as considero irmãs siamesas intercomplementares. A nós cabendo o papel de agentes disseminadores das partes. Com ampla enxergância, percebendo como a história sempre se reenergiza de esperanças.